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domingo, 16 de novembro de 2014

Bissexual em "Império", José Mayer conta que temia hostilidade e diz: "Galãs velhinhos são ridículos"

Desde que sua bissexualidade veio à tona, Cláudio, personagem de José Mayer (foto) em “Império”, enfrenta uma crise familiar que vai se agravar nos próximos capítulos. Após espancar Leonardo (Klebber Toledo), Enrico (Joaquim Lopes) irá ao restaurante de Vicente (Rafael Cardoso) e destilará seu ódio contra o pai, que o expulsará. Para piorar, Beatriz (Suzy Rêgo), a maior apoiadora do marido, ficará insegura ao encontrar uma declaração de amor do cerimonialista para o ex. Passados cem capítulos da novela de Aguinaldo Silva, o núcleo dos Bolgari segue movimentando a trama. E a reação do público surpreende Mayer. Leia a entrevista na íntegra abaixo:

Quando você foi convidado para o papel, o que esperava exatamente? Acreditava que haveria uma discussão grande em torno do tema?
Senti uma enorme adrenalina quando Aguinaldo me fez o convite. A sensação era a de que eu teria de seguir na contramão de tudo o que eu vinha fazendo na TV. Tive medo, mas percebi que havia uma grande oportunidade ali: a chance de abordar a questão da homossexualidade de uma maneira que uma novela ainda não havia feito, sem superficialidade ou caricatura.

Acha que, passados quase quatro meses de novela, alcançou aquilo que queria?
Estou até surpreso com o resultado. As pessoas me parabenizam pelo trabalho como nunca fizeram antes, até os machos mais empedernidos me tratam com respeito e não economizam elogios. Parece que o público quer me retribuir com carinho e respeito pela coragem de ter quebrado a imagem de "macho sedutor" que vivi durante tantos anos, uma ruptura que eu já tinha tentado fazer antes com o Pereirinha na novela anterior do Aguinaldo ("Fina estampa").

Você acredita que a patrulha em torno do assunto prejudicou?
Não houve patrulha. Polêmica houve, sim, é natural. Até alguns cortes em determinadas cenas chegaram a acontecer, afinal, o assunto é extremamente delicado e tratar disso na TV aberta foi inovador e muito importante. Os tempos mudam, até os padrões da moral e comportamento vão se transformando com o passar dos anos. A experiência humana não fica cristalizada, e mesmo a Igreja - conservadora por natureza -, tem percebido a necessidade de se posicionar de maneira mais responsável e amorosa diante de assuntos como esse da homossexualidade.

O que você mais escuta sobre o personagem? As pessoas gostam da história ou acham que ela não é crível? Na sua opinião, há mais apoio ou rejeição?
Sem dúvida há mais apoio que rejeição. No início do trabalho, por medo, cheguei até a pedir à produção da novela que reforçasse a segurança nas minhas gravaçōes de cenas externas com o Klebber Toledo, achando que pudesse ocorrer alguma hostilidade nas ruas, mas foi uma preocupação desnecessária. As pessoas não veem a novela só como entretenimento, elas ficam gratas quando assuntos pertinentes são postos em discussão.

Quais cenas considera mais difíceis: os diálogos com a Beatriz ou os embates com o Enrico?
A família Bolgari conseguiu ser, de fato, um núcleo familiar que tem grande empatia com o público. Talvez pelo fato de sermos uma família que, apesar dos problemas e conflitos, nutre valores importantes, como o afeto verdadeiro e o carinho, numa busca incessante de entendimento e aceitação. Minhas cenas com Beatriz, com Enrico e com Bianca (Juliana Boller) são a oportunidade de trabalhar diferentes tons emocionais e enriquecem muito o perfil do Cláudio. Os embates com o filho Enrico são, certamente, os mais difíceis: amor e ódio na mesma cena. Não é fácil viver tamanha contradição. O entendimento e a amizade que existem entre os atores que constituem nossa família foram a chave que nos possibilitou um rendimento artístico tão especial.

Conseguiria eleger uma cena que marcou muito, artística e pessoalmente?
Gosto muito da sequência de duas cenas que fiz com a Beatriz e com o Enrico: na primeira, na sala dos Bolgari, Cláudio expulsa Enrico de casa. Em seguida, sozinho na biblioteca, o pai não contém a dor e chora, enquanto a amorosa Beatriz o aguarda no corredor.

Qual é o peso desse papel para sua carreira, já que o público sempre o enxergou como galã?
A função do galã, além de difícil e inglória - porque os galãs costumam ser politicamente corretos e previsíveis -, tem prazo de validade e tem mais a ver com atores jovens. Galãs velhinhos são tão ridículos quanto aquelas mulheres que recusam o próprio envelhecimento e querem parecer eternas garotinhas. Já era hora de me reinventar e buscar novos caminhos. "Fina Estampa" me deu a primeira oportunidade de fazer isso com o Pereirinha. Agora, "Império" me trouxe o Cláudio e meu trabalho ficou estimulado para novos desafios.

Quais rumos você gostaria que a história tomasse? Você acha que ainda falta discutir muitos pontos?
Meu prazer como ator de novela é me surpreender com o que o autor escreve para mim. Esse é, também, o prazer do público. Não costumo dar palpites no trajeto dos meus personagens, não me responsabilizo pelo que vem por aí. Aguinaldo é um mestre na arte da novela e sei que ele ainda tem muita coisa importante para discutir. O direito à privacidade, por exemplo, é um tema atual e muito oportuno, sobretudo na nossa época, tão afeita ao exibicionismo besta das redes sociais.

Essa onda de conservadorismo assusta?
O conservadorismo costuma andar de braços dados com o preconceito. Para lutar contra ele, só há o caminho da educação, da cultura e da informação.

 

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