domingo, 13 de março de 2016

O mar de Moisés inundou o tabuleiro de “A Regra do Jogo”. Será?

Fã confessa do estilo João Emanuel Carneiro de contar uma história, me empolguei com a estreia de "A Regra do Jogo", na Rede Globo. Mas a novela não me pegou logo de cara. Tramas paralelas confusas e furos no roteiro me fizeram perder o interesse por uma história que seria bem mais empolgante se tivesse menos personagens e mais foco em um herói de fato.
A confusão entre quem era o mocinho e quem era o bandido na novela das 21h atordoou o público e afastou as donas de casa. Linguagem moderna, como a de "A Regra do Jogo", é bem-vinda no cinema, nas séries e minisséries. Obras longas como folhetins precisam de um pouco mais de maniqueísmo, tramas mais mastigadas, para fisgar logo e por mais tempo a grande massa.
Enquanto se tentava descobrir que raios afinal era a tal "facção" criminosa do folhetim e quem realmente mandava nela, o grande inimigo apareceu. Só que em outro canal. O maior problema do "pai", líder do bando criminoso da novela, era Moisés (foto), e seus "Dez Mandamentos" na Rede Record.
E não era um rival fácil. Enquanto em "A Regra do Jogo" o público se mantinha perdido em um cruel realismo urbano, em "Os Dez Mandamentos" Moisés (Guilherme Winter) mostrava os valores tradicionais e o caminho para a libertação dos hebreus. Enfrentar um inimigo que consegue administrar terríveis pragas e abrir o Mar Vermelho é tarefa das mais difíceis. E quando o mar finalmente se abriu, inundou o tabuleiro de "A Regra do Jogo". Foi uma enchente de audiência, de repercussão e arrumar a casa sempre é difícil depois que ela é invadida de surpresa pela água. Não deu tempo da Globo colocar os móveis para cima. Houve prejuízos.
Sendo assim, a turma da facção só respirou aliviada quando Moisés parou de erguer o seu cajado para conversar com Deus.
Foi só quando "Os Dez Mandamentos" acabou que "A Regra do Jogo" embalou e entrou na casa dos 30 e poucos pontos de audiência.
O capítulo final deixou claro que a parceira de João Emanuel e Amora Mautner (diretora) funciona perfeitamente.
Concordo com a colega Patrícia Kogut, de "O Globo": a sequência da morte de Romero (Alexandre Nero) foi a melhor coisa do final da novela. Mas eu, ao contrário dela, gostei dele dançando ao som de Elvis minutos antes de agonizar no chão. Clara homenagem as loucuras de diretores como Quentin Tarantino, que misturam imagens sanguinárias e ótimas trilhas sonoras com um toque pop. Naquele momento, Romero poderia facilmente estar em "Kill Bill" ou "Pulp Fiction".
E Atena (Giovanna Antonelli)? O que dizer dessa moça que roubou a cena e o babyliss da novela só para ela. Bandida, vigarista e completamente apaixonada por um homem que tentou matá-la e a salvou várias vezes. Antonelli matou a pau em sua performance de vigarista bem vestida, com sua magreza invejável para nós mortais. Adorei.
Também deixo meus aplausos para Tonico Pereira, que fez de seu Ascânio, um papel aparentemente secundário, uma grande costura para cenas importantes da novela. Em muitos momentos ele me lembrou o Silveirinha de "A Favorita", interpretado pelo grande Ary Fontoura. Ele amava e odiava Romero e Atena, mas vivia por eles. Silveirinha também era assim com Flora (Patrícia Pillar) e Donatella (Claudia Raia).
"A Regra do Jogo" acabou nesta sexta-feira (11) com a morte de um de seus personagens principais: o bandido Romero Rômulo (Alexandre Nero). O ex-vereador morreu como herói nos braços de Atena (Giovanna Antonelli) depois de uma sangrenta sequência, que também terminou com Zé Maria (Tony Ramos) e um capanga da facção baleados.
A trama marcou seu capítulo final 40 pontos de audiência prévia. Cada ponto equivale a 69 mil domicílios na Grande São Paulo. Foi bem melhor que o final de sua antecessora, "Babilônia", e "Em Família", que registram em seus desfechos médias de 33 e 37 pontos respectivamente.
No entanto, "A Regra" não bateu nem "Império" que saiu do ar com 50 pontos e "Amor à Vida", que marcou 44 pontos em sua despedida.
Em seu balanço final, a trama de João Emanuel ficou longe de ser uma novela ruim. Mas também não atingiu as altas expectativas de quem esperava um obra à altura de "Avenida Brasil".
Muitos personagens como Dante (Marcos Pigossi) e Juliano (Cauã Reymond) pareciam idiotas demais durante a história. Tony Ramos teve suas grandes cenas como Zé Maria, mas poderia ter rendido mais no papel de Gibson (José de Abreu), por exemplo.
E faltou um vilão fascinante nessa novela. Gibson era só ruim. Não tinha nenhum lado interessante ou divertido, como a saudosa Carminha (Adriana Esteves), de "Avenida Brasil". Para quem criou tanto anti-heróis em uma novela só, faltou um vilão surtado que nos fizesse parar na frente na tela. Atena até que tentou, mas estava mais para uma vigarista fanfarrona.
E o que dizer do casamento de Adisabeba (Susana Vieira) e Feliciano (Marcos Caruso)? Ficou divertido, mas para quem amava Zé Maria incondicionalmente, a dona do Morro da Macaca mudou de ideia rápido demais, não? E nem chorou a morte do ex.
Mas não adianta mais limpar o leite derramado. "A Regra do Jogo" se foi. Com o desempenho abaixo do esperado, o pedestal de João Emanuel Carneiro na Globo ficou menor. Mas sigo esperando uma nova novela dele, uma grata surpresa. Pois quem criou Carminha há de voltar a me encantar outra vez.
Na maioria das vezes, enquanto se confrontavam, "A Regra do Jogo" vencia "Os Dez Mandamentos". A trama da Globo perdeu para a Record? Perdeu sim em vários embates, mas a maioria das vitórias se deu depois do início das pragas. E depois das pragas, as vitórias vieram até sobre o "Jornal Nacional".





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