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terça-feira, 26 de maio de 2015

"Temos que curar mais o emocional", diz Angélica ao "Jornal Nacional" sobre acidente de avião

No dia seguinte ao acidente com um avião em Mato Grosso do Sul, Angélica e Luciano Huck (foto acima dos dois) fizeram exames em um hospital de São Paulo. Foi lá que deram uma entrevista exclusiva ao "Jornal Nacional". Eles contam os momentos de pavor que antecederam o pouso forçado.
Burnier: Luciano, o que foi que aconteceu?
Huck: Foi um milagre. A gente encarou como um renascimento da família toda. Pra gente agradecer. A gente nem sabe como começar a agradecer. Quando a gente estava a uns 15 minutos fora de Campo Grande, estava sentado eu, Benício do meu lado, Joaquim na minha frente. Angélica, as duas babás e a Eva estava brincando pelo avião. E aí, o avião mudou o barulho e deu uma "bundadinha" de lado. Aí, eu que gosto de aviação, olhei e o piloto estava mexendo na bomba de combustível. Eu olhei o painel e vi que um motor estava apagado e tinha um motor só. Aí comecei a trocar ideia com o comandante. Eu só posso agradecer a ele. Salvou todos nós, o Osmar. Ele disse que estava com um motor só, nunca tinha perdido a bomba de combustível. E eu falei: ‘tá bom, mas vamos fazer o que?’
Burnier: Nesse momento, como estava o clima dentro do avião?
Huck: Nesse momento, essa [Angélica] se desesperou. Estava gritando muito já. O meu mais velho, Joaquim, estava gritando muito. O Benício estava tenso, quieto. Angélica gritava: "eu quero que pouse!". Aí é sensação é como de quando você é pai e quer explicar pra alguém que não foi. Não sei explicar.
Angélica: Ele virou pra mim, ele estava muito pálido. Ele virou pra mim, eu falei: "a gente vai pousar?", ele: "não, a gente vai cair". Quando ele falou ‘a gente vai cair’, ele disse: ‘abaixa’. A gente abaixou. Quando eu olhei, o lado de lá já apagou um dos motores e o avião embicou. Eu olhei pra ele e vi que a gente estava caindo. Meu filho gritava muito "eu não quero morrer". Aí eu percebi que a gente estava caindo.

Burnier: E você, claro, entrou em pânico?
Angélica: Eu entrei em pânico. Eu vi o piloto falando em uma entrevista que eu gritava muito e eu não lembro que eu gritava muito.

Burnier: O que passou pela sua cabeça nesse momento?
Angélica: Passou na minha cabeça que a gente ia se machucar muito ou morrer. Passou na minha cabeça rápido que eu preferia então que a gente não se machucasse. Fez um silêncio na cabine, enquanto ele estava batendo no chão, a primeira batida, a segunda, a terceira, era um barulho ensurdecedor, mas assim, um silencio muito grande no coração, sabe? A gente quando estava batendo ali, a lembrança que eu tenho é de que a gente estava, eu não sei, como a gente tivesse morrendo mesmo, um silêncio, uma coisa estranha.

Burnier: Como se estivesse no fim?
Angélica: É.
Felizmente, os dois sofreram apenas ferimentos leves. Luciano teve uma fissura pequena numa vértebra torácica. E Angélica distendeu três músculos pequenos que são ligados à bacia e o músculo da cervical, da nuca.
Huck: Eu estava com muita dor nas costas, muita, muita, muita, mas eu sabia que não podia esmaecer porque eu sabia que tinha que resolver aquilo até estar todo mundo bem. E a Angélica, a gente não sabia se tinha alguma coisa dentro, porque ela chorava muito, ela não conseguia andar, se retorcia toda, ela estava muito nervosa e as crianças estavam bem. A Eva, que chorava muito, a gente achou que ela tinha se machucado por dentro, ela estava com uma marca na lateralzinha, mas foi a babá que apertou muito ela.
Angélica: E o Joaquim inchou o rosto na hora, mas ele bateu na janela.
Huck: Mas quando a gente chegou no hospital, ninguém tinha avisado ainda. Então, a gente parou o carro, desci com as crianças, a Angélica chorando e as pessoas, quando olhavam pra nossa cara, já foi estranho descer a família inteira. Aí chegou um médico e eu falei “a gente caiu de avião”. Ele falou: “Mas quando?”. Eu falei: “Agora, faz 20 minutos”. A Santa Casa foi muito carinhosa.
Huck: O hospital estava lotado. Ontem, quando eu estava vindo para cá, de ambulância, de aeromédico para São Paulo, e eu estava feliz, eu pensava “bicho, o que a gente viveu aqui”... E agora está todo mundo vivo, nossos filhos estão bem, não ia me perdoar jamais na vida se tivesse acontecido qualquer coisa com qualquer um dos meus familiares.
Angélica: E a gente está aqui pra contar.
Huck: E estamos aqui pra contar, e agora é só se recuperar e agradecer às pessoas que nos ajudaram. E agradecer a centenas de milhares de mensagens que a gente recebeu.

Burnier: Você está com dor ainda?

Huck: Estou, mas eu estou melhor, eu quebrei a 11ª vértebra.

Angélica: Apanhei ontem, toda doída, mas tão feliz, de estar viva, de estar bem, mas vou ter que ficar um pouquinho de molho... Mas, pelo que foi, a gente tem só que dizer que a gente está muito bem. Acho que, hoje, o que a gente tem que curar mais é o emocional, porque eu sou chorona.


Burnier: Você conseguiu dormir?
Angélica: Eu ainda não consegui dormir, porque eu fecho o olho e fico vendo tudo de novo, fica passando como se eu tivesse assistido um filme.

Burnier: Agora é só segurar um pouquinho nos esportes radicais. E, da próxima vez, pra não deixar de fazer a brincadeira que está todo mundo fazendo, vai de táxi!

Angélica: E não pode ser aéreo! Obrigada, gente, obrigada mesmo pelo carinho.

Huck: Obrigado, obrigado.


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