Eu tinha cá as minhas dúvidas de que o Pedro Bial (foto) cumpriria, na TV Globo, TV  feita para a massa, a proposta de abordar uma quetão por pontos de vista  variados. Tudo bem que isso tenha sido feito anos atrás, nos anos 60,  pelo TV de Vanguarda, programa do Fernando Barbosa Lima, com plena  coerência ao nome. Mas é que a TV, como diriam os Titãs, me deixou  burra, muito burra demais nos últimos 30 anos. Parece que já não somos  capazes de dizer ou de ouvir na TV o que ouvimos e vemos dos vizinhos,  no estádio de futebol ou no táxi. Parece que o pudor de fachada dominou  determinados ambientes, e fazemos daí aquela cara de paisagem de quem  precisa agradar ao maior número de pessoas, sem tomar partido de A ou B.
Como diria Nelson, o Rodrigues, estou com minha cara no chão. O Bial  já abriu o programa, sobre politicamente incorreto, perguntando se o  certo seria falar “bicha”, “veado” ou “homossexual”? Ufa, alívio, ele  vai escancarar o verbo. Vai dar aos bois os nomes que ele têm. Falamos  em negro, afro-descendente, preto ou moreno? Cantamos “atirei o pau no  gato” para matar o bichino de fato? Maria Paula supera as versões  conhecidas para contar, lânguida como sempre, que conhece uma versão em  que se diz “Me atirei no pau do gato”. Furor na plateia. Chocou? Muda de  canal, mas o mundo lá fora não tem todo esse verniz que a gente tem  procurado para revesitr a tal janela para o mundo que atribuem à  televisão.
Melhor, sempre, preferir a transparência e discutir a relação, assim, se possível com algum humor e música.
Sim, o programa de estreia acusa enfim a existência de um bom  programa na TV aberta. Estofado, com convidados capazes de divergir,  embora Bial, nesse caso de primeira edição, especificamente, tenha  tomado evidente partido contra o autor da cartilha politicamente  incorreta. O.k., estou de acordo com essa posição, que boa parte do que  lá está me arrepia, mas eu não sou a mediadora de um programa que se  dispõe a ouvir todos os lados, sou telespectadora. A ele, Bial, resta  alguma discrição na hora de mostrar opinião. Ou, vai ver, nem isso, é  honesto que ele demonstre o que pensa.
E a grande diferença entre o Bial e a Fátima Bernardes, dois  jornalistas criados sob as rédeas politicamente corretas (de acordo com o  contexto de cada época) do telejornalismo do doutor Roberto é que ela  esteve na bancada do "JN" nos últimos anos, e ele, no papel de showman do  reality show mais visto do País. Faz toda a diferença. Sobra a ele a  segurança de quem põe ponto de exclamação e interrogação incisiva no que  diz. Falta a ela o tempero de quem foi treinada para não se envolver  com a notícia. Bial já tem o pé no show que liberta todo jornalista, e  para isso, amém, até que o "Big Brother Brasil" lhe prestou algum serviço.
Mas Fatiminha chega lá, quero crer.
"Na Moral" é bem costurado, bem editado, bem musicado, com cenário que  prima pela simplicidade. Vida longa a discussões capazes de acrescentar  algo ao conteúdo ou à reflexão da plateia.