A primeira imagem de "Insensato Coração" é um avião de brinquedo, sobre o berço do protagonista, um futuro piloto. A câmera percorre o quarto semi-escuro e mostra um menino, de seis anos, ouvindo os pais discutirem.
Numa solução muito criativa para contornar os efeitos do envelhecimento, são mostradas apenas as sombras de dublês de corpos Antônio Fagundes e Natalia do Valle. Fagundes, o pai, reclama do comportamento de Léo, que roubara alguma coisa de alguém, e culpa a mãe por mimá-lo demais. Natália o defende. "Pode escrever, o Pedro você não vai estragar", sentencia o pai. Em seguida, Léo vai para o quarto do irmão bebê e destrói seu aviãozinho.
A imagem é emblemática. Em sua primeira cena, "Insensato Coração" já diz qual é seu núcleo principal e quem é quem nele. Léo (Gabriel Braga Nunes) é vilão desde menino, e a sequência seguinte o apresenta no submundo da contravenção, prestes a se tornar sócio em um "negócio"que mistura jogo do bicho e máquinas caça-níqueis.
É o momento de dizer que se trata de uma novela com a marca de Gilberto Braga. "Edificante. Nessa hora eu fico orgulhoso do brasileiro. Fico feliz em saber como é fácil tirar dinheiro desse povo", afirma Léo, cínico, ao ouvir do sócio que as pessoas começam a jogar porque receberam o salário, pensam que podem ficar ricas, e continuam jogando porque ficaram duras, precisam de dinheiro.
"Insensato Coração" também tem a marca do "arquiteto" Ricardo Linhares. Os núcleos e principais personagens são apresentados um a um, sem pressa, porém sem enrolação. Vemos Lázaro Ramos como um negro bem-sucedido e o traseiro seminu de sua presa sexual no espelho do elevador. Deborah Secco surge convincente como uma ex-participante de reality show que faz qualquer coisa por uma "permuta", por um cachê de R$ 500 e por meia dúzia de flashes.
A apresentação dos núcleos é permeada pela ação do personagem de Tuca Andrada, em atuação impecável. Ele sai da prisão e quer se vingar por ter pago pelo crime que não cometeu. Quer fazer a sofrer ex-patroa Vitória Drumond (Nathalia Timberg) _que o acusou de, como segurança de sua mansão, colaborar com um assalto. E descobre como: derrubando o avião em que a neta de Vitória, a mocinha Marina (Paola Oliveira), viajará do Rio para Florianópolis.
Numa sequência que junta complexa realização e ação magnética sobre o telespectador, o avião em que viaja Marina é visto de cima, voando sobre as nuvens. A câmera cortorna a aeronave e mostra, em uma das últimas janelas, o rosto iluminado de Pedro (Eriberto Leão), o bebê da primeira cena, que volta para casa, depois de fazer teste para ser piloto da companhia aérea em que viaja. A câmera, então, entra no avião, como se cortasse sua parede ou se uma porta estivesse aberta. A aeronave parece de verdade. Mas a cena só foi possível dessa forma porque ela foi toda montada em estúdio.
O ex-segurança Jonas, personagem de Tuca Andrada, está no avião, ao lado de Pedro, que desconfia de seu comportamento. Jonas tem uma pequena faca escondida na sola do sapato. Invade a cabine dos pilotos, mata um deles e começa a derrubar a aeronave.
Do lado de fora, Pedro percebe que há algo errado. Marina também. Ela vai até a cabine e convence Jonas a abrir a porta. Ele abre, e Pedro invade a cabine e, como nas melhores histórias de heróis, domina Jonas e toma o controle do avião. Apesar de nunca ter pilotado uma máquina tão grande, consegue pousá-la sem danos. Como prêmio, ganha um beijo de Marina.
Assim, "Insensato Coração" deixou claro que Pedro é o clássico protagonista, incorruptível, capaz de gestos heróicos. Não é como o ingênuo Totó (Tony Ramos) de Passione. Léo é ruim desde a infância e não tem uma motivação maior, a não ser a implicância do pai. Marina, a mocinha, toma o mocinho da melhor amiga, mas foi sem saber, e numa situação adversa, numa típica armação do "destino".
Trata-se de uma novela que não quer correr riscos, pelo menos não até se firmar. Pretende apenas reproduzir a velha fórmula do folhetim em uma nova história e cenário, bem contada e competentemente dirigida por Denis Carvalho. Nas alturas.
Audiência
O primeiro capítulo da nova novela das nove da TV Globo marcou 36,2 pontos na Grande São Paulo. "Passione" estreou com 37,3 pontos.
A opinião do Daniel Castro bate mais com o que eu penso. Interessante um colunista do mesmo portal R7, do Miguel Arcanjo Prado, ter uma opinião tão diferente da dele. Também nem tem como comparar os colunistas, já que o Daniel me parece mais independente editorialmente. O Miguel joga mais no time da Record e tudo da Globo aos olhos dele parece feio. Engraçado que o patrão dele (o bispo Macedo) sonha em ser a Globo um dia. Por enquanto a qualidade e a audiência estão muito abaixo da líder.
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