“Mister Brau” (Globo), com Lázaro Ramos e Taís Araújo (foto), é a primeira série nacional protagonizada por personagens negros e ricos.
Essa característica levou o jornal britânico “The Guardian” a falar da
trama criada pelo cineasta, diretor e roteirista gaúcho Jorge Furtado.
“Só foi possível fazer essa série porque temos esse casal de atores incríveis, Lázaro e Taís”, diz Furtado.
A produção, com direção-geral de Maurício Farias, estreou em setembro e já tem nova temporada confirmada.
Nesta semana, a série “Doce de Mãe”, também de Furtado, foi indicada ao Emmy Internacional. Ele falou à coluna por telefone:
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A teledramaturgia deveria ter mais negros em destaque?
O Brasil tem 52% da população negra ou parda e essa porcentagem não está
representada de maneira alguma na dramaturgia, nem na TV nem no cinema.
Os EUA, com 13% de população negra, têm mais negros protagonizando
filmes e séries.
Sua intenção em "Mister Brau" é abordar o racismo?
Não é o mote, mas essa questão tá ali velada, num tom de humor, sem
proselitismo. Nós somos um país racista, tivemos uma abolição tardia.
Essa divisão do país é importante, temos que falar disso para superar.
Esse assunto está presente. A vilã (Fernanda de Freitas) não quer
conviver com aquelas pessoas, quer se mudar. Ela não diz isso, mas tá
ali velado. Ela quer chamar a polícia quando vê os novos vizinhos na
piscina.
Tá ali também o desconforto com uma ascensão social, uma classe que chega para dividir os espaços.
Como surgiu "Mister Brau"?
Queria falar da música brasileira, nossa grande arte. E são raros os
personagens músicos. Li uma reportagem sobre a casa do Jorge Ben em um
condomínio em Orlando (EUA) e pensei nessa história de um casal de
músicos supertalentosos, ousados, que se muda para um condomínio careta.
O Brau é mistura de Tom Zé, Tim Maia, Raul Seixas… gênios que a gente
adora, mas que muitos não iam querer como vizinhos.
Você tem preocupação em fazer humor inteligente?
Não acho que vale tudo para conseguir o riso. A gente ri de coisas que
não devia, não se deve incentivar o humor preconceituoso. Não incentivo
preconceitos nas piadas, não gosto de escatologia. Não tô instituindo o
politicamente correto, o humor tem que ser ousado. Mas, nessa lógica da
crítica ao politicamente correto, se faz muita baixaria.
Acho que a principal lógica é fazer coisas que gosto de assistir. Se
todo mundo que faz cinema e TV fosse obrigado a ver o que faz, o cinema e
a TV iam ser bem melhores.
Muitas séries estão surgindo. O gênero está se renovando?
O século 21 é o da série, por enquanto. Antigamente se dizia que o
cinema era mais profundo porque tinha mais tempo. E que a televisão era
superficial. Hoje é o contrário. Nos EUA, a inteligência criativa foi
para a TV. A produção adulta foi para as séries. Tem muito mais coisa
boa para ver em casa
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