domingo, 10 de janeiro de 2016

"Não tinha essa noia de ficar gostosona", diz Alice Wegmann, a Cecília de "Ligações Perigosas"

Sem titubear. Pode-se dizer que Alice Wegmann (foto), aos 20 anos, é uma mulher segura de si e com pensamentos claros sobre sua posição hoje na sociedade. Em uma entrevista surpreendente, a protagonista Cecília, da minissérie "Ligações Perigosas", fala sobre cenas de nudez, primeiro beijo e machismo: “A forma como somos fortemente vistas como objetos sexuais é injusta”.

Como é assumir o papel de uma protagonista na minissérie "Ligações Perigosas", aos 20 anos?
É uma responsabilidade enorme, mas também uma oportunidade muito especial. A história é baseada em um clássico francês, que já teve diversas adaptações. Então, o peso era ainda maior. Queria fazer a minha Cecília da melhor forma possível, e pude contar com a ajuda de ótimos profissionais que possuem um conhecimento aprofundado sobre o romance.


Teve algum receio ao ser chamada para esse papel, que deve ter sido um papel bem disputado?
Sim! Eu tinha acabado de receber o convite para outro trabalho, mas uma intuiçãozinha me fez dizer não. E aí, quando chegou o convite para "Ligações Perigosas", foi uma surpresa feliz, mas ao mesmo tempo assustadora. Como jogar junto com pessoas tão mais experientes? Não sabia como ia fazer a Cecília, e não queria desapontar ninguém. E é um personagem complexo, difícil. Não queria que Cecília fosse estereotipada; uma menina "nhem-nhem-nhem". E acho que consegui encontrar um caminho interessante para ela.


Em uma cena da trama, uma amiga ensina Cecília a beijar, estimulando sua sexualidade. Na vida real, como foi a tensão pré-primeiro beijo? Treinou no espelho? Teve ajuda das amigas?
Eu estava numa colônia de férias, foi fofo. Sob um céu estrelado e com amigas divertidas por perto. O mais legal não foi o antes, foi o depois! Quando me despedi do menino, fui correndo pro chalé, para contar para as meninas. Foi bem bonitinho.


Cecília é uma menina ingênua. Em que momento ela perde essa ingenuidade?
Um pouco depois de perder a virgindade, em uma das conversas com a tia. Cecília confia muito em Isabel (Patrícia Pillar) e a escuta com atenção. É a tia que ajuda a quebrar um pouco essa ingenuidade. O engraçado é que, ao mesmo tempo, a Madame é perversa e falsa com Cecília.


Você se identifica com a personagem em quais situações?
Acho que nós duas somos muito curiosas (de jeitos diferentes, mas somos). Eu adoro conhecer gente nova, saber da vida das pessoas — não de forma intrometida, mas se alguém sentar do meu lado e contar toda a sua história, vou adorar. Sou uma pessoa interessada nos outros, e acho que isso ajuda na profissão. No caso da Cecília, ela está conhecendo o mundo. Acho até que sua curiosidade fala mais alto que a ingenuidade, e por isso ela acaba por fazer todas as coisas que vem a seguir, nos próximos capítulos!


Com quantos anos você deu seu primeiro beijo?
Não lembro muito bem, acho que estava na quinta série.


Quando era mais nova, se achava mais namoradeira ou gostava de sair e ficar com vários meninos?
Eu sempre gostei muito de me apaixonar. Gosto de romances que me deixam com frio na barriga e brilho nos olhos; e nunca fui de ficar com gente que não conhecia nas festas.


Seus pais falaram algo sobre suas cenas de nudez?
Eles só disseram algo do tipo "Vai que vai, filha! Estamos com você. Arrebenta!" Hahaha! Meu avô é meio conservador e algumas cenas o incomodam. Mas ele torce muito por mim e acaba fazendo um esforcinho.


Já se decepcionou com alguém na vida real? Como foi saber que havia sido enganada?
Sim, mas não guardo rancor. Acho que a vida é muito curta pra isso. Se me decepciono, bola pra frente. Acredito que a pessoa que me decepcionou pode me surpreender pra melhor de alguma forma, algum dia.


Como foi fazer as cenas sensuais com Selton Mello?
Eu fiz cenas com ele, com o Jesuíta Barbosa e com o Leopoldo Pacheco. Os três são profissionais seríssimos que eu admiro muito, e foram super respeitosos e parceiros em cena. Eram cenas sutis, não ficávamos tão expostos.


Algumas atrizes usam dublê nas cenas mais picantes. Você usou dublê?
Hahaha! Não!!!


