Ao longo de 52 minutos, o que se viu foi um grande esforço de reportagem. Em nome de uma boa pauta, a equipe, que contou com o produtor Leandro Sant'Anna e os repórteres Raul Dias Filho e Michael Keller, viajou à Europa, ao Mato Grosso, ao interior de São Paulo e, finalmente, ao Paraguai, onde o suspeito se encontrava, vivendo numa mansão com a mulher e dois filhos. Com tempo para contar a história, a matéria fugiu ao que se esperava. A prisão já não era novidade. O que havia de exclusivo era o custoso processo de investigação e checagem de informações que levariam ao paradeiro do fugitivo. Um quebra-cabeças foi montado aos olhos do espectador. Os jornalistas tiveram acesso ao interior de uma fazenda repleta de objetos pessoais do médico. Conversaram com vizinhos. Descobriram o esquema de envio de dinheiro para outro país. Desvendaram um código utilizado para facilitar a comunicação com parentes. Do início ao fim, um trabalho repleto de cuidado e esmero.
Chama atenção, no entanto, a maturidade da equipe que, mesmo tendo em mãos material exclusivo, preferiu não apenas esperar para usá-lo em telejornais da casa, mas também colaborar com as autoridades. Foi também graças ao trabalho da produção que o esforço entre as polícias do Brasil e do Paraguai culminou na prisão. Ficou pressuposto que houve troca de informações entre as partes. E, para sorte de quem esperava por Justiça, o desfecho foi o esperado. Resta às vítimas esperar que ele cumpra parte dos 278 anos aos quais foi condenado.
Não é novidade que jornalísticos dominicais, ao tentar voltar as atenções apenas para o entretenimento ou para formatos inusuais acabam por perder público. Isso porque ignoram que sua matéria-prima é a grande reportagem. O "Domingo Espetacular" acertou com esta e tem apostado corretamente neste caminho. Deu uma aula. Provou que o jornalismo tem, sim, o poder de colaborar para uma sociedade mais justa.
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