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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Após depressão, ex-apresentadora da Rede Globo tenta voltar por cima

Em 1991, então com 31 anos, Doris Giesse (foto) ocupava um dos postos mais invejados da TV brasileira. Dona de uma beleza peculiar, loira e andrógina, emprestava modernidade à bancada do pretensamente futurista "Fantástico". Mas seu contrato com a Rede Globo venceu e ela não quis renovar. Estava infeliz porque a emissora a havia tirado do programa de que mais gostava, o humorístico "Doris Para Maiores", embrião do "Casseta & Planeta". 
Doris optou por ganhar a vida como modelo e ter tempo para se dedicar à sua grande paixão, o balé, dançarina profissional que é, formada por duas das maiores escolas de dança do mundo, a Royal Academy of Dance, de Londres, e a Juilliard School, de Nova York. "Era um momento de decisão e optei pelo errado", diz hoje, arrependida.
Nos anos seguintes, a apresentadora brilhou no SBT e nas capas de revistas. Em uma reportagem para a Sexy, conheceu o marido, Alex Solnik. A entrevista não aconteceu. Deu lugar a um tórrido relato da primeira noite de amor do repórter com a fonte. O escândalo virou uma família. Hoje, eles são pais de um casal de gêmeos de 18 anos. Ele presta vestibular para artes cênicas; ela, para artes plásticas.
Marcada pela imagem de transgressora, Doris acabou fora da televisão. Em 1998, sentou pela última vez em uma bancada, a do "Fala Brasil", na Rede Record. Anos depois, foi abatida pela depressão. Em 2002, foi a programas de TV para dizer que estava dependente de álcool e que tinha tentado se matar.
Por isso, ninguém acreditou que realmente sofreu um acidente em 2007, quando caiu da janela do apartamento em que morava, no oitavo andar de um prédio de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, tentando resgatar um gatinho. Do acidente, Doris guarda algumas cicatrizes no braço. "Só quebrei o cotovelo", conta. Foi salva por um telhado de zinco, no térreo.
Mas Doris não quer "falar de depressão". "Estou numa fase perfeita agora", justifica. "Naquela época [2002, quando foi à TV dizer que que estava na pior] a gente perdeu tudo o que tinha. A gente foi vítima de um estelionatário e eu cheguei a ter depressão. Ficamos uma década mal de grana. Mas deixa pra lá, não é legal refrescar isso porque está tudo dando certo agora".
O rosto de Doris Giesse não esconde a empolgação com a nova fase. Quinze anos após a passagem pela Record e quase um ano depois de ter deixado de dar aulas de balé, por causa de uma artrose na virilha, ela se prepara para voltar ao vídeo, não necessariamente à televisão. Trabalha atualmente na formatação de dois canais de vídeos no YouTube, um com informações sobre beleza para "mulheres maduras" e outro de humor.
O canal de humor está mais avançado. A ex-apresentadora adianta uma das personagens: interpretará uma freira do Acre que se rebela contra o monopólio no fornecimento de hóstias para igrejas.
Doris também flerta com a Globo. Tenta emplacar na emissora um reality show de dança, um formato italiano. "É como o 'The Voice', mas com bailarinos top, que sabem dançar de tudo. O programa serviria de preparação a bailarinos para grandes companhias e montagens musicais. No Brasil, a gente tem muitos talentos, mas eles não são reconhecidos e acabam trabalhando no exterior", discursa.
A ex-apresentadora não se considera jornalista e confessa que assiste muito pouca televisão. "Sou muito difícil de assistir TV. A TV não me faz falta, ela não faz parte do meu cotidiano. A vida de um bailarino é feita por um outro tipo de rotina. A gente não tem tempo de ficar vendo novela".
Atualmente, por causa do tratamento da artrose, tem visto muito o canal Multishow, porque "o humor me interessa". "Então eu fico vendo pra sondar, pra ver o que está vingando hoje". Cita o humorístico "Vai que Cola". "É um pouco como 'Os Trapalhões', uma coisa mambembe, até por isso que dá certo. Tudo o que é tosco dá certo, principalmente na internet. Quando você fala com um intelectual, ele diz que o brasileiro gosta de porcaria. Esse culto ao tosco está enraizado. O brasileiro gosta de uma coisa meio embarangada", filosofa com a autoridade de quem estudou Filosofia.
Doris se considera uma precursora do "Casseta & Planeta", que "tinha uma tosquice tremenda". O humorístico nasceu do "Doris para Maiores", em 1991, que ela protagonizava. O programa acabou porque a direção de Jornalismo da Globo não achava compatível ter a apresentadora do "Fantástico" representando uma androide ao lado de artistas cômicos como Diego Vilela, Debora Bloch, Helio de la Peña e Bussunda. "O 'Doris para Maiores' não combinava com a seriedade que o 'Fantástico' precisava", lamenta.
A bailarina e apresentadora acabou exclusiva do "Fantástico", mas apenas durante mais um ano, o efervescente 1992 dos caras-pintadas e do impeachment de Fernando Collor de Mello. "A vida inteira passei estudando como se move o corpo e no 'Fantástico' eu tinha que ganhar a vida enquadrada. Eu não estava feliz. Depois de um mês que saí do 'Fantástico', acabaram com a bancada no programa".


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