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terça-feira, 8 de julho de 2014

Sucesso de "Avenida Brasil" na Argentina mostra que a Rede Globo deixou passar oportunidade de renovar sua dramaturgia

Nos próximos dias, os argentinos terão um problema para lidar além da tensão da Copa do Mundo. Depois da exibição de um último capítulo acompanhado por multidões em arenas, os hermanos terão de se acostumar a viver sem a companhia de Nina (Débora Falabella), Carminha (Adriana Esteves), Tufão (Murilo Benício) e companhia e não estabelecer comparações com outros personagens de novela. É um processo difícil, quase de luto para os espectadores contumazes de folhetim. Boa parte dos brasileiros passou pelo mesmo processo. Escrita por João Emanuel Carneiro, "Avenida Brasil" foi um marco nesta década e até hoje é vista como um ponto de virada na teledramaturgia nacional. Tudo certo, não fosse pelo fato de que tal revolução não mudou muita coisa.
Olhando em retrospecto, é possível afirmar que a TV Globo perdeu a grande chance de renovar sua principal faixa de novelas. A ousadia da trama de vingança que parou o país para descobrir o assassino de Max (Marcello Novaes), deu lugar a "Salve Jorge", folhetim que seguiu fórmulas batidas e acabou virando chacota pelos muitos furos de roteiro. Depois veio "Amor à Vida", que apesar do primeiro capítulo eletrizante, virou um amálgama mal sucedido de tramas prejudicadas pela condução pouco aprofundada e pelo texto didático. Atualmente, o público precisa segurar o sono ao passear pelo Leblon de Manoel Carlos com "Em Família" e sua longas cenas nas quais nada acontece.
É de se admirar que a Globo, depois de uma pretensa revolução causada por "Avenida Brasil", tenha perdido a chance de investir em projetos mais arrojados para a faixa e recorrido a histórias em moldes tradicionais. Até mesmo tecnicamente houve retrocesso. Há um abismo entre a direção de "Avenida" e "Salve Jorge", por exemplo. A emissora poderia ter aproveitado os caminhos abertos por João Emanuel Carneiro para entender que os espectadores não querem mais do mesmo. Querem novidade e ousadia. Insistir em moldes antigos é perda de tempo. Desde a história de Carminha uma novela das nove não registra números acima dos 40 pontos por dias seguidos antes mesmo de sua metade. Os números não mentem: o público quer renovação. E a Globo deixou a oportunidade passar.


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