O namoro
entre Marina e Clara (Tainá Müller e Giovanna Antonelli na foto acima) na novela "Em
Família", da Rede Globo, desagrada aos homossexuais. Para entidades defensoras
da causa gay, a relação entre elas não é levada a sério pela emissora e
passa a impressão de ser só um fetiche. Militantes apontam retrocesso
em relação à novela anterior, Amor à Vida, que terminou com o beijo
entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso).
Depois de quase quatro meses apenas na "paquera", a fotógrafa e sua assistente vão assumir o romance na semana que vem. A primeira cena delas como um casal será exibida no dia 11, quando a novela dará um salto de alguns meses após Clara se separar de Cadu (Reynaldo Gianecchini).
Porém, o casal Clarina não vai se beijar ou ter cenas de intimidade como qualquer outro da trama, mantendo o amor lésbico de forma velada. Quem perder a passagem de tempo ou o capítulo desse dia, corre o risco de nem perceber que elas estão namorando. O salto no tempo, aliás, é apenas um recurso dramatúrgico do autor Manoel Carlos para apresentar o casal de namoradas sem mostrar o primeiro beijo entre elas. Beijo? Só na última semana da novela e o menos erótico possível.
A jornalista Malu Verçosa, que é casada com a cantora Daniela Mercury, cuja a história inspirou o autor Manoel Carlos a criar o casal Clarina, diz que a novela deveria mostrar o começo dessa relação como faz com os heterossexuais, como é o caso de Luiza (Bruna Marquezine) e Laerte (Gabriel Braga Nunes).
"Eu e Daniela nos beijamos em qualquer lugar. Não digo beijo de língua, mas um selinho. Isso é natural entre duas pessoas que se amam. Quando isso deixar de ser raro, será o ideal. Os moralistas sempre alegam que não pode mostrar por causa das crianças, mas elas assimilam isso muito tranquilamente. Nossa filha pequena, de 4 anos, nunca estranhou", conta Malu.
A mulher de Daniela Mercury compreende que Clara demorou para assumir o romance porque o marido ficou doente e porque tem um filho. Porém, não entende o motivo de a trama pular o começo dessa relação. Ela defende que a novela deve avançar na intimidade das duas. "Esse negócio de beijo no último capítulo já aconteceu. Agora tem de mostrar mais. Todo casal hétero aparece na cama, não transando, mas em cena de intimidade. Tem de ter cenas delas assim também", reivindica.
A atriz Giovanna Antonelli sai em defesa da história do casal homossexual de "Em Família". "A nossa história é muito diferente da que foi contada na novela anterior", diz, referindo-se ao fato de Clara ser casada, ter um filho e estar descobrindo outra forma de amar. "Eu a acho corajosa. O que vai acontecer a gente não sabe. Não tenho torcida porque não adianta ter. Vamos fazer o que estiver escrito. Estou ali só para trabalhar. Se tiver beijo, vou fazer da melhor maneira”, afirma.
Entidades veem retrocesso
No capítulo de sexta-feira (6), Clara e Marina terão um momento só delas, saindo para passear juntas. Durante o jantar num restaurante, a fotógrafa aparecerá esfregando suavemente seu pé na perna da mulher de Cadu por baixo da mesa. Marina vai se declarar mais uma vez e dirá "te amo, te amo, te amo" ao receber um presente da ainda "amiga".
A cena é emblemática do incômodo que o casal lésbico, rejeitado pela maioria em pesquisas, se tornou para a Globo: o gesto que marca o início do namoro das duas é uma leve roçada de perna, por debaixo dos panos, sem ninguém ver.
Para a integrante da Liga Brasileira de Lésbicas Syr-Daria Carvalho Mesquita, houve um retrocesso na representação da homossexualidade nas novelas após o beijo entre Félix e Niko. "[Clara e Marina] é um casal esquisito. A relação delas é como se fosse um fetiche de duas mulheres juntas. Elas vivem somente uma brincadeira, não há amor", critica a ativista, presidente da Articulação Paranaense de Lésbicas.
Se o romance lésbico de "Em Família" tem forte repercussão na internet por meio dos fãs de Clarina, ele não é discutido nos grupos defensores da causa gay por não ser assumido. Ou seja, as lésbicas não reconhecem Clara e Marina um casal. Para o Grupo Dignidade, um dos pioneiros na defesa do direito homossexual, o namoro escondido não ajuda a quebrar o preconceito contra gays.
"Esse amor velado não vai colaborar na construção de uma sociedade sem preconceitos. Parece que há uma má gestão de quem faz a novela, como se estivessem com medo. A novela poderia aprofundar a convivência do casal, porque muitas mulheres sofrem violência por causa disso", sugere Rodrigo Cardoso, membro do Grupo Dignidade que assumiu a homossexualidade após o beijo gay em "Amor à Vida".
