Dois anos e quatro meses atrás, um jovem repórter chegou ao ninho de "cobras" esportivas da Rede Globo, em São Paulo. Com 1m76 e faculdades de Jornalismo e psicologia na bagagem, ele passou a fazer reportagens para a Globo. Algumas, sobre games, geraram até certo resmungo entre alguns colegas veteranos, que não gostavam ou não entendiam o assunto.
O choque mesmo -- e muita irritação -- viriam quatro meses depois da chegada de Tiago Leifert, 30, à redação de esportes da Globo. Um comunicado interno informava que aquele jovem jornalista era o novo editor-chefe e apresentador do "Globo Esporte".
"Eu entendo perfeitamente o que ocorreu. Chega um cara, moleque, filho de diretor da Globo (Gilberto, diretor de Relações com o Mercado) e em quatro meses ele é lançado a um posto desses? É humano, é claro que muita gente não gostou e que passou a provocar, a fazer fofoca", diz o apresentador em entrevista exclusiva num lounge da sede da Globo, no Brooklin, na semana passada.
"O primeiro dia foi OK, mas no dia seguinte e nas três semanas seguintes, tudo que podia dar errado, deu", lembra Leifert. Houve resistência ao novo formato, ao fato de não se usar mais teleprompter, e, principalmente, houve dificuldades em entrosamento. Ao ponto de Leifert ter demitido dois funcionários de sua equipe de 9 pessoas, por terem abertamente travado uma batalha contra ele e se colocado contra o novo "Globo Esporte".
"Numa equipe de 9, duas pessoas é muita coisa.Você não sabe o que e quanto eu ouvi de críticas nos primeiros meses", conta.
"Eu ficava ouvindo piadinha e ironias na cantina, nos corredores, em todo lugar. Sabe o que é você estar tentando fazer algo novo, que você sabe que é legal, e ter de ouvir gente todo dia falando: ‘Aí, hein? Monte de erros hoje, hein? Tiago’; ‘E aí? Quanto tempo você acha que vai durar?’ Isso foi realmente doloroso", relembra ele, que diz ter sido massacrado também pela chamada "crítica televisiva".
Segundo Leifert, um colega veterano da Globo (que ele se recusou a identificar) chegou a pará-lo no corredor. "Ele botou a mão no meu ombro e disse que não tinha nada contra mim, mas que tinha de dizer que o novo "GE" não ia dar certo, que eu não era bom apresentador e que o formato era ruim. Ele me disse ainda que estava lá havia muito tempo, e que sabia que era questão de tempo para tudo aquilo (o novo "GE") acabar.
Mas as três semanas de tormento acabaram. A equipe se uniu, o pessoal de imagem e edição se enturmou com o apresentador, os poucos erros que ocorreram acabaram virando alvo de piada do próprio apresentador no ar, e o programa finalmente decolou. Em 2010, o "Globo Esporte", em São Paulo, foi o único programa da TV Globo que realmente ganhou audiência.
Enquanto isso, os elogios começaram a pipocar aqui e ali na imprensa, começaram a grassar felicitações de telespectadores, prêmios em toda a parte... e Tiago Leifert virou quase uma unanimidade no mundo da TV. A teimosia, o esforço e o sucesso foram reconhecidos pela direção da Globo, que lhe deu o comando do principal programa esportivo da casa durante a Copa do Mundo da África.
"Eu sei que fui bombardeado por todos os lados. O problema é que eu tive garantia profissional do pessoal acima de mim (direção), sabe? Foi a direção que bancou o projeto e o novo formato".
Sobre o colega, que lhe parou no corredor para fazer previsões de cassandra, Leifert diz que exatamente um ano depois, o mesmo colega lhe parou no mesmo lugar e se desculpou. "Ele disse que tinha errado, que dava o braço a torcer, e que o ‘Globo Esporte’ estava ótimo. Eu fiquei feliz. Mas, da mesma forma que não me abati por uma crítica, também não vou me sentir o bonzão porque ouvi um elogio. Só quero continuar meu trabalho."
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