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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"Casa dos Artistas" influenciou "Big Brother Brasil", diz diretor de "A Fazenda"


http://tv.i.uol.com.br/televisao/2010/11/02/rodrigo-carelli-diretor-do-reality-a-fazenda-3-da-record-1288728048950_560x400.jpg
Isolado em Itu, a cerca de 100 quilômetros de São Paulo, Rodrigo Carelli saboreia o sucesso da terceira edição de “A Fazenda”, hoje o programa de maior audiência da Rede Record. Segundo ele, o sucesso se deve a três fatores: a boa escolha do elenco, pela primeira vez sem atores da emissora, a divisão dos participantes em três grupos e o susto que levaram, ao entrarem no confinamento um dia antes do previsto.
Em 2001, Carelli dirigiu “Casa dos Artistas”, o primeiro reality show deste tipo no Brasil, exibido pelo SBT. Nesta entrevista concedida em sua sala, na quarta-feira, 27 de outubro, o diretor diz que o sucesso do programa apresentado por Silvio Santos acabou provocando mudanças no formato do “Big Brother”, comprado pela Globo.
Carelli também conta detalhes do atual confinamento. Revela que teve medo de uma briga física entre o roqueiro Tico Santa Cruz e o ator Dudu Pelizzari. Diz que os participantes com frequência esquecem que estão sendo filmados. Conta que ficou surpreso com as eliminações de Monique Evans e Geisy Arruda. E revela que a audiência da primeira edição da “Fazenda” só cresceu depois da eliminação do ator Theo Becker.

UOL – Como você lida com as críticas à edição do programa?
Rodrigo Carelli
- Em termos de reality show, essa questão da edição, do que vai e do que não vai, é uma discussão sem fim. É sempre uma opção mesmo. Mas existem critérios. O nosso critério, especialmente nesta fase, é o jogo mesmo, a disputa deles. Uma coisa que está acontecendo nesta temporada, muito interessante, é a quantidade de conversas, conchavos, sobre o xadrez do jogo. É maior do que eu já vi em qualquer reality, até em “Big Brother” e “Casa dos Artistas”.

UOL - Por quê?
Rodrigo Carelli
- Acho que a dinâmica da divisão de equipes provocou isso. Pra gente, é muito bom. Eles estão muito cerebrais em relação ao jogo. Já estão acontecendo rachas dentro dos grupos.

UOL - Não pode ficar chato?
Rodrigo Carelli
- Eles estão falando do jogo e das pessoas dentro do jogo. Falando tudo na cara um do outro. Com opiniões diferentes. E tem a Lisi falando categoricamente que eles não combinam voto. Isso é curioso porque mostra uma das mais interessantes facetas do reality, que é o fato deles realmente esquecerem que tudo está sendo gravado. Por mais que a pessoa tenha assistido programas deste tipo antes, quando entra no reality a pessoa não tem noção de que realmente tudo que ela falou pode ir para o ar. Quando eles vão para os cantos e sussurram, eles têm a ilusão que o foco não está neles.

UOL - O sujeito pode esquecer que tudo está sendo gravado, mas ele não esquece que está num jogo?
Rodrigo Carelli
- O jogo e o convívio lá dentro são duas coisas que se misturam na cabeça deles. Por isso, quando eles falam que não combinam votos, pode até ser que eles achem que aquilo que eles fizeram não foi combinar voto, mas uma grande discussão sobre a relação deles ali.

UOL - Você acha que é vida real isso?
Rodrigo Carelli
- Costumo dizer: “Esta vida real”. É real, mas é a realidade de pessoas dentro de um programa de televisão gravado 24 horas por dia, morando com pessoas que não são conhecidas delas e com quem não morariam em outra situação. É uma situação artificial, mas dentro desta situação o que está acontecendo é real. É uma realidade dentro de uma bolha.

UOL - O primeiro “Casa dos Artistas”, que você dirigiu, é até hoje lembrado pelos fãs. Você acha que algum outro reality já chegou perto de ser tão engraçado?
Rodrigo Carelli -
Acho que é mais uma impressão pelo fato de ter sido o primeiro deste tipo. Se você pegar os episódios hoje e comparar com “A Fazenda” ou com os “Big Brother” talvez não seja tão mais incrível assim. O SBT chegou a reprisar a “Casa dos Artistas”, mas não deu certo. Este tipo de reality não conta só com os seus 15 participantes. Tem o público também. Quando o público não pode participar, acaba a graça.

UOL - O que você acha do “Big Brother Brasil”?
Rodrigo Carelli
- O jeito como o “Big Brother” é feito no Brasil é bem diferente do original. A “Fazenda” também. O jeito como o brasileiro assiste televisão acaba provocando isso. O “BBB” também sofreu algumas mudanças muito provocadas pela “Casa dos Artistas”. A festa semanal, temática, era da “Casa dos Artistas” e a Endemol (dona do formato “Big Brother”) autorizou a Globo a usar no “BBB” por uma questão de estratégia, de competição mesmo. Entre outras coisas.

