domingo, 15 de março de 2015

"O jornalismo de fofoca é moralista", diz Paulo Betti

Téo Pereira e Leo Dias (foto acima dos dois) se encontraram para um bate-papo franco sobre jornalismo de celebridades. Até onde se pode ir? Leo defendeu sua profissão, Téo mostrou o outro lado da moeda, como Paulo Betti, artista que é e tem sua privacidade exposta. Os dois riram, falaram sobre política, "Império" (Globo), vida pública e privada e Téo lembrou de quando fez laboratório no jornal O DIA. O resultado desse encontro histórico você confere aqui. E ainda ganha o domingo, um diazinho a mais depois do fim da novela, para dar adeus ao blogueiro que divertiu o público e o próprio Paulo, que já está morrendo de saudades do Téo com suas tiradas hilárias.
 
O Téo Pereira foi um acontecimento. Você sabia desde o início que o personagem seria esse sucesso?
Eu não tinha a menor noção de como seria o trabalho. Eu não sei ler sinopse, não tenho essa habilidade de saber como vai se resolver. A direção me deu o papel e falou: ‘É um bom papel’ e eu entrei com muita garra e vontade. Estou extremamente satisfeito com o resultado. Foi surpreendente para mim. Me envolvi muito com o personagem, estudei bastante. Eu gravava uma vez por semana no estúdio e passava a semana inteira ouvindo as falas do Téo para memorizar e descobrir qual a intenção que devia dar na frase. Fiz laboratório com alguns personagens, como você, por exemplo. Estou muito satisfeito e lamentando que a novela acabou. 


Como você imaginava um blogueiro como eu antes de me conhecer?
Eu nunca tive a menor ideia. Quando fui te ver no jornal, me impressionou a sua energia e a sua intensidade. Isso já se vê na TV. Peguei sua movimentação na cadeira, como você fica girando. Eu sabia que tinha uma adrenalina sobre não ser furado e dar uma notícia em primeira mão. Também não sabia que as pessoas acabam mandando notícias. Muita gente se sente feliz de ser fonte e essa relação da fonte com o blogueiro é surreal. Há uma lealdade. Tem muita coisa surpreendente. Sempre que se aproxima de um universo diferente, você acaba aprendendo. Você acaba humanizando. Quando te procurei, foi no sentido de humanizar o personagem. 


Mas o Aguinaldo faz uma crítica…
Evidentemente e faz sentido. Eu estou dentro do papel e preciso compreender meu personagem e humanizá-lo para achar que ele está fazendo uma coisa boa. 


Não seria mais ou menos como criticar a imprensa que descobre quem faz mau uso do dinheiro público, por exemplo? Por que criticar a imprensa? Tem que criticar quem faz o mau uso do dinheiro público, não acha?
Eu entendo. Mas o jornalismo que trabalha com a fofoca ele é moralista. Ele acha que se o cara está traindo a mulher dele, ele tem que ser denunciado, de certa maneira. 


Eu já vejo de outra forma. À medida que você ganha para ir a um camarote de cervejaria ou fazer propaganda na TV, ali você dá a liberdade de ter a sua vida exposta. Quem não se expõe, não tem a vida exposta. Acho que a Ana Paula Arósio nunca foi ao camarote…
Leo, eu sou artista e tenho vida pública. Vou ao motel, por exemplo, e o porteiro me vê saindo e passa para alguém. Por que isso tem que ser publicado? 


A partir do momento que você vai para uma revista de celebridades mostrar sua vida linda, filha, marido, você sai expondo e vendendo uma imagem de feliz. Entende?
Se o cara está fazendo algo que ele não quer que seja revelado, porque precisa ser revelado? É crime ele estar no motel com outra pessoa que não seja a mulher dele?


Como você avalia o que aconteceu com Adnet, que é casado e beijou outra mulher na rua?
É uma coisa absolutamente normal. O Téo publicaria, mas tomou uma dimensão tão grande, que foi o momento. Não foi nada de tão grave e deve ter causado um enorme sofrimento. 


Você condena mais quem publicou ou quem traiu?
Acho que quem publicou. Foi aquele chato que aponta o dedo de que o outro está fazendo uma coisa errada. “Professora: ele está colando”. A fofoca é coercitiva. Ela é policialesca. Ela é como se fosse um policial e não pode ser de outra maneira, tem que ser careta. O casal não pode trair e tal… A fofoca parece um acidente de automóvel. Você está passando por ele e às vezes tem um corpo estendido ali. Você está passando de carro por ele e não quer ver, mas acaba olhando e fica com aquilo na cabeça. Era melhor que você não olhasse, ignorasse. Não lhe diz respeito, você não ficaria com aquilo na cabeça. Você não tem como salvar aquela pessoa. Então, o que me acrescenta se o Adnet deu o beijo na moça ou não deu? É uma coisa que não me diz respeito. Se tem gente que trabalha para mostrar aquilo, porque tem gente que gosta como no filme ‘Abutre’, não é uma coisa nobre. Meu personagem tinha esse dilema. Ele tem recaídas, mas ele quer ser mais do que aquilo.


