Grande parte desse abalo deve-se a uma estratégia de exibição acertada para a novela. Com uma história universal, o folhetim bate de frente com o principal telejornal da Globo. Ultimamente, o público parece preferir as fantasias faraônicas ao noticiário da realidade socioeconômica e política brasileira.
Porém, é cedo para afirmar que a Record acertou a mão em sua dramaturgia. "Os Dez Mandamentos" é um caso de sucesso isolado, assim como foi a saga de "Os Mutantes" (2007/2009).
Desde a exibição de suas minisséries bíblicas, a emissora investiu e se aprimorou em um filão religioso e encontrou público fiel ali, mas quando decide produzir novelas com outras temáticas sofre com sua irregularidade, tanto que terceirizou a produção de "A Escrava-Mãe", que substituirá "Os Dez Mandamentos".
Obra aberta que é, a telenovela corre aos sabores do público, e "Os Dez Mandamentos" é uma prova bastante contundente disso: à resposta positiva da audiência, a Record decidiu esticá-la. Diante do sucesso alcançado, seria natural que a trama ganhasse mais capítulos. A Globo já fez isso diversas vezes, e a Record só copiou um modelo que deu certo. A diferença reside na falta de solidez em sua dramaturgia, marcada, sobretudo, pela oscilação na audiência de um produto para outro.
Espanta, porém, que "A Escrava-Mãe" entre no ar com todos os capítulos já gravados. A responsabilidade de manter os mesmos índices da atual trama é gigantesca, e tudo conspira para uma brusca queda de ibope, uma vez que o público da emissora já deu mostras de que as novelas bíblicas são o grande chamariz de seu catálogo.
O fato de que "Os Dez Mandamentos" agrada ao público não significa que o folhetim deva ser ad eternum. Ao priorizar um só produto, a novela bíblica, a Record comete um erro primário: não consolida em sua grade um gênero que, com o folhetim atual, confirmou ter força e respaldo do público, ainda que a produção em questão sofra com pequenos deslizes, como o didatismo do texto e erros de escalação no elenco - Juliana Didone (Leila) ser mãe de Igor Cosso (Bezalel), um ator com quase a mesma idade que ela, é uma dessas bizarrices gritantes.
Abrir um segundo horário de novelas seria uma opção para maturar e construir tradição em sua teledramaturgia. Em vez de colocar "A Escrava-Mãe" no lugar de "Os Dez Mandamentos", por que não dar continuidade às histórias bíblicas, com a já aprovada "Josué e A Terra Prometida" e deixar a produção enlatada para outra faixa horária?
Desse modo, a emissora manteria o público conquistado com sua atual novela e evitaria o desgaste que "Os Dez Mandamentos" pode sofrer com um eventual estica e puxa.
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