Outra qualidade do semanal está no principal: o humor que pratica. Ele é ao mesmo tempo fácil, popular, e para os bons entendedores. Marcelo Adnet e Marcius Melhem (foto acima dos dois) têm cultura, e lançam mão disso, o que diferencia o “Tá no ar” de atrações muitas vezes grosseiras, como o “Pânico”, que escolhem a piada infantil e eventualmente chula. O programa não é engraçado o tempo todo, mas diverte na maior parte do tempo e merece a sua atenção.
Finalmente, o personagem que brinca com farpas que são dirigidas à emissora por certo público, o militante de cartilha, é especialmente bom. Faz rir e pensar, mostrando que embora ninguém seja imune a críticas muitas vezes elas podem cair na caricatura.
Falta ao “Tá no Ar”, no entanto, um certo caráter de novidade — o que não é em si um demérito, mas precisa ser dito. Sua grande marca de ineditismo é o picotamento. Mas alusões a personagens da política, atores fantasiados, paródias musicais e até anúncios de gadgets inventados (à la Organizações Tabajara) já foram vistos na própria Globo. O “Tá no Ar”, aliás, tem o DNA claríssimo do “Casseta & Planeta”, por sua vez, um filhote do “TV pirata”, também até hoje lembrado, com justiça, como um marco de originalidade, pioneiro, introdutor de uma linguagem.
O que mudou agora foi a própria televisão ao aceitar de volta brincadeiras que estavam banidas, como a graça política e o deboche com suas próprias atrações e até a publicidade. Parece a derrubada de um tabu, mas um dia, e não faz tanto tempo assim, esses tabus não existiam. De qualquer forma, é um movimento saudável e que merece elogios.
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