Em época de crise econômica, com o mercado publicitário cada vez mais
contido, a Rede Globo parece não querer correr riscos. Em vez de novelas com
ousadias estéticas e narrativas, a ordem da vez é não fugir do já
conhecido feijão com arroz para recuperar a audiência, que míngua a cada
ano. Isso explica muita coisa a respeito de "Eta Mundo Bom!", a estreia
da semana no horário das seis.
A primeira, sem dúvida, é a escalação de Walcyr Carrasco para assumir
a titularidade da trama. Mais versátil de todos os autores da casa,
Carrasco escreve para todos os horários, mas encontra às 18h um terreno
fértil para seu texto simples, ingênuo e pueril, que beira à
teatralidade, mas pisa fundo na emoção, sem medo de parecer meloso.
Em seguida, investir em uma trama interiorana, ainda que em partes
ambientada na São Paulo da década de 1940, mas com forte sotaque
caipira, é também uma maneira de resgatar o público que está fora dos
grandes centros. Para isso, a novela conta ainda com personagens
carismáticos, como o protagonista Candinho (Sérgio Guizé) e a jovem
Mafalda (Camila Queiroz).
E a fórmula Walcyr Carrasco + trama caipira inegavelmente nos leva a
um resultado já conhecido: uma mistura de diversas tramas suas, como "O
Cravo e A Rosa" (2000), "Chocolate com Pimenta" (2003) e "Alma Gêmea" (2005),
as duas últimas também dirigidas por Jorge Fernando - que desta vez
resolveu investir numa fotografia diferente, mais bem trabalhada, e não
abriu de sua marca registrada, a movimentação em cena. Por fim, a
mensagem otimista da história, talvez seu maior diferencial, cai como
uma luva nesse momento de pessimismo e desânimo generalizados que
acometem o país.
Eta Mundo Bom! pode até não trazer frescor ao gênero, mas traz
números e isso pôde ser constatado com a audiência da estreia: a maior
do horário nos últimos cinco anos.
No mais, a primeira semana da novela foi marcada sobretudo pela
agilidade. Em apenas um bloco do primeiro capítulo, "Eta Mundo Bom!"
concluiu sua primeira fase, que serviu para contextualizar a história de
Anastácia (Nathalia Dill/Eliane Giardini), obrigada pela família a
abrir mão do filho recém-nascido. A situação folhetinesca, usada à
exaustão nas novelas, guiará a busca da trama: o reencontro de Candinho
com a mãe. A vilã platinada de Flavia Alessandra (Sandra), porém, fará
de tudo para evitar que isso ocorra. Parênteses rápido: é nítida a
semelhança da vilã da vez com Cristina, de Alma Gêmea, não por acaso
também interpretada por Flávia.
O elenco compensa a sensação de déjà-vu. Marco Nanini tem a chance de
mostrar diversas facetas como Pancrácio, um professor que ganha a vida
aplicando pequenos golpes e não por acaso é o mentor de Candinho. Rosi
Campos (Eponina) e Flavio Migliaccio (Josias) também valem o registro,
com uma comicidade natural.
Elizabeth Savalla, contudo, está exageradamente um tom acima com sua
Cunegundes. O lado bom é que como a novela ainda tem meses pela frente, a
atriz tem a chance de corrigir esse tropeço inicial. O mesmo vale para
Débora Nascimento, que ainda não está totalmente à vontade como a
protagonista Filomena.
Sem pretensões de inovar o gênero, "Eta Mundo Bom!" mostrou-se, até
agora, correta, apesar de previsível. Os personagens da novela ainda vão
se lambuzar muito, ou com o glacê das tortas na cara ou com a lama do
chiqueiro da fazenda cenográfica. Podem apostar.