De acordo com pesquisas recentes feitas pela TV Globo, o público de dramaturgia não anda muito interessado em tramas realistas. “A nossa rotina já é dura demais” costuma ser a justificativa para isso. “Velho Chico” (foto acima de Rodrigo Santoro), de alguma forma, trouxe a fábula de volta ao horário nobre. O Sertão, a beira do São Francisco, o Brasil profundo não são ficção, claro. Nem a organização social no mundo coronelista, algo que resiste hoje de uma forma ou de outra e com ampla capilaridade. Mas a realização de Luiz Fernando Carvalho faz sonhar. E a história de Benedito Ruy Barbosa tem muitas chances de agradar com essa mistura de realidade árida com estetização.
A forma como a novela vem sendo produzida diz tudo dessa combinação. Durante as gravações — que duraram meses em mais de uma cidade do Nordeste — a equipe de figurino (Thanara Schörnadie) foi montando um acervo grande. Parte do que estava nos cabides veio do Rio, criações fabricadas no Galpão, no Projac. Mas essas peças se somaram a outras, usadas, obtidas nas locações. A cenografia adotou a mesma prática. Eles construíram muitos do móveis e objetos que vemos no ar. Mas há ainda camas, mesas e cadeiras surradas garimpadas no caminho. Com isso, os ambientes ganharam uma credibilidade que faz a diferença.
O método de trabalho deles fica evidente na tela. A estética de “Velho Chico” reflete essa mescla do Sertão do noticiário com o Sertão das histórias do folclore brasileiro. Essa conjugação de forças tem potencial. O público poderá se identificar com o que é real, enquanto embarca na fantasia. Vamos ver o que vem aí na segunda fase.
PS: Na crítica da estreia, faltou um elogio à trilha linda (produção musical de Tim Rescala). Vai aqui com atraso.