Jornalista sério é o que o Téo Pereira quer virar por conta de uma biografia?
Eu não vejo diferença do que faço para uma biografia. Se juntarem todas as histórias de um determinado personagem, pode acabar dando uma biografia. Mas veja, você não tem o mesmo reconhecimento que o Fernando Morais, Ruy Castro. Você está defendendo o seu lado no momento em que você está no meio de uma batalha, uma guerra. 


Você autorizaria uma biografia sobre você?
Não gostaria muito de alguém escarafunchando a minha vida para revelar aos outros… Não é que tem muita coisa que não quero mostrar. Não gosto da ideia de ter alguém invadindo a minha intimidade para escrever para os outros. Não é à toa que o Roberto Carlos ficou brabo. Ele tem o direito de se sentir ofendido. 


A Maria Ribeiro, sua ex, sempre elogia você. Você sempre foi querido assim por ela?
Temos um filho de 11 anos, o João, e a harmonia é muito importante. Se terminou é porque não estava bem, mas eu tenho amizade com todas as minhas ex e acho isso muito saudável. Nós temos um filho, tenho relação boa com Caio Blat e com o Bento, filho deles. Fico orgulhoso com isso e me sinto muito bem. Se você amou uma pessoa, é eterno. E você quer que ela se dê bem na vida. Fico feliz quando a Maria fala bem de mim. É muito mais legal do que se ela estivesse falando mal (risos). 


A sua atual mulher, a Mana Bernardes, ela lida bem com isso?
Ela é tranquila em relação a isso. É ótimo se relacionar com alguém que não é do meio. Você fica menos exposto e cada um pode ter um pouco mais a privacidade.


Você gosta de privacidade, né?
Eu me exponho muito, né Leo. Eu dou entrevistas, não me nego, tenho uma vida pública e não me recuso nunca a falar. Alguns assuntos são mais espinhosos, como falar de política, em quem ajudou a eleger a Dilma, por exemplo, não está fácil. Nós estamos um pouco na defensiva, mas eu procuro ter clareza. O meu lema é: “Se você não mentir, tudo fica muito mais fácil.” Dificilmente você vai cair em uma contradição, vai ser pego. Eu procuro pagar minhas contas direitinho, dou todas as entrevistas que posso, também não sou muito cheio de manias. Minha família era muito pobre, sou muito agradecido com tudo que conquistei. Acredito muito no valor do trabalho e acho que suar a camisa é o mérito. O público no jogo de futebol percebe, por exemplo, aquele jogador que se esforçou para caramba, então está bom. 


Você sempre foi petista declarado?
Nunca tive filiação partidária, mas coincidiu com o aparecimento do PT as primeiras eleições e eu fui votando no PT sempre.


Da onde vem esse elo entre você e PT?
Venho de uma família de operários e lavradores e coincidiu que, quando eu estava saindo da universidade, estava sendo criado o Partido dos Trabalhadores, vi o início do partido, vi como começou e achei que era uma alternativa. Ele tem me satisfeito, mais ou menos e menos e mais às vezes. Mas, comparando com as outras alternativas fico sempre achando que aquela é melhor. 


Você acha que errou ao ter externado a sua opinião?
Não, porque se me trouxe algumas controvérsias, a gente tem esse direito de ser contraditório. Não me arrependo, continuo pensando que ainda foi a melhor escolha que fiz e estou disposto também, se eu achar que errei, mudar e estarei bem acompanhado. Pode ser que um dia eu ache melhor votar no PSOL. No PSDB, não sei, não me representa muito. Talvez sim se eu viesse de família de professores universitários, de classe média alta. De onde eu vim, o PSDB não me representa. Imagina eu, filho de uma analfabeta, de um servente de pedreiro e uma empregada doméstica, votar no PSDB? Não faz sentido. 


Você já teve alguma retaliação com a Globo por ter esse tipo de posicionamento?
Nesse sentido, nunca tive problema. Você pode ver pelo Dias Gomes e tanta gente que sempre teve posição política explícita. 


Seu próximo desafio é a peça "Autobiografia Autorizada". Demorou quanto tempo para escrever?
A vida inteira. Como eu fui um menino que nasci temporão, 10 anos depois, e como eu tive condições que meus irmãos não tiveram, fui imbuído de uma responsabilidade desde pequeno. Eu não podia ser revoltado e tinha que ajudar meus pais e para ajudá-los, eu tinha que trabalhar cedo. Eu sempre fui muito conectado com a ideia que eu deveria representar meus irmãos e hoje percebo isso com clareza. Com 20 anos de idade, tinha úlcera. isso era um reflexo da responsabilidade. Não foi fácil, mas não fui infeliz, porque meus pais se amavam. Eles seguraram uma onda, mas se amavam. Isso era muito lindo. Era pobre, mas tinha galinha, comia ovo, frango, carne de porco, não passei fome. Estudei em boas escolas. Tenho uns cadernões com todas as memórias escritas a mão. 


Eu tenho esse problema, medo de as pessoas me odiarem.
Leo, todo trabalho é digno e acho o seu trabalho digno. Por mais que a pessoa seja autossuficiente, ela gosta de ser querida
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