O folhetim de Walcyr Carrasco teve audiência elevada e gerou discussão nas redes sociais, mas os capítulos finais tiveram um quê moralista que destoou do tom pesado e altamente sexual da novela como um todo. Correções e punições fecharam a história de personagens e deixaram de lado a ousadia apresentada e condizente com o horário.
Em uma trama que apostou forte em temas tabus, os finais da maioria dos personagens foram decepcionantes. Larissa (Grazi Massafera), a viciada em crack, se rendeu às promessas da religião; Pia (Guilhermina Guinle), a mãe rica que interna o filho em uma clínica de reabilitação após uma overdose, sentiu culpa por ter sido relapsa; Edgard (Pedro Gabriel Tonini), o ciumento que esfaqueou e matou a noiva por acreditar que ela estava fazendo programa; Fábia (Eva Wilma), a aposentada alcoólatra, foi punida com a solidão por seu comportamento rebelde.
O gancho falso do penúltimo capítulo e o suicídio de Carolina (Drica Morais) foram como chamar o telespectador de otário, uma vez que ele acompanhou durante quatro meses a trajetória de inocência excessiva da dona de casa, esperando por uma vingança, mas só viu isso acontecer por outras mãos, a de Angel (Camila Queiroz). Ao se matar, Carolina plantou a culpa na filha, que, por isso, matou Alex (Rodrigo Lombardi) e se casou com Gui (Gabriel Leone).
O capítulo final teve também sua cota de machismo. O pai que volta para buscar a filha que acabou de perder a mãe, além de Fanny (Marieta Severo) rastejando-se aos pés de Anthony (Reynaldo Giannechinni) e pegando um novo garotão, Leo (Raphael Sander), como se só fosse possível ser feliz ao lado de outro homem.
Entretanto, é preciso reconhecer que desta vez Walcyr Carrasco trouxe para o vídeo cenas impactantes - o estupro de Larissa (Grazi Massafera) na Cracolândia foi de um realismo único - dentro de uma história bem amarrada e sem barrigas. Está certo que os diálogos deram uma derrapada aqui e acolá, em especial aqueles que envolviam a personagem de Eva Wilma, "presenteada" com um texto teatral que não combina muito com a televisão.
A estreante Camila Queiroz também foi uma grata surpresa. Segura e bem dirigida por Mauro Mendonça Filho, a atriz é um achado. Destaque também para o desempenho de Grazi Massafera, do início ao fim de Verdades Secretas. Cabe também um elogio à equipe de caracterização da trama, que imprimiu verdade no visual deteriorado de Larissa.
Mas, sem dúvida alguma, a principal qualidade da história foi sua direção. Caprichado, o olhar bem cuidado de Mauro Mendonça Filho foi essencial para que a novela tivesse todo o sucesso que teve e calibrou o texto de Carrasco. "Verdades Secretas" teve uma das melhores embalagens entre todas as produções recentes da Globo.
De um modo geral, "Verdades Secretas" foi uma boa novela e um marco na carreira de Walcyr Carrasco. Que em suas próximas tramas ele mantenha (e eleve) o padrão conquistado aqui.
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