“Aprendi a escrever novela lá pela sexta ou sétima. Não sabia, era na base da intuição”, diz ele, que voltará ao ar em 2017, com uma trama protagonizada por jovens.
Para Silva, mesmo com a audiência em queda, as novelas seguirão como principal produto da TV no país. “Hoje há uma gama de escolha, tem a Netflix. A audiência está fracionada. Mas a novela não está ameaçada.”
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Qual Emmy te marcou mais?O de “Império”. Das novelas que escrevi, foi a mais bem escrita. Na minha idade, 72, a gente começa a ligar o automático. Ali percebi que não podia fazer isso. Essa premiação mostra algo óbvio, mas não muito bem visto: o novelista tem que se matar, se quiser fazer uma boa novela. Não basta fazer o rotineiro, tem que ir além.
Como sair do automático?
Tem que perder totalmente o pudor. Há uma tendência nas novelas, que não existe nas séries, de buscar o politicamente correto. E não há nada mais venenoso, mais destruidor para o melodrama, que o politicamente correto. No final de “Império”, o protagonista adorado, o comendador (Alexandre Nero), morre. É no último capítulo que as novelas atuais premiam o protagonista. Isso é uma ousadia que se vê em “Breaking Bad”, não em novelas.
Acha que o público está cansado de tramas realistas?
Acho. Fui o primeiro a colocar uma favela como cenário principal em “Duas Caras” (2007). De lá para cá foram tantas as favelas protagonizando novelas, que as pessoas começaram a ficar cansadas. Brinco que minha próxima novela só terá rico, vai se passar toda nos Jardins em SP [risos]. Porque ninguém aguenta mais favela. Essa coisa de vamos mostrar a vida como ela é, é para o jornalismo. A tarefa da novela é fazer o público sonhar.
Esse é um dos motivos para o sucesso de “Os Dez Mandamentos” (Record)?
“Os Dez Mandamentos” é uma das maiores histórias de todos os tempos. É infalível, tem tudo ali. Tanto que fizeram vários filmes.
É bom ter essa concorrência?
Sim, porque sou profissional da novela. Inclusive faz com que caprichemos mais.
Você dará outro curso para roteiristas. Por que se dedicar à formação de novos autores?
Nós, veteranos, trabalhamos demais. Agora mesmo foram buscar o Benedito Ruy Barbosa, que já estava aposentado [e fará a próxima novela das 21h]. A gente trabalha muito porque não tem renovação. A primeira coisa que precisa para escrever novela é ter experiência de vida. Muitos autores talentosos escrevem a mesma novela porque foram criados dentro do condomínio, não sabem onde é o centro da cidade. Tô tentando formar pessoas que ocupem o meu lugar e permitam finalmente que me aposente [risos]. Demorei tanto para aprender para chegar aonde cheguei e daqui a pouco eu vou morrer e isso vai ser perder. A sabedoria é um bem comum que temos que passar.
As novelas ainda podem dar 40 pontos de audiência?
Acho que nunca mais. A recordista deste milênio é “Senhora do
Destino” (2005), que teve média de 50,4 pontos no Ibope [em SP, cada
ponto equivale atualmente a 67 mil casas].
“Império”, que fez um sucesso, deu 33,7 pontos de média. É uma
diferença brutal. Não significa que as novelas estejam em decadência.
Mas o modo de ver televisão mudou muito. Hoje em dia tem uma gama de
escolha, tem a Netflix, que veio para ficar. A audiência está muito
fracionada. Não existe mais aquela audiência que as novelas davam
antigamente, mas a novela continua sendo a maior audiência da TV. Nada
ameaça a novela. A tendência é ainda ser o principal produto da TV.
Acha que os seriados poderiam substituir as novelas no país?
Acho que os seriados são muito mais vistos no Brasil do que a gente
pensa. Mas nós ainda não entramos para valer nesse segmento. Ainda não
aprendemos a fazer seriado. Os nossos estão na base de “sitcom”, e isso
tá superado. Ou a gente aprende a fazer seriado ou a gente fica para
trás, perde uma fatia boa de mercado.
Vai dar para pedir um aumento com esse Emmy?
(Risos) Poderia pedir, mas eles não dariam. Nem vou perder tempo. Tenho contrato até 2020, um belo contrato.
O Emmy em si já é um aumento.
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