quarta-feira, 9 de julho de 2014

"Minha função é criar problemas", diz "serial killer" Bruno Gagliasso

Aos 32 anos, Bruno Gagliasso (foto) já pode escolher o que fazer na Rede Globo. Disputadíssimo por autores e diretores, ele descartou convites para as próximas novelas das nove ("Império") e das sete ("Alto Astral") para fazer um serial killer em "Dupla Identidade", série escrita por Glória Perez, com 12 episódios que não lhe darão a mesma visibilidade nem os cachês para comerciais e eventos que os folhetins proporcionam. 
"Sempre fui fascinado por séries. Eu gosto de personagens intensos, eu gosto de personagens que me façam aprender, que me façam estudar, que façam as pessoas discutir. Sabe, eu gosto de problematizar! Eu gosto de personagens que criam problemas", justifica a escolha.
Gagliasso, que já protagonizou um beijo gay censurado em "América" (2005) e viveu um esquizofrênico em "Caminho das Índias" (2009), se preparou para interpretar um psicopata vendo séries como "The Fall" (2013) e filmes tais quais "Taxi Driver" (1976). No ar a partir de setembro, "Dupla Identidade" está sendo toda filmada em 4K, que traz quatro vezes a resolução da alta definição, numa rotina que parece a de cinema, com fotografia apurada e cinco cenas por dia.

Leia nesse link a entrevista completa dele.


Notícias da TV - Fala um pouco sobre o seu personagem.
Bruno Gagliasso - Ele se chama Edu. Edu é um serial killer. Ele acha que está acima de tudo e de todos. Como todo psicopata, acredita ser um deus e que está acima de qualquer um. Eu estou descobrindo ele, e vai ser assim até o final, sempre descobrindo alguma coisa nova.

Notícias da TV - Ele é aquele serial killer dissimulado e insuspeito?
Gagliasso - Esse é o tesão. Ele não é nada suspeito. Ele é como um psicopata. A gente conhece vários psicopatas que a gente só acredita serem psicopatas quando eles cometem alguma barbaridade. Porque a psicopatia tem vários graus: a leve, a moderada e a pesada. Geralmente, a grave, que é a pesada, são os verdadeiros psicopatas, e o Edu se enquadra nessa. Ele vive uma vida normal, como a de qualquer um. Ele é advogado, estuda psicologia e começa a trabalhar no escritório de um senador, e quem faz o senador é o Aderbal [Freire-Filho].
E ele está acima de qualquer suspeita, ninguém desconfia dele. Ele é um exemplo de ser humano, e esse é o tesão desse personagem: ele não fala hora nenhuma que é um psicopata. Então, ele se adequa a cada ambiente, como se fosse um camaleão. Ele fala o que você precisa ouvir, ele fala o que a Ray [personagem de Débora Falabella, namorada de Edu] quer ouvir, e ela não desconfia de nada. Ele fala o que o senador quer ouvir, ele se infiltra na polícia através do senador e, como estudante de psicologia, querendo entender um pouco os serial killers. Ele joga com cada um com quem ele contracena.

Notícias da TV -  E por que ele mata? São crimes sexuais?
Gagliasso - Poder. Ele é um psicopata mesmo, ele mata porque ele se sente superior, porque ele se sente deus.

Notícias da TV - Em março, no finalzinho de "Joia Rara", você tinha algumas alternativas. Uma delas era um personagem em "Império", outra era o mocinho de "Alto Astral", e você optou por esse caminho. Por que esse trabalho? Em que ele te seduziu mais? Você queria dar um tempo de mocinho?
Gagliasso - Foi bom você ter tocado nesse assunto. Muitas vezes o que sai na imprensa sai como uma verdade absoluta. “Ah, Bruno vai fazer Império, vai fazer sei lá o que”... Não existe essa verdade absoluta. Essa é uma decisão minha em conjunto com a Globo. Essa decisão cabe a nós, é uma decisão nossa. Não é “Bruno quer fazer isso ou não quer fazer aquilo”. E a gente optou por fazer Dupla Identidade, que é um personagem que eu gosto de fazer.
Como eu te falei, sempre fui fascinado por séries. Eu gosto de personagens intensos, eu gosto de personagens que me façam aprender, que me façam estudar, que façam as pessoas discutir. Sabe, eu gosto de problematizar! Eu gosto de personagens que criam problemas. E foi natural, foi uma coisa completamente natural. Eu, antes de fazer Joia Rara, eu fiz um vilão [em Cordel Encantado], antes ainda eu fiz um mocinho. Por que não agora fazer um serial killer? Foi natural isso. O que sai na imprensa como decisão na verdade está em discussão. A única coisa certa mesmo é que eu ia fazer Dupla Identidade.

Notícias da TV - E esse personagem te desafiou mais?
Gagliasso - Eu gosto disso. Você acompanha o meu trabalho. Eu não posso ir na contramão do que me dá tesão de fazer. E a minha profissão é movida a paixão.

Notícias da TV - E uma pergunta inevitável. Você fez o primeiro beijo gay da TV, que não foi ao ar. E no começo desse ano teve o Félix, depois teve as meninas de "Em Família". O que você pensa diante de tudo isso? A TV evoluiu, os executivos evoluíram?
Gagliasso - Viva o amor! Isso já devia ter acontecido há muito tempo, desde lá atrás. E eu fico feliz, fico contente. Acho que é um grande passo que todos nós estamos dando. Eu me lembro que eu fui num programa (acho que é o da Fátima), e o psicanalista Francisco Daudt, da Veja, estava lá. Ele me fez essa pergunta e eu disse a mesma coisa. Fico muito feliz, a gente tinha que ter dado esse passo há muito tempo. Mas alguém perguntou: “Ah, e você acha que o público estaria preparado?”. E eu disse: Quem somos nós para julgarmos se o público está ou não está preparado? Eu me sentia preparado há muito tempo, e eu também sou público. E aí? Talvez a gente já estivesse preparado há muito mais tempo se o beijo já tivesse sido dado.

Notícias da TV - E colocando-se no lugar da emissora, você não ficaria preocupado com o público mais conservador?
Gagliasso - Eu acho que a gente tem que dar esse passo adiante. Tem até hoje esse público conservador, tem gente também que não gostou, não foi? Mas cabe a nós, artistas, quebrarmos esse tabu, e é por isso que eu sou contra a censura e a favor da arte e do amor. Porque eu gosto de questionar. A minha função social é essa: problematizar, e é isso que eu farei sempre através dos meus personagens.


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