segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Debate da Rede Record favorece mais os candidatos do que o público

Entre os debates presidenciais produzidos até aqui na atual campanha, o de ontem, na TV Record, tinha tudo para ser o mais quente. A proximidade com as eleições, o acúmulo de acusações mútuas entre todos ou quase todos os candidatos contribuiriam e muito para isso. Mas o formato adotado pela emissora não ajudou. Cada candidato só podia responder a uma pergunta. Com apenas três candidatos na competição e quatro figurações, houve momentos de puro tédio. Além disso, ao permitir  pouquíssimo tempo para que cada um desenvolvesse um raciocínio, o clima não foi favorável a levantar fervura. Eram 30 segundos de réplica e o mesmo para a tréplica. O reloginho gritando no canto da tela  serviu como uma barreira para que o debate esquentasse de verdade transformando os ataques em tiros telegráficos.
Adriana Araújo e Celso Freitas comandaram a noite. A participação dos mediadores ficou restrita à observação “Seu tempo acabou candidato” ou ainda “O senhor não terá direito de resposta” (no caso de Dilma Rousseff, campeã de pedidos do tipo).
Por causa do aperto do tempo, aquilo que exigia respostas mais extensas caía no raso. O grande momento do debate, e também o mais triste e constrangedor, aconteceu na hora em que Luciana Genro, escapando à retórica pomposa que embrulha o discurso político, quis saber de Levy Fidélix o que ele pensa sobre união homoafetiva. Na pergunta de Luciana, um aviso que merece a atenção do leitor, pois descreve em parte o que ocorre nos debates: “Não vou fazer conversa de comadre contigo”, disse ela. E ele fez a plateia rir (quando deviam ter vaiado) e as redes sociais entrarem em revolta com uma frase de dar engulhos: “Aparelho excretor não reproduz”. Provando por que é “nanico”, ainda conclamou a acabar com a pouca-vergonha (para ele, a homossexualidade): “Vamos ter coragem, somos maioria”.
Aécio esteve seguro, teve boa participação principalmente quando o tema foi a Petrobras;  Marina recebeu e revidou os ataques de Dilma com dignidade e segurança. A presidente estava de novo com seu inseparável caderninho em que em muitos momentos lia disfarçadamente suas respostas.
A opção da Record pela câmera fechada nos candidatos quase o tempo inteiro por um lado permitiu ao público de casa observar mais de perto as suas reações. Mas com um ônus grave: teve o efeito de reduzir a dimensão do espetáculo. Saber quem está onde é, também e acima de tudo, informação. O espectador que ligou a TV no meio do programa teve que esperar o intervalo para enxergar o palco inteiro. A tela dividida, na hora das perguntas e respostas entre candidatos, foi outro recurso mal resolvido. A colagem artificial das imagens fazia parecer que estavam lado a lado pessoas que, na verdade, se encontravam afastadas. Quando a palavra cabia a Eduardo Jorge a coisa ficou pior ainda, porque ele gesticula mais do que os outros e avançava na tela para um plano que não era captado pela câmera.
Não tem jeito. Enquanto a legislação eleitoral não mudar, dando às emissoras a possibilidade de fazer bom jornalismo, os debates servirão mais aos candidatos do que aos eleitores. Prova disso é a participação dos jornalistas, com certeza, única no gênero no mundo: perguntam mas não podem replicar. Algo constrangedor. Melhor não se submeter a isso. Com uma lei assim, ainda não será nessa eleição que os brasileiros assistirão a um debate livre.


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