Para o jornalista Luis Erlanger (foto), diretor da Central Globo de Comunicação, o que o "Jornal Nacional" apresenta todos os dias não é jornalismo.
“Não estou falando que jornalismo para mim é o Jornal Nacional. Jornalismo para mim é o Roda Viva”, disse Erlanger ontem, aparentemente sério.
O porta-voz da Globo, que foi irônico em boa parte de sua palestra no evento Sonhar TV, em São Paulo, fez a afirmação no contexto de uma crítica ao excesso de leis que regulamentam a televisão brasileira.
Ao criticar a obrigatoriedade de as redes de TV a veicularem 5% de jornalismo, Erlanger lembrou que até alguns anos atrás o SBT usava o "Programa do Ratinho" para cumprir a norma, pois produzia muito pouco telejornalismo. Em seguida, ele declarou seu conceito de jornalismo, que exclui o principal telejornal da Globo - e de toda a TV brasileira.
“O Brasil tem lei pra caramba”, desabafou o jornalista, de 57 anos.
O Sonhar TV é um projeto da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura que pretende discutir a “televisão dos sonhos” e propor uma política para o setor. Mantém um site, o www.sonhar.tv, em que profissionais e pensadores diagnosticam a TV brasileira e falam sobre o que gostariam de ver.
Censura
Para Luis Erlanger, há uma “escalada de patrulha e censura moral” no país e “vários fatores conspiram contra a televisão”. Ele citou a classificação indicativa feita pelo Ministério da Justiça e tentativas de criação de órgãos de controle público da mídia.
“Nós somos favoráveis à classificação indicativa. Somos contra a classificação impositiva”, disse, referindo-se ao fato de a classificação indicativa ser atrelada a horários - um programa impróprio para menores de 12 anos não pode ir ao ar antes das 20h.
Erlanger ridicularizou o argumento de técnicos do governo de que a classificação indicativa tem de ser como é atualmente porque muita criança passa o dia sozinha em casa.
“Problema de criança sozinha em casa não só a televisão. É o vizinho pedófilo, a faca na cozinha, a [revista] Playboy no banheiro”, disse.
O porta-voz da Globo também criticou as principais concorrentes da rede. Lembrou que o SBT já se manteve graças à Telesena, que a “parceira” Bandeirantes tem “um sistema de vender horário” e que a Record é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus.
Afirmou que a concessão de canais de TV segue “regras claras”, entre elas a de que políticos e igrejas não podem obtê-las. “Mas o Brasil tem dificuldade enorme de cumprir a lei”, alfinetou.
Erlanger, por fim, criticou a cobrança de que a TV tem de ser educativa. A educação, disse, é “papel do Estado”.
ATUALIZAÇÃO:
A seguir, carta enviada ao R7 por Luis Erlanger. O blog mantém todas as declarações publicadas:
"Num esforço para criar polêmica, o colunista Daniel Castro distorceu meu enfoque no seminário Sonhar TV, realizado ontem, em São Paulo, insinuando uma falsa e descabida afirmação sobre o jornalismo em geral e o Jornal Nacional em particular.
A leviandade é ainda maior por omitir que fui diretor editorial do Jornalismo da Globo, tendo como uma de minhas prioridades o JN. Que, vale registrar, é, entre todas as mídias, o jornalístico de maior reconhecimento pelos brasileiros.
O que questionei é que, pela exigência de cotas para Jornalismo, programas como o do Ratinho foram listados na mesma categoria de telejornais como o Jornal Nacional ou de programas como o Roda Viva, não cabendo a mim julgar nem um nem outro. Chega a ser curioso que tenha captado que em toda a minha fala o tom foi irônico e tenha tratado com seriedade essa comparação.
Reconheço que deve ser constrangedor para esta coluna ter que acolher essa explicação óbvia."
Luis Erlanger
Central Globo de Comunicação
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