quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Inteligência e surpresa em "Minha Estupidez", de Fernanda Torres

“Você, homem sapiens, sapiens, sapiens pra caramba, sobreviveria na selva?”. A pergunta foi de Fernanda Torres (foto) a João Ubaldo Ribeiro em “Minha Estupidez”, que estreia no próximo dia 15 no GNT. Ela é ilustrativa das intenções do programa. Como bem diz o título, é o sentimento de ignorância que move os episódios. Fernanda expõe, além do que sabe, aquilo que desconhece sobre a obra de escritores, antropólogos, cientistas etc. A atriz, que durante anos encenou com muito sucesso o monólogo “A Casa dos Budas Ditosos”, de Ubaldo, abre a série admitindo que por muito tempo mentiu sobre ter lido “Viva o povo brasileiro”. Até que ganhou um exemplar do autor. Mostra sua estante, em casa, só para dizer que ela é pequena e insuficiente. Reclama das próprias limitações e, com isso, apresenta a rota de descobertas que abrirá nos programas seguintes.
A edição com Ubaldo foi gravada em 2008 (ele morreu em 2014) e é deliciosa. Seus temas estão acima do noticiário de fôlego curto, portanto, nada caducou. Eles falaram de literatura, o escritor comentou a educação rigorosa que recebeu e relembra o livro “com letra de cordel” com que aprendeu a silabar. Ensinou quem é Melpomene (a musa da tragédia) e Thalía (musa da comédia). É impossível não desejar que o papo dure para sempre. Ainda assim, não incomoda quando ele é interrompido por uma encenação com Evandro Mesquita, como o Caboco Capiroba, e Fernanda. “Minha Estupidez” tem um formato original (a direção é de Mini Kerti). Não é nem ficção, nem um programa de entrevistas clássico. Ao fim do primeiro episódio, poucas perguntas terão tido respostas definitivas, mas a poeira da curiosidade estará muito bem espalhada.
Merece toda a sua atenção.







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