UOL - Você acha que é um bom programa?
Rodrigo Carelli
- Acho um bom programa. E um programa diferente. Não concordo com comparações da edição da “Fazenda” com a do “BBB”. Eles fazem três programas semanais e alguns “dropes”, de cinco a 15 minutos, ao longo da semana. A gente tem realmente um programa diário, sete dias por semana, de no mínimo 40 minutos. Isso faz uma diferença muito grande. Por que no “BBB” eles costumam compilar as histórias nos programas especiais? Porque elas não foram “entregues”, digamos assim, ao longo da semana. Nossa opção é por uma novela mesmo, uma novela com vários núcleos. A linha deles é focar em algum aspecto e esquecer o resto. A gente, não. Contemplamos todos os núcleos. É como se fizéssemos o capítulo de uma novela que não tem roteiro e que termina de ser gravado no mesmo dia em que vai para o ar.

UOL - O Boninho, quando estreou “A Fazenda”, foi muito crítico em relação ao programa.
Rodrigo Carelli
- É o estilo pessoal. Eu, sinceramente, não me abalo muito. Uma coisa fundamental para tocar um projeto deste tamanho é não me deixar contaminar por qualquer tipo de opinião externa – e são muitas. O brasileiro já tem mania de dar opinião em programa de televisão. Em reality show é uma loucura.

UOL - O que explica o sucesso maior desta terceira edição?
Rodrigo Carelli
- A gente teve mais tempo de montar o casting, o elenco, pensando mais na personalidade do que fama dos participantes. A fama e o que eles representam na mídia é um bom chamariz, mas de fato o que vai fazer o caldo ali é a personalidade, é a variedade de personalidades. Na “Fazenda 2”, por uma questão de tempo, a gente não pode aprofundar esta pesquisa. Desta vez, a gente entrou em contato com as pessoas antes de contratá-las, deixando claro que poderíamos não contratá-las. “Pensamos em você, achamos você bacana, mas vamos nos conhecer melhor”. A nossa equipe ia na casa de cada pessoa, conversava, fazia uma entrevista mais aprofundada, explicava o programa. Aconteceu até de uma pessoa, depois de ouvir essa explicação detalhada, falar que não queria mais participar. É fundamental: a pessoa precisa saber onde está entrando. Porque não é fácil.

UOL - Existe uma regra sobre brigas no programa?
Rodrigo Carelli
- Sim, sobre briga física. Existe uma regra muito explícita. Todos os participantes passaram por um “workshop”, de três dias, quando ouviram todas as regras do programa, puderam tirar dúvidas. Passaram por avaliação física e psicológica, nutricionistas etc. No caso de briga, a pessoa que começou vai ser expulsa do programa.

UOL - Quando houve aquela discussão entre o Tico e o Dudu, vocês acharam que poderia degenerar em agressão física?
Rodrigo Carelli
- Ficamos preocupados. Temos seguranças aqui, na parte externa, que podem numa emergência entrar.

UOL - Acontece de torcer durante o programa por algum candidato?
Rodrigo Carelli
- Não. O que acontece muito é a gente se espantar com os resultados. A gente sabe que as coisas vão acontecer junto com o público. Não esperava a eliminação da Monique nem da Geisy. Só não fiquei surpreso com a eliminação do Tico. Não acredito que existam os melhores e piores num reality show. O público vota, as pessoas saem e as coisas se reorganizam lá dentro. Depois que a Monique saiu, a audiência aumentou. Depois que a Geisy saiu, aumentou mais um pouco. O caso clássico foi o Theo Becker, na “Fazenda 1”. Muita gente falou, depois que ele saiu, que “acabou o programa”. Não. Até o Theo Becker sair a audiência não era essa coisa toda. Bombou depois, por causa da saída dele.

UOL - O fato de os dois primeiros programas terem sido vencidos por atores do elenco da Record não afeta a credibilidade da “Fazenda”?
Rodrigo Carelli
- Espero que não, porque uma coisa não tem relação com a outra. Desta vez, e não foi por causa disso, não tem ninguém do casting da Record. Ninguém estava contratado antes, nem tem promessa de ser contratado depois. Isso aconteceu antes por uma questão prática, pela falta de tempo na escolha dos participantes dos outros programas.

UOL - Vocês não pensam em divulgar o número de votos?
Rodrigo Carelli
- Esta é uma decisão artística. A gente acha a percentagem mais importante que o número total. O próprio “Big Brother” só divulga quando está muito alto. Não que o nosso não seja alto. E acho que não acrescenta muito.

UOL - Qual foi a votação que mais teve votos até hoje?
Rodrigo Carelli
- A final da “Fazenda 1”.

UOL - Você espera que ocorra algum romance dentro deste programa?
Rodrigo Carelli
- Não sei. Seria bom. Mas não é fundamental. Se tem uma palavra que define reality show é “conflito”. Não briga.

UOL - Existe “cota” para gays, negros ou mulheres no programa?
Rodrigo Carelli
- Não. A Nany People não está no programa porque é um drag queen. Está aí porque existe esta pessoa.

UOL - Não é por que teve um no “BBB”?
Rodrigo Carelli
- Não. Não pensávamos nela até o nome dela passar por nós. E a gente descobriu que ela gostaria muito. Tem gente que acha que ela é mulher. Fora que Dicesar e ela são coisas diferentes. Ela é uma transexual.
Querendo ler mais sobre a entrevista, é só vim aqui.

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