Schroder nega que a emissora tenha recebido notificação da pasta para alterar o conteúdo da novela “Babilônia” por causa da exibição de um beijo gay. “Existe um acompanhamento [do MJ] com lupa para toda novela. O beijo é pano de fundo”, diz.
“O mundo não é mais o mesmo. Se você se prender a uma lei de um jeito mais antigo, não acompanha o movimento. O beijo [gay] talvez há cinco anos fosse impossível. Mas a gente andou no Brasil.”
O executivo conversou com poucos jornalistas, incluindo a Folha, durante o International Academy Day, nesta sexta (26), no Rio de Janeiro. Ele informou que a Globo lançará em 2015 um “player” para conteúdo sob demanda, em que será possível assistir à programação ao vivo do canal.
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Como vocês avaliam o que houve com “Babilônia”?A gente fez muitas reuniões de avaliação. Tem dois fatores: um, claro, a novela em si. Alguma coisa da trama não funcionou, óbvio.
Mas, ao mesmo tempo, teve uma mudança com a estreia de “Os Dez Mandamentos” [Record] e a novela infantil que o SBT colocou. Algum público já tinha saído ali também. Não vou tirar o mérito de um lado e talvez a fragilidade do outro, mas as duas combinações aconteceram.
Mas isso vai continuar… Vem outra novela bíblica, SBT faz outra infantil.
Vai. Mas acho que sempre que você tem um produto forte, você derruba isso. Por isso acho que tem uma fragilidade do que aconteceu e aí propicia um terreno fértil para o outro crescer. Quando você tem um produto forte não tem jeito, é vencedor. A [próxima] novela do João Emanuel Carneiro [“A Regra do Jogo”] está muito forte, boa.
Estão pisando em ovos após “Babilônia”?
Conversamos muito internamente sobre isso. O país é mais conservador do que você imagina. É mais ou menos essa a resposta.
O Ministério da Justiça diz que a Globo poderia mudar a classificação da novela das 21h para 14 anos, mas vocês querem manter em 12 anos.
Sabe por quê? Eles esquecem que o Brasil tem fuso. Quando aqui [no Rio] são 21h, em Manaus são 20h. E o fuso do verão? Aí você mata a programação.
No Nordeste já é complicado. Lá, invertemos inclusive a novela das 19h. A gente bota o “Jornal Nacional” ao vivo e depois a novela das 19h e a das 21h.
Se você tiver que manter a classificação, mata a estratégia.
Com o aumento da classificação indicativa às vezes acontece o seguinte: a novela acaba e reclassificam. Aí o que isso nos causa como punição? Você não pode usar no “Vale a Pena Ver de Novo”. Aí tiramos histórias de alguns personagens [que não podem ser mostradas mais cedo]. Acabamos de fazer isso agora para “Caminho das Índias”. É um prejuízo para nós, a novela das 21h é a de maior sucesso.
É interessante que o processo para viabilizar uma novela.
Agora se tivesse esse modelo de orientação apenas e não determinação, acaba esse problema.
A Globo anda promovendo muitas mudanças de grade, está mais flexível. Nesta semana tirou a “Sessão da Tarde” para o “Video Show” tratar da morte do cantor Cristiano Araújo.
Quando a gente mudou a programação, combinamos com o Amauri Soares, é diretor de programação, de ter uma atuação mais atenta, acompanhar melhor o que está acontecendo. Então, por exemplo, há um temporal na Bahia, caso concreto. A Fátima [Bernardes] entra, faz dez minutos em rede nacional e aí a TV Bahia fica local. E o programa [“Encontro com Fátima Bernardes”] continua para o resto do Brasil. Santos (SP) teve problema com a chuva outro dia. Aí Santos fica local também.
A gente tem usado espaço local quando aquilo interessa.
Tem dado resultado?
Muito bom resultado. Quando é nacional, a gente avalia o interesse do público. Hoje temos oito capitais no Ibope no "real time" [medição minuto a minuto de audiência]. Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Brasília.
O que representa 80% [da audiência], dá uma noção melhor. Outra coisa, a gente consegue ver a avaliação de cada programa por essa média, e você começa a ter opção de horário. Por exemplo, no sábado, mexe no horário, puxa um programa, experimenta outro.
A experiência de inverter a “Sessão da Tarde” com a novela [“Vale a Pena Ver De Novo] começou em Brasília e depois em Belo Horizonte. Viu que deu certo muda para o Brasil inteiro. Tem mais lógica. A novela entrega para “Malhação”, “Malhação” entrega para a novela [das 18h].
E no caso de “Verdades Secretas” [novela das 23h que foi exibida na faixa das 22h na primeira semana]?
A gente queria fazer experiência de uma semana. A novela não poderia ficar naquele horário [das 22h]. Como a primeira semana era mais leve do ponto de vista da classificação, dava [para testar]. Agora não dá, vai entrar mais fundo na questão da droga. Ela se propõe a isso, entrar numa discussão mais pesada.
A alteração foi de uma semana para implantar melhor a novela. Em vez de deixar um dia mais cedo, colocamos uma semana. E funcionou.
Mas vocês poderiam mudar “Verdades Secretas” para ela ir ao ar mais cedo?
Poderíamos. Mas olha só, “Felizes para Sempre? [minissérie exibida em janeiro] eu tinha encomendado para o primeiro horário [de shows, após a novela das 2h]. Quando veio o texto, o desenho do Fernando Meirelles, eu falei: vamos tentar limpar isso aqui, aquilo ali para ver se segura [com a classificação indicativa] o primeiro horário. Chega uma hora que você começa a mexer na obra. Aí liguei pro Euclydes Marinho e falei para deixar no segundo horário, senão começa a perder. Ali era classificação indicativa na veia.
É que o primeiro horário é mais importante como estratégia, você alavanca melhor. Mas nem sempre.
Como vê a chegada da GFK [empresa alemã que irá concorrer com o Ibope na medição de audiência]?
Estamos acompanhando. A gente só não quis fazer um contrato antecipado. Nunca dissemos que não vamos [assinar o contrato].
Existe mercado para duas medições?
Difícil, né. Imagina todas as agências, TV, comprando isso. O que será estranho é se aparecer um número muito diferente, seja para que lado for. Aí alguém vai ficar sob suspeita.
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