quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Diretor de Teledramaturgia da Rede Globo enfrenta autores e acerta com "Eta Mundo Bom!"

A Rede Globo deveria estar exibindo atualmente, no horário das 18h, uma novela chamada "Trem Bom". Apesar do nome parecido com "Eta Mundo Bom!", teria em comum apenas a trilha sonora. A trama seria sobre dois irmãos que formariam uma dupla sertaneja, e Michel Teló poderia ser o protagonista. Mas, após ler os primeiros capítulos, Silvio de Abreu, diretor de dramaturgia diária da Globo, resolveu jogá-los no lixo, apesar do risco de comprar uma briga barulhenta com Aguinaldo Silva, padrinho do autor de "Trem Bom", Maurício Gyboski.
Escaldado pelos tropeços de "Babilônia" e "A Regra do Jogo", novelas realistas, o experiente Silvio de Abreu optou por investir em "Eta Mundo Bom!", o suprassumo do escapismo, sobre um caipira que tem um burro como melhor amigo e que, apesar dos coices da vida, não perde o otimismo.
Verdade que não há muito risco em apostar no sucesso de uma novela de Walcyr Carrasco. Porém, além de dizer não para uma novela que já estava aprovada havia quase um ano, Abreu teve que furar a fila dos autores escalados para escrever na faixa das seis e colocar Carrasco na frente - isso quando o autor estava no ar com "Verdades Secretas", no meio do ano passado. Se optasse por não criar problemas com os colegas e mantivesse a ordem pré-estabelecida, Abreu descartaria a trama de Gyboski e colocaria no ar uma de Benedito Ruy Barbosa.
O resultado é que "Eta Mundo Bom!" está registrando o melhor início de uma novela das seis desde 2010. A novela estrelada por Sérgio Guizé estreou com 26 pontos e emendou 24 no capítulo seguinte. A Globo produziu dez novelas das seis desde "Araguaia", de Walther Negrão, a última a começar com 26 pontos.
Essa não é a primeira intervenção de Silvio de Abreu no comando artístico das novelas da Globo, cargo que assumiu há menos de dois anos. Depois de trocar "Trem Bom" por "Eta Mundo Bom!", ele promoveu "Velho Chico", que seria a novela das seis da vez, ao próximo título das 21h, tomando o lugar de "Sagrada Família", que já estava toda escalada e quase pronta para começar a ser gravada. A fuga de tramas realistas (no caso, também política demais) orientou a troca de "Sagrada Família", de Maria Adelaide Amaral, por "Velho Chico", de Benedito Ruy Barbosa, saga shakespeareana de duas famílias nordestinas que se odeiam.  
Na semana passada, Abreu operou mais uma intervenção na teledramaturgia global, que viu sua hegemonia ameaçada no ano passado por Os Dez Mandamentos, da Record. A pouco mais de uma semana do início das gravações, ele afastou Marcia Prates, a autora de "Liberdade, Liberdade", próxima novela das onze da emissora, no ar a partir de abril. Colocou no lugar dela Mário Teixeira, que, a princípio, seria o terceiro supervisor da trama. Liberdade, Liberdade, sobre a vida da filha de Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira, tinha sérios problemas históricos e dramatúrgicos, detectou.
As medidas de Silvio de Abreu podem parecer truculentas para alguns. Mas, para boa parte dos artistas da emissora, estão passando outra mensagem: que a dramaturgia da emissora, depois dos sustos de 2015, tem um comando, não está à deriva. E, a julgar pelos primeiros números de "Eta Mundo Bom!", um comando que sabe o que está fazendo.





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