Você passou por alguma transformação corporal ao saber que seu corpo poderia ficar exposto nas cenas?
Nada. Só segui o plano do dia a dia da minha nutricionista normalmente, mas não tinha essa nóia de ficar gostosona. Estava até meio sem saco para padrões de beleza. Estava tão bem comigo mesma e feliz com tudo o que estava acontecendo.


Como você trata essa questão da virgindade hoje em dia?
Acho algo tão normal! É uma fase bonita na vida da menina, ou da mulher. E acho que merece que seja com uma pessoa especial.


O que você acha das pessoas que têm a ideia de casar virgem?
Acho que cada um tem que fazer o que quiser da sua vida e parar de criticar tanto o outro, olhar mais para si. Quem quiser casar virgem, case! Quem não, não.


Você já declarou ser feminista. Qual a maior luta hoje travada pelas feministas?
Acho que já tivemos diversas lutas importantíssimas e muito marcantes, como a conquista do direito ao voto na Inglaterra (vale ver o filme "As Sufragistas"). Mas toda luta é importante, e a nossa de hoje em dia tem se mostrado cada vez mais poderosa. Até a redação do ENEM fez as pessoas pensarem sobre o assédio, o abuso. É um momento onde as mulheres (e muitos homens, também!) estão dando as mãos e juntando mais força.


Como mulher, quais direitos você ainda acha que elas devem conquistar?
O modo como nos julgam é injusto (por que o homem quando pega três no mesmo dia é galã e a mulher que pega três é piranha?). A discrepância dos salários é injusta. A forma como somos fortemente vistas como objetos sexuais é injusta (basta ver qualquer jornal americano). Os padrões de beleza são injustos. A forma como nos vestimos não pode ser motivo de assédio. Uma coisa é elogiar com respeito e carinho, a outra é invadir, gritar "gostosa!" na rua. A maneira como os homens são dominadores e muitas vezes não deixam as suas namoradas saírem com uma roupa porque estão "parecendo uma periguete com esse batom vermelho". A forma como diminuem a gente dizendo algo como "até que você (…..) para uma mulher!". Não somos melhores que ninguém, só queremos ser tratadas da forma que merecemos, com respeito e dignidade.


Acha que a sociedade é machista? Por quê?
É claro! Porque isso é, erroneamente, algo que está enraizado na nossa cultura. E, claro, não só na nossa, mas na maioria das outras.


Como está sua relação com seu namorado Pedro Malan?
Muito boa. Pedro é um encanto, um companheiro e parceiro de vida maravilhoso. É maduro, estudioso, inteligente, e me apoia muito nas minhas escolhas e nos meus trabalhos. Tudo fica melhor com ele por perto.


Você é uma mulher linda. Em que momentos você se olha no espelho e gostaria de mudar tudo?
Obrigada! Nunca tive vontade de mudar tudo, talvez uma coisa ou outra, mas a vontade de me aceitar sempre fala mais alto. Eu gosto de mim com eu sou. Me acho meio musculosa por conta da ginástica olímpica, acho que isso atrapalha no vídeo, mas fazer o quê? Os oito anos que eu pratiquei esse esporte foram importantes para minha vida e ajudaram a construir a Alice de hoje, então não me arrependo.


Qual parte do seu corpo que você mais valoriza?
Os olhos. Falo muito com o olhar. Dá pra ser doce, sexy, atenta, curiosa… Está tudo neles.


Na trama, Cecília corta o cabelo numa fase de transformação. Você já fez alguma mudança radical que tinha fundo emocional? Quando e qual?
Não! A única grande mudança que fiz foi cortar bastante e pintar o cabelo de castanho e escuro para a minha primeira personagem na TV. Tenho vontade de deixar o cabelo crescer bastante e cortar para doar, mas isso vai depender dos próximos papéis!


O que o público pode esperar de surpresas nos cinco próximos capítulos de "Ligações Perigosas"?
Um bloco primoroso, com cenas riquíssimas, sensuais, e bastante intensas. Sugiro assistirem com um lencinho do lado. Pode ser que role um chororô.


Quais seus desejos para o ano de 2016?
Desejo mais otimismo para as pessoas, acho que falta um pouco disso. Desejo menos preconceito! Mais paz, mais amor, mais escolas e hospitais funcionando, mais gente trabalhando feliz. E desejo que as pessoas se ouçam mais! Para mim, espero que seja um ano tão bom, ou até melhor que 2015. O pé direito já deu a largada, com a minissérie. Ansiosa para os próximos meses!






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