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sábado, 17 de outubro de 2015

Tony Ramos emplaca como vilão e mostra que é o maior ator do Brasil

Em 1998, logo no primeiro capítulo de "Torre de Babel", José Clementino matava a mulher infiel a pauladas. A violência da cena chocou o público e afastou a audiência da então novela das oito, escrita por Silvio de Abreu. A ambiguidade do personagem, um homem bruto mas que guardava dentro de si bons sentimentos, também contribuiu para que o público torcesse o nariz para a criação de Tony Ramos (foto), ator sempre visto como mocinho e não como vilão.
Passados 17 anos, o mesmo Tony Ramos volta a interpretar um tipo cheio de camadas em "A Regra do Jogo", a atual trama das nove da Rede Globo, e sua aceitação mostra, no mínimo, um amadurecimento do público brasileiro, que hoje é capaz de diferenciar personagem de ator.
Zé Maria, tal qual a Flora de "A Favorita" (2008), enganou o público com sua cara de bom moço e seu discurso de inocente injustiçado, porém já revelou-se um bandido impiedoso, capaz de assassinar inocentes dentro de um ônibus no episódio que ficou conhecido na novela como chacina de Seropédica. A cena em que a verdade é revelada impressionou pela atuação precisa, cheia de ódio e frieza com que Zé Maria cometeu o crime.
Foragido da polícia, Zé Maria manipulou o filho, Juliano (Cauã Reymond), e a ex namorada, Djanira (Cássia Kiss). Os fez acreditar em sua inocência. Contra ele, a palavra de Romero Rômulo (Alexandre Nero) e a vontade de justiça do policial Dante (Marco Pigossi), que, ainda criança, testemunhou o massacre. Agora, encontra na mocinha Toia (Vanessa Giácomo) mais uma pedra em seu sapato.
Tony Ramos imprimiu diversas nuances em sua criação. O ator protagonizou cenas dramáticas com Cássia Kiss e Alexandre Nero e em todas soube diferenciar os sentimentos ambíguos do personagem. Ao mesmo tempo em que soube ser doce com a namorada e com o filho, revelou-se violento e cínico com seu principal inimigo. Seu olhar é um outro exemplo da composição acertada do ator: chega a ser diabólico quando o verdadeiro Zé Maria está em ação.
Curioso é notar que Ramos vem de dois trabalhos em que seus personagens escambavam para o lado da maldade. No remake de "Guerra dos Sexos" (2012), Otávio fazia de tudo para tirar a prima Charlô (Irene Ravache) da disputa por uma herança, mas havia ali a capa do humor a protegê-lo do maniqueísmo.
Já em "O Rebu" (2014), Carlos Braga era um empresário corrupto que encomendou a morte de Angela Mahler (Patrícia Pillar). Dentro de uma narrativa um tanto confusa, o personagem deixou a desejar, e Ramos não teve a chance de mostrar todo o seu talento, diferentemente do que podemos observar hoje no ar.
É de se considerar que o texto de João Emanuel Carneiro também ajuda no crescimento do personagem. O ator, experiente, soube extrair do subtexto da novela tudo o que era necessário para construir um vilão de marca maior: sem exageros, sem caras e bocas e sem histrionismo. Definido pelo próprio ator como um psicopata, Zé Maria é do tipo que não precisa berrar para botar medo.
Com "A Regra do Jogo", Tony Ramos deixa de lado a pecha de bom moço que sempre o acompanhou em sua carreira e finalmente emplaca como um malvado. Mostra que é o maior ator do Brasil.






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