A sequência não terá sexo explícito, mas será muito intensa, com beijo na boca. O roteiro pede "um beijo represado, afoito, desesperado, angustiado". Em seguida, Tolentino "tira a camisa. André engole em seco. Tolentino o empurra para a cama. André cai sentado. Começam a transar. Uma transa urgente, adiada, bruta e tão ansiada", escreveu Teixeira.
A primeira relação sexual entre dois homens completará um ciclo que começou com o primeiro beijo gay, na novela "Amor à Vida", em janeiro de 2014, e continuou com sexo entre duas mulheres na minissérie "Felizes para Sempre?" (2015), estrelada por Paolla Oliveira e Maria Fernanda Cândido.
Maria Immacolata Vassallo de Lopes, coordenadora do Centro de Estudos de Telenovela da Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo), diz que a transa homossexual de "Liberdade, Liberdade" representa um avanço na abordagem ao tema. "É um fato inédito. Vejo como uma conquista, lembrando que no passado o beijo gay foi censurado. A Gloria Perez relatou que tinha escrito um beijo entre dois homens em "América" (2005), que foi cortado. As novelas estão avançando no tema. O horário da trama, o atual momento social, é tudo oportuno".
A especialista, que acompanha a evolução das relações homoafetivas nas novelas, afirma que foi um marco na história a audiência torcer pelo beijo entre Félix (Mateus Solano) e Nico (Thiago Fragoso) no final de "Amor à Vida".
"Liberdade, Liberdade" irá além. Os personagens de Ricardo Pereira e Caio Blat estarão atormentados com a atração e o amor que se sentem um pelo outro na trama, que se passa em 1808. A homossexualidade era chamada de sodomia e classificada como crime de lesa-majestade, cuja punição era a morte na forca. A amizade entre o coronel Tolentino e o fidalgo afeminado André foi crescendo aos poucos desde a segunda semana do mês de maio.
Os dois já protagonizaram algumas cenas de afeto que indicavam que um beijo iria acontecer, mas sempre havia algo os interrompia. No capítulo do dia 12, mais uma vez, Tolentino tentará resistir, mas tomará a iniciativa do sexo após um beijo intenso.
O autor Mario Teixeira escreveu acontecimentos fortes que levarão ao momento de entrega entre os dois. Tolentino fracassará em uma busca a presos foragidos e será humilhado por Rubião (Mateus Solano). André não permitirá que ele se deprima e será extremamente carinhoso. O coronel reconhecerá que o filho de Raposo (Dalton Vigh) é um homem especial em sua vida, gerando um clima.
Medo e desejo
O roteiro entregue aos atores mescla o medo de Tolentino em assumir seus sentimentos com o desejo pelo sexo. Arrasado por ter sido humilhado por Rubião, ele chegará ao seu quarto reclamando. André o confortará. "Você, André. Que é sensível. Capaz de entender os mistérios da vida. As voltas que o mundo dá. As surpresas que a vida nos reserva", dirá o coronel. "Inclusive as surpresas sobre nós mesmos?", indagará o irmão de Joaquina (Andreia Horta).
Tolentino, ainda tímido, responderá que sim: "Você mesmo me disse um dia. Que todos temos uma segunda natureza. Que, às vezes, permanece oculta", dirá. "Mas não para sempre", retrucará André, olhando o amigo nos olhos. "Não. Não para sempre", concordará o coronel.
Eles vão se abraçar e surgirá um clima para um beijo, só que Tolentino virará o rosto. Mas ele não resistirá, beijará e fará sexo com o amigo. Depois, o público verá o coronel sair desnorteado, com o sol raiando, apressado para se apresentar ao trabalho, na intendência de Vila Rica. André surgirá em seguida, tomando um café, aéreo.
No próximo encontro deles, Tolentino vai rejeitar o amigo, preferirá fingir que nada aconteceu. Eles se encontrarão no bordel de Virgínia (Lilia Cabral), e o coronel fará de tudo para provar que gosta de mulher, agarrando a prostituta Gironda (Hanna Romanazzi) violentamente na frente do amigo e dizendo que vai "tirá-la da vida e torná-la sua mulher".
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