A repercussão do beijo gay e a força da novela realista
Na estreia de “Babilônia”, circulou na internet um daqueles memes
brincando com a cena do beijo de Teresa e Estela (Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na foto acima). Era uma colagem que botava lado a lado a foto da
figura de Fernanda no “Auto da Compadecida”, como santa, e um registro
do beijo. Não havia legenda, mas ela estava implícita, algo como “quem
te viu, quem te vê”. Pelo menos no que diz respeito às atrizes, a frase é
injusta. As octogenárias estrelas absolutas do cenário cultural
nacional já foram vistas em inúmeros papéis “difíceis”. Em outras
palavras, são desbravadoras de outros carnavais, profissionais para toda
obra. O fato de protagonizarem uma sequência dita ousada não é,
portanto, uma surpresa. Por essas e outras, a escalação de ambas para
essas personagens só reforça a credibilidade da trama.
O meme evocando o título da canção de Chico Buarque faz pensar, isso
sim, na própria televisão. A relação das duas, com ou sem beijo, mostra
que essa novela busca o realismo honesto. Para isso, vale lembrar outro
verso da canção: “Quem não a conhece não pode mais ver pra crer”. É
também a teledramaturgia viva, atualizada, em movimento, dando provas de
fôlego.
O público viu um beijo ardente de duas mulheres em 2011, no SBT, em
“Amor e revolução”. Mas primeiro beijo gay numa trama das 21h da Globo, e
que parou o país, foi em “Amor à Vida”. A sequência com Thiago Fragoso e
Mateus Solano só aconteceu no capítulo final, cercada de suspense até o
último minuto. Pelo visto, de lá para cá, algo mudou. Fernanda e
Nathalia encerraram o assunto logo na estreia, sem tensão. Agora é
torcer para que chegue um dia em que isso caia na mais absoluta
naturalidade. E os memes espirituosos se ocupem de outros temas.
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