Na TV Vanguarda, entre pitacos na programação e no conteúdo, Boni aposta no jornalismo para fazer a “TV do futuro”. Em entrevista ao Notícias da TV, o executivo, de 77 anos, comentou o atual momento de sua emissora e da televisão brasileira. Para Boni, a medição de audiência é benéfica para a produção de conteúdo, mas prejudica as estratégias de planejamento da programação.
NTV – Como o sr. encontrou a TV Vanguarda dez anos atrás e como ela está hoje?
Boni – Do ponto de vista do crescimento, quando compramos a TV Vanguarda, ela era composta por duas geradoras e 18 repetidoras. Hoje em dia, nós temos 53 repetidoras. E a Vanguarda é a primeira estação da Rede Globo em que todo o jornalismo e toda a produção local são 100% em alta definição. E agora nós estamos fazendo uma experiência nova, de estabelecer um ritmo muito maior do que o das outras emissoras, como os limites de tempo das vinhetas, para que ela tenha no ar uma presença muito parecida com a internet.
NTV – Essas mudanças fazem parte da chamada "TV do futuro", que as outras emissoras deveriam seguir?
Boni – Acho que sim. Já temos uma mudança de conteúdo muito grande na Vanguarda. O telejornal do meio-dia, por exemplo, tem uma hora de duração e não tem script [roteiro]. O programa trabalha com hashtag, em que o telespectador pode participar. Para você ter uma ideia, enquanto os telejornais do meio-dia das emissoras em geral têm de 7% a 8% de participação, o Jornal Vanguarda tem 28% em São José dos Campos. Ele dialoga com a cidade, é uma via de mão dupla. Também estamos usando bastante a madrugada para fazer coisas experimentais, de conteúdo conhecido, mas transmitido de uma maneira diferente.
NTV – Durante o período em que você está na Vanguarda, como as TVs em geral se comportaram?
Boni – A televisão ficou olhando o que está acontecendo. Ela entendeu que a TV por assinatura e a internet tinham que ocupar os seus espaços e ela ficou satisfeita com o que ela tinha. Acho que a televisão não podia fazer isso, deveria ter brigado mais, mas acho que ela vai fazer isso agora. Estou vendo que a última mudança da TV Globo [a de Carlos Henrique Schroder assumindo a direção-geral] está focada no jornalismo, está no caminho certo. Ela ainda não mostrou isso, mas parece que está se planejando.
NTV – O Ibope prejudicou a produção de conteúdo das TVs?
Boni – Não. O ibope só ajuda, porque é um instrumento de abalizamento, isso na produção. Do ponto de vista de estratégia de programação, se o cara correr atrás do Ibope, é um desastre.
NTV – A chegada do instituto alemão Gfk vai modificar a medição de audiência?
Boni – Não vai modificar nada, vai dar a mesma coisa que o Ibope, que é um instituto excelente. O Ibope não faz audiência, ele afere. O importante é saber como usá-lo. O ibope é um elemento extraordinário para usar na produção. Com estratégia de programação, ele é perigosíssimo, pode levar [a emissora] a cometer erros incríveis.
NTV – O sr. está fazendo a TV dos seus sonhos na Vanguarda?
Boni – Não, a TV dos meus sonhos é quando eu estou dormindo (risos).
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