quarta-feira, 5 de outubro de 2016

"A Lei do Amor", novidade das 21h da Rede Globo, é novelão na veia

Estreia de anteontem na Rede Globo, “A Lei do Amor” abraçou com força o modelo do mais clássico folhetim. E se deu muito bem. Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, os autores, ambientaram a sua história na fictícia São Dimas, cidade de interior ladeada por uma represa. Numa mesma margem dela, cruzam-se milionários e miseráveis. O maniqueísmo, um tradicional propulsor das telenovelas, assim como a paixão à primeira vista e a tensão social, puxaram o capítulo. Não é demérito algum, ao contrário. O Brasil ama o gênero e sabe reconhecer seus recados instantaneamente.
Já nas primeiras cenas, Hércules (João Vitor Silva), um playboy, derrubou a canoa da mocinha Helô (Isabelle Drummond), que pescava o próprio almoço — e o do pai alcoólatra e desempregado, e da mãe, doente. Ela foi socorrida por Pedro (Chay Suede). Se apaixonaram, claro.
Reunir Isabelle e Chay equivale a fazer uma aposta sem riscos. A dupla de jovens talentos iluminou a tela sempre que apareceu. E não só eles. Nesse primeiro capítulo, Tarcísio Meira (Fausto Leitão) estava totalmente em casa no papel de um patriarca sólido, alguém que foi ingênuo na juventude, mas deixou para trás qualquer idealismo para avançar sem hesitações em direção à construção de um patrimônio gordo. Por isso, não dá ouvidos a Pedro quando ele pede que ajude o pai de Helô, seu ex-funcionário. Apesar disso, mostra um certo espírito crítico quando fala de Hércules, o outro filho, preguiçoso e mau-caráter. Outro ponto forte do elenco foi Vera Holtz, Magnólia, mulher de Fausto, a vilã carola. Também colaboraram para a noite Denise Fraga (Cândida), em breve participação, e Maurício Destri (Ciro), interpretando uma figura sinistra, um puxa-saco com propósitos irrevelados que transita pela casa dos ricos.
Os diálogos deixaram claras as intenções dos autores em opor o bem e o mal, sem nuances nem reservas. O problema é que um primeiro capítulo exige que se faça a apresentação dos personagens. E essa combinação de forças soou didática em vários momentos e pesou. Foi o caso da cena de Pedro e Helô no barco, quando ele disse que “A vida pode ser um banquete” e ouviu dela que “Só tenho a minha fome”. Como se não bastasse, em seguida, Jorge (Daniel Ribeiro) surgiu reclamando: “Não tem pão, não tem leite, não tem nada para comer”. Há outras maneiras de se expor um enredo, mas, no caso de “A Lei do Amor”, todas as escolhas foram as mais tradicionais. Talvez seja uma mostra de que a Globo esteja preferindo evitar grandes saltos artísticos em favor de caminhos já conhecidos. Denise Saraceni (que divide a direção-geral com Natália Grimberg) mostrou a competência de sempre. Os atores estavam bem-conduzidos, a sequência da quermesse foi bonita e as aéreas da represa, idem.
Antes de encerrar, fica uma pergunta: por que a insistência em narrar histórias divididas em fases? É algo que a emissora vem repetindo bastante desde “Em Família” — e nem sempre com sucesso. De novo, mal o público tiver absorvido a trama e construído laços com esses personagens que estão no ar hoje, quase tudo vai mudar. E isso ainda significa a criação de um parâmetro de comparação dentro de uma mesma produção. Trata-se também de um passo que pode desmontar conexões ainda recém-estabelecidas. É caso de acompanhar e torcer para que a segunda fase, nos próximos dias, também empolgue.







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