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segunda-feira, 23 de maio de 2016

“Não comemorem. Eu não desisti”, diz Edgar Diniz, sócio-fundador do Esporte Interativo

Em 2007, quando o Esporte Interativo surgiu, tímido, na internet, os gigantes das transmissões esportivas já se perguntavam: o que esses caras querem?
Sete anos depois, veio a resposta: brigar pela bola. Atacante dessa disputa desde o início, o carioca Edgar Diniz (foto) fez um golaço em 2014. O Esporte Interativo havia conquistado o direito de transmissão da Liga dos Campeões da Europa, o principal torneio de futebol do planeta, por três anos, até a temporada 2017/2018. Do outro lado da disputa pela transmissão no país, na TV paga, estavam só dois dos maiores canais esportivos: SporTV e Espn, juntas, com uma única proposta.
A proposta do Esporte Interativo desbancou o consórcio favorito. Os valores são mantidos em sigilo, mas o mercado estima que o Esporte Interativo teria topado pagar algo em torno de US$ 40 milhões por ano. Para os concorrentes, o valor foi uma "extravagância" do EI, que chegou chegando na TV paga tendo como sócia majoritária a gigante Turner.
Diniz seguiu como artilheiro do EI, tentando fazer mais dois gols: entrar nas grandes operadoras de TV por assinatura no país, Net e Sky, e conquistar os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.
As partidas foram difíceis. Driblar um adversário como a Globosat não era simples. Diniz fez faltas, sofreu faltas, mas marcou seu gol: em janeiro deste ano o EI entrou na Net. Mas adiante, o executivo conseguiu conquistar 15 dos principais times brasileiros do país e fechou um acordo para transmissão de jogos do Brasileirão a partir de 2019.
Foi então que o artilheiro resolveu ir para o banco de reservas. Dias atrás, o executivo decidiu deixar os cargos de diretor-geral da emissora e vice-presidente sênior do grupo Turner no Brasil.
Diniz permanecerá por um mês em seu cargo e depois seguirá como consultor da área esportiva do grupo. Os também fundadores do Esporte Interativo, Maurício Portela e Leonardo Lenz Cesar, passarão a ocupar as funções do ex-diretor geral.
Entrevista ao KTV, Edgar Diniz fala de seus conquistas e dos enfrentamentos com os concorrentes. Pela primeira vez, ele explica sua decisão de sair da linha de frente do EI, e prevê o cenário do futuro para as transmissões esportivas na TV.

Depois de tanta luta, por que você resolveu deixar o Esporte Interativo?
Edgar Diniz: Eu tinha já essa convicção que não queria ficar com a parte burocrático do negócio. Calls, reuniões, comitês. Mas assumi um compromisso informal com o Juan Carlos (presidente da Turner na América Latina) durante a venda do Esporte Interativo : ajudaria nesse processo de distribuição do canal na TV paga, com a entrada na Net e na negociação com os clubes pelos direitos do Brasileirão. Conseguimos isso e quando vi, estava vivendo novamente naquela ambiente de multinacional. Foi justamente por não me adaptar a isso que sai de uma grande multinacional e montei o Esporte Interativo. Então conversei e expliquei minhas razões. A Turner entendeu.

Mas você está deixando o EI de vez?
Edgar: Não, vou continuar com Consultor Estratégico, negociando direitos de transmissões esportivas, contratos..

Então os concorrentes como a Globosat não podem comemorar ainda?
Edgar: (risos) Não. Não comemorem. Eu não desisti.

Mas você entrou em um negócio dominado por gigantes. Em nenhum momento pensou em desistir?
Edgar: Ah, houve vezes em que fiquei desanimado. Mas desistir não. Enfrentamos momentos de dificuldade, afinal, entrei em uma área dominada por Globo, Fox e Disney (ESPN), não foi fácil. Mas eu tinha um sonho de fazer o canal acontecer, eu via um caminho e sempre tive acionistas muito parceiros, mesmo antes da Turner entrar no negócio.

