Confira, a seguir, o que Patrícia disse na entrevista exclusiva que concedeu à atração matinal da Rede Globo:
Por que o xingamento de "macaco"?
Foi no impulso, no jogo, a gente tava perdendo de 2 a 0, fui junto com a torcida e nossa rivalidade lá com o Inter, eles são…o mascote deles é o macaco.
Mas aquele jogo era contra o Santos, não era contra o Inter, né?
Mas contra o Bahia a torcida cantou a musiquinha que refere o Inter.
Naquele momento - e não era só você, tinham outras pessoas ali, não era a única a fazer o xingamento, havia som de macaco -, vocês percebem o desconforto no jogador? É com o objetivo de tirar realmente ele do sério, tentar de uma certa forma atrapalhá-lo? Você percebia e os outros que ele ficou desconfortável com aquela situação?
Sim.
E mesmo assim vocês achavam que valia a pena, naquele momento, fazer esse tipo de acusação?
É que eu fui junto com a torcida.
Você falou que em outros momentos já usavam esses termos, não é isso?
Sim.
Você já usou ‘macaco’ para outras situações, essa palavra?
Sim… (pausa), mas não pra ofender.
O que você sentiu? Logo que saiu do estádio, você já sabia que a sua imagem estava nas redes sociais? Em que momento você percebeu a dimensão do que aconteceu ali?
É que na Arena [estádio do Grêmio] não pega celular, a minha operadora não pega. Nem internet nem nada. Quando eu saí da Arena, lá pela avenida Sertório, onde meu celular toda hora começou a tocar.
Quem que começou a tocar?
A minha madrinha, que é a minha irmã, uma amiga minha, meus irmãos.
Todo mundo dizendo o quê pra você?
Tu viu o que tu fez. Tá aparecendo na TV, estragou com a tua vida.
Que sentimento você tem? Arrependimento?
Sim, lógico.
De medo?
Também. Tô sendo ameaçada. Na minha casa eu não vou mais. Eu tô pulando de galho em galho.
O que você acha dessa campanha que tá a todo momento contra o racismo nos estádios e no futebol?
Eu sou a favor, parar com o racismo, mas perdão pro Aranha, se puder abraçar ele para ele ver que eu não sou uma pessoa ruim como dizem.
Você tem amigos negros. Se um amigo seu estivesse na rua e fosse xingado de ‘macaco’, o que você acharia?
Eu não ia gostar.
Você viu aquela situação de terem jogado uma banana do Daniel Alves e que ele comeu a banana e tudo? Lembra desse momento?
Sim.
Nem num momento desses vocês chegaram a conversar, com seus amigos: ‘nossa, vira e mexe a gente fala alguma coisa que…’?
Meus amigos que eu ando eles não vão nos estádios. Eu vou sozinha.
Você falou que as pessoas da sua família ligaram pra você. Como elas estão hoje vendo a sua situação?
Elas estão do meu lado. Sinto que eu tenho uma família linda, que gosta muito de mim, muito, muito. Estão sempre comigo.
Você falou que se arrepende e que gostaria dee dar um abraço no Aranha. Não é melhor você falar isso diretamente pra ele, dizer do que tá sentindo e do que você se arrepende de ter feito?
Eu quero que ele conheça a pessoa que eu sou, não como a torcedora que ele me viu naquela hora, ali. Tava nervosa, tava triste, meu time perdendo, nunca vi meu time ganhar nada. Eu era colorada quando criança.
Você era Inter? A família toda é?
Eu era. Fui comprada com uma bicicleta.
Como é? Explica a história.
Eu deveria ter uns 7 anos. Meu padrinho [disse]: ‘vira gremista que eu te dou uma bicicleta’. E o pai do meu amigo: ‘ah, colorado não entra aqui’. Porque eu sempre brincava com ele, tava sempre junto e eu virei gremista.
O que você achou da decisão de punir o clube que torcedores agredirem, verbalmente, com injúrias ou provocarem atos de racismo?
Não achei legal a punição do Grêmio de ser expulso da Copa do Brasil.
Será que não pode ser uma forma das pessoas refletirem? Será que você não iria parar pra pensar mais se soubesse que poderia prejudicar o seu time?
Também [respondeu com cara de dúvida].
Será?
Sim, eu pensaria duas vezes, mas não foi só eu. Teve outras pessoas, também.
Quando você xingou o Aranha, chamou-o de ‘macaco’. Perto de você, tava um grupo de torcedores que imitou som de macaco. Você percebeu, você ouviu?
Não quis ofender o Aranha, não foi diretamente pra ele. Foi a questão do jogo ali, de querer pelo menos um gol, mas eu tava longe do grupo, não tava perto e não ouvi. Só ouvi a palavra ‘macaco’.
Outras pessoas gritaram?
Sim.
Tem mais alguma coisa que você quer dizer? E o que você aprendeu com tudo o que tá passando?
Aprendi a respeitar o próximo, não ser maria-vaicom as outras, que a minha é mais importante. Hoje eu sei quem é meus amigos e quem não é. Foi uma lição geral.
Você acha que o seu comportamento vai mudar em relação aos estádios e passar a refletir de que mesmo que você não quisesse, como você disse, xingar, falar para alguém que é ‘macaco’ é uma ofensa racial?
Vai. Fátima, eu quero pedir desculpas para a comunidade…hã… negra, desculpa às pessoas que se sentiram ofendidas.
Rogério Jovaneli
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