segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Sucesso de "Os Dez Mandamentos" é caso isolado

As pragas do Egito têm feito estrago na audiência da Rede Globo. A exibição das cenas em "Os Dez Mandamentos", a novela da Rede Record, vem atraindo cada vez mais público e abalando, ainda que levemente, as estruturas da concorrente. Nas duas últimas semanas, em pelo menos duas ocasiões "Os Dez Mandamentos" teve mais audiência do que "A Regra do Jogo" nos minutos em que confrontaram. Na última quinta, superou o "Jornal Nacional" durante 19 minutos, embora tenha perdido na média.
Grande parte desse abalo deve-se a uma estratégia de exibição acertada para a novela. Com uma história universal, o folhetim bate de frente com o principal telejornal da Globo. Ultimamente, o público parece preferir as fantasias faraônicas ao noticiário da realidade socioeconômica e política brasileira.
Porém, é cedo para afirmar que a Record acertou a mão em sua dramaturgia. "Os Dez Mandamentos" é um caso de sucesso isolado, assim como foi a saga de "Os Mutantes" (2007/2009).
Desde a exibição de suas minisséries bíblicas, a emissora investiu e se aprimorou em um filão religioso e encontrou público fiel ali, mas quando decide produzir novelas com outras temáticas sofre com sua irregularidade, tanto que terceirizou a produção de "A Escrava-Mãe", que substituirá "Os Dez Mandamentos".
Obra aberta que é, a telenovela corre aos sabores do público, e "Os Dez Mandamentos" é uma prova bastante contundente disso: à resposta positiva da audiência, a Record decidiu esticá-la. Diante do sucesso alcançado, seria natural que a trama ganhasse mais capítulos. A Globo já fez isso diversas vezes, e a Record só copiou um modelo que deu certo. A diferença reside na falta de solidez em sua dramaturgia, marcada, sobretudo, pela oscilação na audiência de um produto para outro.
Espanta, porém, que "A Escrava-Mãe" entre no ar com todos os capítulos já gravados. A responsabilidade de manter os mesmos índices da atual trama é gigantesca, e tudo conspira para uma brusca queda de ibope, uma vez que o público da emissora já deu mostras de que as novelas bíblicas são o grande chamariz de seu catálogo.
O fato de que "Os Dez Mandamentos" agrada ao público não significa que o folhetim deva ser ad eternum. Ao priorizar um só produto, a novela bíblica, a Record comete um erro primário: não consolida em sua grade um gênero que, com o folhetim atual, confirmou ter força e respaldo do público, ainda que a produção em questão sofra com pequenos deslizes, como o didatismo do texto e erros de escalação no elenco - Juliana Didone (Leila) ser mãe de Igor Cosso (Bezalel), um ator com quase a mesma idade que ela, é uma dessas bizarrices gritantes.
Abrir um segundo horário de novelas seria uma opção para maturar e construir tradição em sua teledramaturgia. Em vez de colocar "A Escrava-Mãe" no lugar de "Os Dez Mandamentos", por que não dar continuidade às histórias bíblicas, com a já aprovada "Josué e A Terra Prometida" e deixar a produção enlatada para outra faixa horária?
Desse modo, a emissora manteria o público conquistado com sua atual novela e evitaria o desgaste que "Os Dez Mandamentos" pode sofrer com um eventual estica e puxa.
 




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