segunda-feira, 12 de maio de 2014

Wagner Moura descarta viver o Bispo Edir Macedo no cinema

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Do tesão ao sentimento fraterno, “Praia do futuro” é sobre o amor entre homens. Wagner Moura é o elo entre essas extremidades: um salva-vidas que, apaixonado por um turista alemão (Clemens Schick), decide deixar sua cidade, Fortaleza, rumo a Berlim. O mar, o sal e seu irmão (Ayrton, papel de Jesuita Barbosa) são apenas uma lembrança. Mas como dói. Donato é um sujeito silencioso, característica que fez o talentoso ator considerá-lo seu personagem mais complexo. Na entrevista, Wagner fala sobre o novo filme, que estreia quinta-feira, mas também aponta seu próprio futuro.

Sobre o silêncio

“Você só entende o Donato quando ele dança, nada, transa... Como ator, eu ficava: por quê? Eu tenho que entendê-lo. E, na vida, às vezes a gente não sabe por que faz alguma coisa. É a primeira vez que faço um personagem tão misterioso, e talvez eu conheça tão pouco dele porque ele se conhece pouco também”.

Identidade

“As pessoas que saem de um lugar e vão morar em outro meio que se reinventam. Sempre tive fascinação por isso. A gente é o que as pessoas dizem que a gente é. Quando estamos num lugar onde ninguém sabe quem a gente é, você pode ser quem você quer ser. E isso me fascinou”.

Ser gay

“Nunca li Donato como sendo afeminado. O cara é um bombeiro, da praia, não casava bem. E é curioso que a gente pense que o cara gay não pode ser viril. Pensar que um homossexual precisa ser frágil, feminino, talvez seja um olhar estereotipado”.

Nudez

“A natureza do trabalho do ator é se colocar e colocar o seu corpo em situações que não são as de seu cotidiano. É sempre complicado tirar a roupa, mas eu já tinha um nível de integração muito grande com o Clemens. As cenas com o irmão eram mais complicadas. Eu sou pai de três meninos... Eu ficava me perguntando: ‘Como ele deixa aquele menino lá e fica dez anos sem dar notícias?’ O abandono era mais difícil”.

Ensaio

 "Os produtores de cinema não descobriram o valor dos ensaios, eles acham que estão gastando dinheiro. Para a gente foi determinante. Era muito importante que nós nos conhecêssemos, porque a relação com os três é de muita intimidade. Eu, particularmente, precisava me sentir bem em Berlim. Eu precisava ter alguma relação com aquela cidade para que meu personagem tivesse um sentido maior. Essa necessidade de estar bem em Berlim tinha a ver com não estar só. Eu não consigo ficar mais de um mês. Minha mulher e meus filhos foram para lá, vivendo, vivenciando a cidade".

"Narcos"

“Agora, estou me preparando para fazer o Pablo Escobar (traficante colombiano) numa série para a Netflix, falada em inglês e em espanhol. Vou para a Colômbia em julho e ficarei dois anos lá. Já temos duas temporadas garantidas”.

Edir Macedo

“Não vou interpretar o Edir Macedo, como já sugeriram. Sei que a Record, há muito tempo, convidou o Padilha (José Padilha, diretor de ‘Tropa de Elite’) para dirigir a biografia dele, mas nunca me chamaram. E se me chamarem, não farei, porque já tenho um projeto com o Karim Ainouz (diretor de ‘Praia do futuro’) de fazer um filme tendo um pastor evangélico como personagem principal”.

TV brasileira

“Fiquei um tempão esperando a Globo botar para acontecer um projeto chamado ‘Dois irmãos’, do Luiz Fernando Carvalho. Parece que não era importante. Agora, se acontecer, não vai ser comigo, porque farei a ‘Narcos’. Não é na Globo, mas é TV. Não descarto novelas, mas vou fazer dois anos de uma série, fica difícil”.

Moralismo

“É evidente que o Brasil tem uma imagem no exterior, não sei se pelas mulatas ou pelo carnaval, de ser um país liberal... Mas não é: o Brasil é um país conservador e moralista. Mas não deixo, como ator, de fazer nada por isso. Procuro bons projetos. Não posso julgar. Vou fazer o Pablo Escobar, que não é exatamente um modelo de comportamento. Fiz o Capitão Nascimento. Eu procuro entendê-los e fazer com que eles se tornem humanos".

Como levar a vida

“Estou inserido num contexto de ator popular. O que faço é ter alguma honestidade com o que eu sou. É frustrante para algumas pessoas, para parte da imprensa. Eu prefiro pagar o preço de ser quem eu sou do que inventar um personagem. Você não vai me encontrar nas revistas, nas estreias... Essa postura é muitas vezes vista como a de uma pessoa arrogante, quando é uma tentativa de fazer minhas coisas, encontrar meus filhos tranquilamente”.

Publicidade

“Quando me coloco como um cara de esquerda, que pensa em justiça social, o cara da ‘Veja’ diz que eu não posso falar isso porque não sou pobre (risos). Dizem: ‘Mas ele fez um comercial?’. Não sou comunista, apesar de querer fazer um filme do Marighella (ele pretende dirigir o longa em 2016). Consumo produtos, tenho celular, carro. Vivo num mundo capitalista, usufruo. Não significa que não possa criticar o modelo. Uma pessoa para falar mal do poder público não precisa ir embora do país. Posso dizer o que eu acho. Isso é democracia, né?”.
 

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