“Você, homem sapiens, sapiens, sapiens pra caramba, sobreviveria na
selva?”. A pergunta foi de Fernanda Torres (foto) a João Ubaldo Ribeiro em
“Minha Estupidez”, que estreia no próximo dia 15 no GNT. Ela é
ilustrativa das intenções do programa. Como bem diz o título, é o
sentimento de ignorância que move os episódios. Fernanda expõe, além do
que sabe, aquilo que desconhece sobre a obra de escritores,
antropólogos, cientistas etc. A atriz, que durante anos encenou com
muito sucesso o monólogo “A Casa dos Budas Ditosos”, de Ubaldo, abre a
série admitindo que por muito tempo mentiu sobre ter lido “Viva o povo
brasileiro”. Até que ganhou um exemplar do autor. Mostra sua estante, em
casa, só para dizer que ela é pequena e insuficiente. Reclama das
próprias limitações e, com isso, apresenta a rota de descobertas que
abrirá nos programas seguintes.
A edição com Ubaldo foi gravada em 2008 (ele morreu em 2014) e é
deliciosa. Seus temas estão acima do noticiário de fôlego curto,
portanto, nada caducou. Eles falaram de literatura, o escritor comentou a
educação rigorosa que recebeu e relembra o livro “com letra de cordel”
com que aprendeu a silabar. Ensinou quem é Melpomene (a musa da
tragédia) e Thalía (musa da comédia). É impossível não desejar que o
papo dure para sempre. Ainda assim, não incomoda quando ele é
interrompido por uma encenação com Evandro Mesquita, como o Caboco
Capiroba, e Fernanda. “Minha Estupidez” tem um formato original (a
direção é de Mini Kerti). Não é nem ficção, nem um programa de
entrevistas clássico. Ao fim do primeiro episódio, poucas perguntas
terão tido respostas definitivas, mas a poeira da curiosidade estará
muito bem espalhada.
Merece toda a sua atenção.
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