De acordo com a versão oficial, não haverá transferência de concessões, mas, sim, de ações. Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, filhos de Roberto Marinho (1904-2002), passarão a maior parte de suas ações para os filhos. Em nota, o Grupo Globo ressaltou que não será vendida uma única ação a quem não tenha o sobrenome Marinho: "Os signatários [os filhos de Roberto Marinho] transferirão a seus herdeiros diretos a nua-propriedade da maioria das ações de emissão das Organizações Globo Participações S.A., mantendo seu direito de voto na sociedade, não havendo o ingresso de qualquer outro terceiro não integrante da família Marinho na composição societária das referidas sociedades".
A nota, no entanto, não foi totalmente convincente para setores do mercado. Primeiro, porque Roberto Marinho, o fundador da Globo, teve 12 netos, mas apenas dois deles estão envolvidos atualmente com a gestão dos negócios de televisão: Roberto Marinho Neto, o Robertinho, que atua na área de direitos esportivos e se prepara para assumir a Globo Internacional, e Paulo Marinho, à frente do canal infantil Gloob.
O objetivo da transferência das ações para os netos de Roberto Marinho seria entregar aos futuros gestores da companhia a propriedade a que eles têm direito. Para executivos de televisão, no entanto, isso não faz muito sentido, até porque os filhos de Roberto Marinho continuarão no comando do grupo. A terceira geração dos Marinhos é herdeira legítima da Globo. Os netos de Roberto Marinho receberão a empresa de seus pais de qualquer jeito, mais cedo ou mais tarde, atuando ou não nos negócios do grupo. Uma coisa é herança; outra, sucessão empresarial.
Para analistas do mercado, transferir as ações não facilitaria a sucessão empresarial. Pelo contrário, diluiria a propriedade e tornaria o dia a dia do grupo mais complicado. O que estaria por trás dessa decisão, então? A busca de novos sócios é a resposta mais comum, embora a Globo negue com veemência. Especula-se que a Globo poderia estar fechando algum acordo com um grupo internacional: os estrangeiros teriam parte da rede brasileira, que por sua vez seria sócia de um grande conglomerado global.
A favor dos argumentos da Globo de que não está à venda, há um fato irrefutável. A emissora é altamente lucrativa, ou seja, não precisa de novos sócios. No ano passado, teve um faturamento líquido de R$ 11,160 bilhões (ou quatro vezes e meia a receita divulgada pela Record, a segunda maior TV do país). O lucro foi de R$ 3 bilhões. A Globo também não precisaria mentir se estivesse fechando uma parceria internacional. Ela comunicaria o acordo ao mercado.
Pelo decreto, a Globo tem 60 dias para realizar a transferência das ações e apresentar documentos ao Ministério das Comunicações. Ao final desse prazo, tudo não deverá passar de teoria conspiratória - mais uma para a história da Globo.
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