No entanto, o autor foi chamado na semana passada para uma nova conversa. Ficou sabendo que vai ficar desempregado mesmo com uma trama de sucesso (para os padrões da Record) em plena exibição.
"Legalmente está tudo certo, mas o que me deixou chateado foi que me disseram que renovariam o contrato, estavam muito satisfeitos, que eu podia ficar tranquilo. E não foi o que aconteceu. Quando terminei de entregar os capítulos, me chamaram para conversar. Eu fui esperando uma renovação, talvez até um aumento. Pensei 'Oba, vou trocar de carro' (risos). Mas cheguei lá e disseram que não iriam renovar. Estava contando com isso, de ficar mais tempo, fazer outros trabalhos para eles", confessa.
A justificativa que Modesto recebeu foi de que a Record já tem duas novelas bíblicas e duas não bíblicas planejadas para os próximos anos, e isso faria com que ele ficasse na "geladeira", sem espaço para emplacar novas produções. Para o autor, que está encerrando um contrato de cinco anos, esse argumento é questionável.
"Eu tenho a impressão de que não é tanto tempo [que ficaria parado], eu voltaria a escrever daqui a um ano. Vale a pena manter um roteirista que já deu bom resultado. Se a decisão fosse minha, acharia mais sensato me manter, poderia escrever uma série, um humorístico. Achei que essa justificativa não justifica. Mas não dá para eu entender as justificativas internas, eles devem ter seus motivos", lamenta.
Modesto foi o autor de duas tramas religiosas na Record: a série "Milagres de Jesus" (2012) e a novela "A Terra Prometida" (2016), que estreou no dia 5 de julho e deve permanecer no ar até meados de fevereiro. Para isso, a emissora usa a tática de alongar os capítulos na edição, deixando a estrutura das cenas diferente do que foi escrito no roteiro.
Essa prática já era conhecida do autor quando ele assinou o contrato, assim como já estavam previstas interferências da diretoria artística da Record no conteúdo dos capítulos - principalmente em relação às histórias bíblicas.
"Desde o início deixaram claro que, como era uma novela bíblica importante, teria influência. É normal que tenha um ponto de vista do produtor, e compreendo que eles têm também objetivos ideológicos. Mas é claro que, como autor, prefiro mil vezes trabalhar livremente. Se estivessem colocando no ar os roteiros do jeito que estão escritos, ficaria melhor ainda, com bastante ação. [Nesse sentido] A Globo respeita mais. Pelo menos no tempo em que eu trabalhava lá, [a trama] ia ao ar como está no papel", afirma.
Antes de ser contratado pela Record, Modesto foi roteirista na Globo durante 13 anos e também chegou a trabalhar como ator no SBT, nas novelas "Fascinação" e "Pérola Negra", ambas de 1998. Após 18 anos com contratos fixos em grandes emissoras, é a primeira vez que o profissional se vê sem compromisso com empresa alguma.
"É esquisito. É uma coisa nova para mim, não estou acostumado a trabalhar como freelancer. Nunca fiz isso, assusta um pouco. Como é muito recente, estou começando a falar com as pessoas, daqui a pouco talvez comece a oferecer meu trabalho. Por enquanto, estou assimilando", diz.
Na Globo, ele tem Walther Negrão, autor de "Sol Nascente", como seu mestre, mas ainda não entrou em contato com a emissora para propor suas ideias. Para o ano que vem, Modesto já foi convidado para escrever o roteiro de um longa-metragem, ainda em fase de captação de recursos, e está otimista para encontrar novos trabalhos, seja na TV, no cinema ou em produtoras independentes.
"Como [a demissão] me pegou de surpresa, não tinha nada programado, não tinha procurado coisa nenhuma. Agora ainda não sei direito o que vai acontecer. Mas estou otimista, acho que o mercado de audiovisual está bem, está efervescente apesar da crise. Dentro de um mercado assim, um roteirista experiente é importante, existe uma demanda. Como me enquadro nessa categoria, acho que naturalmente devem aparecer novas propostas", ele conclui, esperançoso.
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