Nas últimas cinco décadas, só o Ibope mediu a audiência das TVs
brasileiras, ao ponto de virar verbete de dicionário. Nesta segunda à
noite, porém, a GfK se apresenta ao mundo publicitário em evento em São
Paulo.
Parece pouca coisa, mas a entrada da empresa alemã no país já "chacoalha" o universo das TVs e publicitário.
Acontece que qualquer anunciante que se dispõe a gastar dezenas, às
vezes centenas de milhares ou milhões de reais em campanhas na TV,
precisa ter certeza de que a propaganda trará impacto e, principalmente,
mais consumidores para sua marca.
Até hoje, a única empresa a dar essa informação às agências foi o Instituto Ibope. A partir de agora, terão também o GfK.
Para emissoras de TV brasileiras, a chegada da concorrente do Ibope já
causou racha: as redes Record, SBT e RedeTV! se uniram em apoio à nova medição e
fizeram contratos milionários com a novata alemã.
Já a rede Globo recusou entrar no "pool" inicialmente e disse que continuará "operando" pelo Ibope.
A rede Bandeirantes havia entrado no grupo pró-GfK inicialmente, mas o custo elevado
do serviço, mais a crise atual e câmbio "maluco" acabou por fazê-la
desistir ou adiar o serviço.
Pode até ser que a
Globo tente olhar só para o Ibope, mas se houver diferenças
significativas de perfil e ou de dados entre Ibope e GfK – como verão
abaixo –, a emissora não poderá ignorar isso. Tampouco o mercado
anunciante.
Quem recebe os aparelhos?
Tanto Ibope como GfK começam tudo pelos dados do Censo do IBGE: classe
social, escolaridade, estado civil, número de filhos, filiação,
endereço, salário, tudo isso é analisado antes de uma pessoa ser
"candidata" a ter em casa um aparelhinho medidor de audiência.
Antes disso correr, porém, os institutos fazem uma pesquisa
socioeconômica detalhada e demorada, entrevistas, cálculos etc., que, no
fim das contas, desembocarão numa lista de candidatos a ter um ou mais
medidores de audiência em casa.
Não há
vantagem econômica. Quem tem aparelhinho em casa não recebe nada de
grande valor, apenas alguns prêmios simbólicos. É pouco, porque esses
aparelhinhos são um tanto invasivos e incômodos: é preciso sempre
informar quantas pessoas estão no ambiente naquele momento; quando
alguém muda de canal para ver seu programa preferido; se a TV no outro
cômodo da casa está ligada também, quem está lá etc. etc.
As duas empresas têm mais ou menos o mesmo universo sendo medido: mais
ou menos umas 6 mil casas em todo o país, nas quais estão instalados uns
11 mil aparelhinhos.
Segundo esta coluna
apurou, uma diferença entre ambas é o fato de o GfK ter realizado uma
pesquisa socieconômica "fresquinha": foram quase 70 mil
entrevistas/pesquisas realizadas nos últimos meses.
O Ibope também tem um número parecido de pesquisados, mas até
recentemente vinha apenas "atualizando" essa pesquisa dentro do,
aparentemente, mesmo universo de pesquisados com que sempre trabalhou.
Foi só depois que o GfK chegou que o Instituto anunciou que faria
outras cerca de 27 mil entrevistas/pesquisas (novas) ainda este ano.
Veja as primeiras diferenças entre Ibope e Gfk
As informações a seguir foram obtidas mediante fontes que não podem se
identificar, que tiveram acesso a alguns dados da GfK. As conclusões a
seguir são iniciais, baseadas nos primeiros lotes de dados e ainda podem
mudar:
1) GfK vê mais TVs ligadas que Ibope: Enquanto
o Ibope vê alguma coisa entre 32% e 34% de aparelhos de TV ligados na
média das 24 horas, em todo o país, o GfK estaria registrando 10% a
mais. Parece pouco, mas não é: qualquer variação de TVs ligadas nas
faixas horárias pode influenciar uma agência ou anunciante a ter ou não
sua marcada veiculada naquele horário.
Além
disso, faixas com mais aparelhos de TVs sintonizados são mais caras
(domingo à noite, por exemplo, horário nobre etc). Por outro lado alguns
anunciantes sem muito dinheiro para grandes campanhas preferem
justamente anunciar em horários com menos TVs ligadas porque isso não só
barateia o anúncio como causa alteração no perfil do público. Eis
porque você vê sempre programas caça-níqueis de madrugada ou logo ao
raiar do dia: são horários mais em conta para o anunciante.
2) GfK vê menos TV paga ligada que o Ibope: Nos
dados de agosto e setembro, o Ibope apontou que a TV paga (a soma de
todos os canais pagos, excluídos os canais abertos que também são
exibidos na TV paga) no país obteve uma média na casa dos 8,7 pontos nas
24 horas do dia (cada ponto vale por 233 mil domicílios, segundo o
Ibope).
O GfK até o momento estaria vendo esse
índice um pouco menor, também em torno de 10% menor que os do Ibope,
segundo os dados iniciais. Se os dados da empresa alemã estiverem mais
corretos que os do Ibope, isso seria, por exemplo, mais um baque para as
operadoras e a ABTA: elas já amargam o pior ano do setor, com
estagnação de novas assinaturas, cancelamento das antigas, concorrência
da TV via streaming, mais barata, fora a pirataria que grassa.
Hoje a soma da TV paga é o segundo maior ibope da TV brasileira nas 24 horas: só perde para a rede Globo.
3) TVs abertas têm mais público do que Ibope diz: Conforme esta coluna antecipou no mês passado, o instituto alemão já identificou que Record e SBT têm mais ibope do que o Ibope informa.
Bem, uma olhada mais atenta sobre os primeiros dados mostra que, não só
essas duas, mas a líder Globo também tem um pouco mais de audiência do
que o Instituto Ibope diz.
O porém é que, pelo
GfK, a diferença entre Globo e Record, por exemplo, é menor do que a
que conhecemos hoje. A "diferença" entre entre as emissoras, pelas duas
medições, são pequenas, mas relevantes.
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