Em 2007, Justus tirou Neves da Record com a promessa de transformá-lo, na Rede Bandeirantes, no Silvio Santos do futebol. Neves abriu mão do contrato estável e do alto salário que tinha na Record. O projeto na Bandeirantes foi cancelado um mês depois. E Neves se viu desempregado. Foi parar no hospital.
Escrito por Cláudio Tognolli e André Rosemberg, o livro de Milton Neves será lançado no próximo dia 11, às 19h, no Centro de Convenções do Shopping Frei Caneca, em São Paulo.
Na última quinta, Milton Neves recebeu o Notícias da TV para falar da biografia em seu escritório, na avenida Paulista, onde possui um quarto com cama e closet - e pernoita duas vezes por semana.
Durante duas horas, riu e se emocionou. Ele falou sobre família e trabalho, as dificuldades que passou ao chegar em São Paulo, o início de carreira como repórter de trânsito na rádio Jovem Pan e as desavenças com Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, com Jorge Kajuru e, obviamente, com Roberto Justus.
Procurado, Roberto Justus, por meio de sua assessoria, preferiu não se manifestar antes de a entrevista ser publicada.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Notícias da TV - Por que o sr. decidiu escrever esse livro?
Milton Neves - Insistentemente, fui procurado pelo [jornalista] Claudio Júlio Tognolli, mas ele foi escrito por André Rosemberg. Eu não sabia que fazer livro era tão difícil, importante, demorado, e também não sabia que eu tinha tanta história para contar. E vou lançar mais dois livros já no ano que vem.
Notícias da TV - Como foi o começo de sua aventura em São Paulo?
Neves - Foi difícil. Cheguei em São Paulo em 1972 para fazer faculdade no Objetivo. Morei num porão, tinha que pagar comida, pensão e a faculdade. E a minha tia, que estava em Muzambinho (sua cidade natal, em Minas), disse: "Não dá! Não tenho condição de pagar" (nesse momento, Neves se emociona e chora). Mas um professor me indicou para um teste na Jovem Pan, [que tinha parceria com a faculdade para bolsas]. Passei e me colocaram como repórter de trânsito, setorista do Detran.
Notícias da TV - No livro Ninguém Faz Sucesso Sozinho, Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, dono da Jovem Pan, disse que o senhor foi a maior decepção na vida dele. Tudo teria começado por conta do registro da marca Terceiro Tempo. Qual é a sua versão?
Neves - No começo dos anos 1990, a TV Manchete me procurou para fazer um Terceiro Tempo. Eu pedi autorização ao "Seu" Tuta para utilizar a marca na TV, mas ele disse: "Isso tem custo, isso tem custo. Se quiser registrar, pode registrar". E registrei. Entrei na televisão, mas comecei a faturar mesmo na Record, anos depois. E o homem [Tuta] ficou puto, enciumado. O meu nome sumiu das chamadas da rádio Jovem Pan. Domingo eu tinha sete horas de programa e passei a ter uma. Sumi do ar de janeiro a abril. Foi um assédio moral absurdo. No fim de maio de 2004, entrei na Justiça e pedi "demissão indireta". Estamos à espera da decisão da Justiça.
Notícias da TV - Vocês continuam trabalhando no mesmo prédio. E nunca mais se esbarraram?
Neves - Várias vezes. Certo dia, entrei no elevador e estava o "seu" Tuta com outros sete funcionários. Ele ficou de costa e disse: "Alguém tem sal grosso aí?" Foi uma coisa constrangedora. Mas hoje em relação ao Tuta, eu só tenho carinho e muita torcida pela saúde dele.
Notícias da TV - E o sr. relata o episódio com Roberto Justus em seu livro? O que aconteceu exatamente?
Neves - [Roberto Justus] É um dos caras mais inteligentes, brilhantes, poliglotas. Fala 300 línguas e, ao mesmo, é o sujeito mais gelado e cruel que eu conheci na minha vida. Ele me tirou da Record com a promessa de que eu seria o "Silvio Santos do futebol", tanto é que eu ia fazer cinco programas na faixa nobre por semana, mais um no domingo à noite, contrato de três anos.
Ele me seduziu. Mandou o [diretor] Hélio Vargas me procurar. E fui para a Bandeirantes. Depois de um mês, na semana que ia estrear, ele me telefona: "Resolvi abortar o negócio. Passa lá na minha agência que eu vou te pagar um mês". Na maior arrogância. Fui parar no hospital.
Notícias da TV - Então o sr. quase morreu após a notícia dada por Justus?
Neves - Cara, eu fui de ambulância para o [Hospital Albert] Einstein. O médico pegou a minha pressão e disse: "Olha, você só não morreu porque Deus não quis". Depois disso, o Justus me ligou marcando uma reunião. Eu saí do hospital de pantufa para essa reunião. A mudança desse cara de um mês para aquela reunião foi coisa da água para o vinho. Ele falou assim: "Pode processar. Tenho um batalhão de advogados".
Notícias da TV - Como é a sua relação com José Luiz Datena?
Neves - O Datena hoje é um grande amigo meu. Hoje conheço bem o Datena. Ele tem um coração maior do que a barriga, mas é muito influenciável. E o [Jorge] Kajuru envenenava muito o Datena. O Kajuru chegou um dia assustado no meu escritório e disse que a polícia de Goiás estava atrás dele e precisava de um lugar para se esconder. Eu o abriguei aqui. Mas esse cara, de um grande amigo, grande admirador, passou a me atacar. Coisa que não entendo até hoje. É um cara inteligentíssimo, mas ele trocou tudo isso pela agressão gratuita.
Notícias da TV - Já foi ameaçado por alguma torcida?
Neves - Só uma vez, quando eu estava embarcando para Miami, no aeroporto de Cumbica, um grupo de três torcedores do Cruzeiro me peitou. Nesse dia fiquei com medo.
Notícias da TV - Como foi a sua fase no Cidade Alerta, da Record?
Neves - O Cidade Alerta foi um inferno. Aquilo ali é muito pesado, mas tenho muita gratidão pela Record. Foram sete anos fantásticos.
Notícias da TV - Sente falta de apresentar programas de entretenimento?
Neves - Desde que seja na língua portuguesa, eu faço qualquer tipo de programa.
Notícias da TV - Apresentaria "A Fazenda", por exemplo?
Neves - Aquele programa é a minha cara. Olha para minha cara de fazendeiro. O Britto Jr. é muito ruim (risos).
Notícias da TV - O sr. morou numa pensão com outras 120 pessoas, só tinha duas camisas para ir à faculdade, foi chamado de "burro" em seu primeiro teste na Jovem Pan, e se autodefinia como um "Grande João Bosta". Mas e hoje, é dono de quantas empresas?
Neves - Tenho seis empresas no setor de agricultura, pecuária, comunicação e imobiliária.
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