Como nasceu o seriado "Dupla Identidade"?
Nasceu da observação de que faltava esse gênero na nossa TV: o suspense psicológico, que é tão popular no cinema, na literatura policial e nas séries internacionais. Achei que estava na hora de trazer para a telinha as personagens tradicionais do gênero e que, de certa forma, permanecem desconhecidas do público da TV aberta: o serial killer e o caçador de mentes.
O que você usou como base para criar o serial killer? Livros? Séries estrangeiras?
Observei como as séries e os filmes tratavam do assunto. Assisti a alguns documentários que entrevistavam serial killers famosos, como Gacy, BTK, Ted Bundy e Jeffrey Dahmer. Li o livro do Robert Ressler, um caçador de mentes que criou no FBI um departamento todo voltado para o estudo da mente dos serial killers, para entender como eles trabalhavam. Essa foi a base. O serial killer é um tipo de criminoso específico e que se presta muito à dramaturgia: por isso, está presente em grande quantidade na literatura policial clássica, no cinema e nas séries mais populares da TV a cabo. Ele é um adicto: da mesma forma que alguém se vicia em drogas, em álcool, em jogo, ele se vicia no ato de matar. E, como agride pessoas que não conhece, que não têm a menor ligação, fica fora das motivações tradicionais conhecidas pela polícia. A identificação de um serial killer exige caminhos diferentes de investigação. E aí entram os caçadores de mentes, que vão ter que seguir pistas não materiais para encontrá-lo. Usar o raciocínio.
De alguma forma, a delegada Helô, de "Salve Jorge", deu um ‘start’ para que você escrevesse uma trama policial?
Não, não. A delegada Helô integrava a polícia comum, essa que nós conhecemos do noticiário e do nosso dia a dia. O caçador de mentes é outra categoria. De modo geral, são psicólogos ou psiquiatras especializados em seguir os rastros deixados pela mente. A ideia de fazer um suspense psicológico é antiga, desde o meu fascínio adolescente por Sherlock Holmes, Hercule Poirot, Miss Marple, enfim, os detetives dos clássicos do gênero, que são os pais e avós dos caçadores de mentes de hoje.
"Dupla Identidade" também trata da Síndrome de Borderline, através da personagem de Débora Falabella. A ideia também é fazer um alerta sobre esse transtorno?
Não é um tema que possa ser aprofundado, como seria numa novela, mas com certeza vai chamar a atenção para um transtorno que atinge um grande número de pessoas. A doença é muito pouco falada e compreendida. Incrível a quantidade de mensagens que recebo de pessoas borders ou que convivem com borders. Descobri na internet uma garota que fez um blog (http://borderline-girl.blogspot.com.br) e um canal no YouTube para compartilhar a experiência de ter o transtorno. Entrei em contato com ela, e ela tem sido essencial para a composição da Ray.
Muitos autores não escondem que preferem escrever seriados do que novelas. Qual é a sua preferência?
São prazeres muito diferentes, que não dá para comparar.
A trilha sonora é do Sepultura. Foi você quem escolheu?
A escolha foi do (diretor) Maurinho. Mas aplaudi de pé. A trilha do Andreas Kisser é fantástica também.
As cenas dos primeiros capítulos são bem fortes. A intenção era chocar?
Muito pelo contrário! São cenas características do gênero e infinitamente mais brandas do que aquelas que a gente vê em "Dexter", em "Hannibal" e em outras séries que todo mundo acompanha sem se chocar com nada.
Na coletiva de imprensa, quando foi perguntado se a inspiração era em Guilherme de Pádua, você não quis responder. Por quê?
Será que ainda não ficou claro que o assunto da série é um serial killer? Ou ainda não ficou claro o que é um serial killer?
Você já tem em mente o tema de sua próxima novela?
Ainda não, mas estou preparando uma outra série, um retrato de mulher, nada a ver com o gênero policial. Bom, é cedo para falar disso.
O Edu, personagem de Bruno Gagliasso, vai terminar a trama se convertendo a alguma igreja evangélica?
Um serial killer convertido ao que quer que seja? Que imaginação fértil, Leo! Depois quem “avoa” sou eu (risos).
Em quem você vai votar para presidente nas próximas eleições?
O voto é secreto. E você?
Qual é a avaliação que você faz de "Salve Jorge"?
Foi uma novela ousada e inovadora. Ousou trazendo como cenário central uma favela real, que foi o Complexo do Alemão, e não qualquer favela. Retratamos um momento de paz e esperança que, infelizmente, não se concretizou. Ousou apresentando uma protagonista favelada e prostituída, e trouxe a conhecimento público um crime que cresce e se expande a cada dia: o tráfico internacional de pessoas. "Salve Jorge" tem feito uma bela carreira lá fora, embora isso não seja divulgado por aqui.
Bruno Gagliasso é o galã mais talentoso do Brasil?
O Bruno é um ator que apaixona qualquer autor. É visceral, veste a pele da personagem que se propõe a fazer, mergulha sem medo nas emoções e nas visões de mundo que não são as suas. Talento puro!
O que você pode falar sobre sua próxima novela?
Por enquanto, nada. Ainda não comecei a pensar nela.
"Dupla Identidade" vai ocupar uma faixa que era do seriado "O Caçador", um sucesso no horário. A responsabilidade de vir depois de um sucesso de público é maior?
É sempre melhor vir depois de um sucesso. ‘O Caçador’ foi uma série excelente, que cativou um público para o horário.
O episódio piloto de "A Diarista" foi escrito por você. O que te fascina mais? Escrever uma comédia com personagens que vivem no subúrbio ou uma trama policial com requintes de crueldade?
O que me fascina é escrever sobre a variedade das experiências humanas. É o que tenho buscado nos meus trabalhos.
Para finalizar, dê três motivos para que as pessoas assistam à "Dupla Identidade".
O que nós esperamos é que as pessoas gostem do gênero e se divirtam muito acompanhando o jogo de gato e rato entre o serial killer e seus perseguidores. Queremos cativar aqueles que ainda não conhecem o gênero. Quem é fã da literatura policial clássica, já tem fascínio pela maneira como Sherlock Holmes ou Poirot usam o raciocínio lógico e o método dedutivo para descobrir o criminoso, e vai gostar de ver como esses métodos são usados hoje pelo FBI.
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