quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

"Tá no Ar" é cheio de qualidades e lembra "Casseta & Planeta"

O investimento da Globo no “Tá no Ar: A TV na TV” impressiona. A ideia de construir uma atração inteira através de uma narrativa fragmentada, do ponto de vista de um telespectador que zapeia, exige muito. Cada parada de dez segundos num canal ruim tem seu cenário e atores próprios, com figurinos e eventualmente até uma trilha. Há muito capricho e acabamento presentes em cada cena breve dessas.
Outra qualidade do semanal está no principal: o humor que pratica. Ele é ao mesmo tempo fácil, popular, e para os bons entendedores. Marcelo Adnet e Marcius Melhem (foto acima dos dois) têm cultura, e lançam mão disso, o que diferencia o “Tá no ar” de atrações muitas vezes grosseiras, como o “Pânico”, que escolhem a piada infantil e eventualmente chula. O programa não é engraçado o tempo todo, mas diverte na maior parte do tempo e merece a sua atenção.
Finalmente, o personagem que brinca com farpas que são dirigidas à emissora por certo público, o militante de cartilha, é especialmente bom. Faz rir e pensar, mostrando que embora ninguém seja imune a críticas muitas vezes elas podem cair na caricatura.
Falta ao “Tá no Ar”, no entanto, um certo caráter de novidade — o que não é em si um demérito, mas precisa ser dito. Sua grande marca de ineditismo é o picotamento. Mas alusões a personagens da política, atores fantasiados, paródias musicais e até anúncios de gadgets inventados (à la Organizações Tabajara) já foram vistos na própria Globo. O “Tá no Ar”, aliás, tem o DNA claríssimo do “Casseta & Planeta”, por sua vez, um filhote do “TV pirata”, também até hoje lembrado, com justiça, como um marco de originalidade, pioneiro, introdutor de uma linguagem.
O que mudou agora foi a própria televisão ao aceitar de volta brincadeiras que estavam banidas, como a graça política e o deboche com suas próprias atrações e até a publicidade. Parece a derrubada de um tabu, mas um dia, e não faz tanto tempo assim, esses tabus não existiam. De qualquer forma, é um movimento saudável e que merece elogios.

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