O que foi mais difícil nessa trajetória do EI até chegar na TV paga?
Edgar: Tivemos três grandes dificuldades, mas também foram três passos importantes e decisivos. E um passo dependeu do outro para acontecer. O primeiro foi conquistar os direitos da Liga dos Campeões da Europa. ESPN e SporTV se juntaram em uma oferta poderosa pelos direitos do campeonato. Além da proposta boa em dinheiro, tivemos de convencer a UEFA que daríamos o tratamento que a Champions merece. Só uma oferta agressiva não adianta nesses casos. Outra grande dificuldade foi entrar na Net. O mercado acompanhou a nossa luta. Mas a conquista da Champions League ajudou, foi uma forma de pressão, abriu o caminho na Net. O terceiro desafio foi convencer os clubes a fecharem conosco os direitos do Brasileirão.

Foi muito complicada essa negociação com os clubes?
Edgar: Muito. É difícil convencer as pessoas a mudarem, a quebrar um monopólio de 20 anos (da Globosat). A inércia é mais atraente. Mas só conseguimos convencer os clubes depois que conseguimos entrar na Net. Esse era o argumento da concorrência: "Vocês vão fechar com o Esporte Interativo? Onde vai passar mesmo o jogo de vocês?", eles diziam para os dirigentes dos times. Entrando na Net, essa história acabou.

Você é conhecido como um executivo arrojado. Sempre teve essa postura mais agressiva, ou o meio te exigiu ser assim?
Edgar: (Risos) Não. Sempre gostei de conversar com calma. Mas tive de mudar. Isso não estava no meu DNA. Sabia que tínhamos uma boa relação com a Globo até a Globosat resolver que éramos inimigos? Eles decidiram que o Esporte Interativo podia ser um problema. Eu preferia que as coisas ocorressem de maneira mais suave, mas não deu.

Em meio a essa crise econômica e essa perda de anunciantes e assinantes, como você vê o futuro da TV paga no Brasil?
Edgar: Enfrentar essa crise é um desafio, mas passada a crise, a TV paga vai voltar a crescer. Ainda há espaço para essa expansão no Brasil. A produção de conteúdo, seja lá em qual plataforma, vai sobreviver. Quem tiver o melhor conteúdo para entregar terá sucesso.

O Esporte Interativo fez o caminho inverso: nasceu na internet e foi tentar conquista a TV. A maioria dos canais nasce na TV e vai então desbravar a internet. Isso ajudou vocês?
Edgar: Não sei se é uma vantagem. É o caminho inverso.Tivemos de nos desenvolver na TV, que é bem difícil. Mas é engraçado ver a concorrência entrando na internet, onde já caminhamos bem.

O futuro da TV linear será mesmo as transmissões ao vivo, o jornalismo e os eventos esportivos?
Edgar: Não tenho dúvida disso. O negócio da TV linear é saudável para as operadoras e para os anunciantes, e o ao vivo e o esporte fazem parte desse ecossistema. Por isso os eventos esportivos serão cada vez mais valorizados e disputados pelas plataformas.

Falando em valor, a concorrência diz que vocês inflacionaram muito o valor dos eventos esportivos fazendo propostas malucas por campeonatos como a Champions League a até mesmo o Brasileirão. Foi isso mesmo?
Edgar: Não. Não fizemos nenhuma loucura, nada do que não estivesse previsto no orçamento. Os eventos é que estavam subvalorizados.

O Esporte Interativo pretende investir na compra de outros eventos esportivos além dos de futebol?
Edgar: O futebol é número 1, claro, mas queremos outras modalidades sim.

Além de consultor do EI, você vai investir em novos negócios?
Edgar: Sim. Mas primeiro vou descansar um pouco de toda essa batalha (risos). Esvaziar a minha cabeça. Quero investir, apostar em algo nessa área digital. Mas não tenho nada em vista ainda.

Você é um cara ligado ao esporte, tem problemas em dizer para qual time torce?
Edgar: Não tenho, sou Flamengo. Isso não muda nada. Sempre tratamos todos os times com neutralidade. Não adiantaria nada eu esconder, tá na cara que sou "Mengão" (risos).









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