Consultado, Manoel Carlos não respondeu até a conclusão deste texto.
Depois de quase quatro meses apenas na "paquera", a fotógrafa e sua assistente vão assumir o romance na semana que vem. A primeira cena delas como um casal será exibida no dia 11, quando a novela dará um salto de alguns meses após Clara se separar de Cadu (Reynaldo Gianecchini).
Porém, o casal Clarina não vai se beijar ou ter cenas de intimidade como qualquer outro da trama, mantendo o amor lésbico de forma velada. Quem perder a passagem de tempo ou o capítulo desse dia, corre o risco de nem perceber que elas estão namorando. O salto no tempo, aliás, é apenas um recurso dramatúrgico do autor Manoel Carlos para apresentar o casal de namoradas sem mostrar o primeiro beijo entre elas. Beijo? Só na última semana da novela e o menos erótico possível.
A jornalista Malu Verçosa, que é casada com a cantora Daniela Mercury, cuja a história inspirou o autor Manoel Carlos a criar o casal Clarina, diz que a novela deveria mostrar o começo dessa relação como faz com os heterossexuais, como é o caso de Luiza (Bruna Marquezine) e Laerte (Gabriel Braga Nunes).
"Eu e Daniela nos beijamos em qualquer lugar. Não digo beijo de língua, mas um selinho. Isso é natural entre duas pessoas que se amam. Quando isso deixar de ser raro, será o ideal. Os moralistas sempre alegam que não pode mostrar por causa das crianças, mas elas assimilam isso muito tranquilamente. Nossa filha pequena, de 4 anos, nunca estranhou", conta Malu.
A mulher de Daniela Mercury compreende que Clara demorou para assumir o romance porque o marido ficou doente e porque tem um filho. Porém, não entende o motivo de a trama pular o começo dessa relação. Ela defende que a novela deve avançar na intimidade das duas. "Esse negócio de beijo no último capítulo já aconteceu. Agora tem de mostrar mais. Todo casal hétero aparece na cama, não transando, mas em cena de intimidade. Tem de ter cenas delas assim também", reivindica.
A atriz Giovanna Antonelli sai em defesa da história do casal homossexual de "Em Família". "A nossa história é muito diferente da que foi contada na novela anterior", diz, referindo-se ao fato de Clara ser casada, ter um filho e estar descobrindo outra forma de amar. "Eu a acho corajosa. O que vai acontecer a gente não sabe. Não tenho torcida porque não adianta ter. Vamos fazer o que estiver escrito. Estou ali só para trabalhar. Se tiver beijo, vou fazer da melhor maneira”, afirma.
Entidades veem retrocesso
No capítulo de sexta-feira (6), Clara e Marina terão um momento só delas, saindo para passear juntas. Durante o jantar num restaurante, a fotógrafa aparecerá esfregando suavemente seu pé na perna da mulher de Cadu por baixo da mesa. Marina vai se declarar mais uma vez e dirá "te amo, te amo, te amo" ao receber um presente da ainda "amiga".
A cena é emblemática do incômodo que o casal lésbico, rejeitado pela maioria em pesquisas, se tornou para a Globo: o gesto que marca o início do namoro das duas é uma leve roçada de perna, por debaixo dos panos, sem ninguém ver.
Para a integrante da Liga Brasileira de Lésbicas Syr-Daria Carvalho Mesquita, houve um retrocesso na representação da homossexualidade nas novelas após o beijo entre Félix e Niko. "[Clara e Marina] é um casal esquisito. A relação delas é como se fosse um fetiche de duas mulheres juntas. Elas vivem somente uma brincadeira, não há amor", critica a ativista, presidente da Articulação Paranaense de Lésbicas.
Se o romance lésbico de "Em Família" tem forte repercussão na internet por meio dos fãs de Clarina, ele não é discutido nos grupos defensores da causa gay por não ser assumido. Ou seja, as lésbicas não reconhecem Clara e Marina um casal. Para o Grupo Dignidade, um dos pioneiros na defesa do direito homossexual, o namoro escondido não ajuda a quebrar o preconceito contra gays.
"Esse amor velado não vai colaborar na construção de uma sociedade sem preconceitos. Parece que há uma má gestão de quem faz a novela, como se estivessem com medo. A novela poderia aprofundar a convivência do casal, porque muitas mulheres sofrem violência por causa disso", sugere Rodrigo Cardoso, membro do Grupo Dignidade que assumiu a homossexualidade após o beijo gay em "Amor à Vida".
Consultado, Manoel Carlos não respondeu até a conclusão deste texto.
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