Depois de passar anos anunciando ao espectador e ao mercado publicitário que seguia “a caminho da liderança”, e pavimentar essa trajetória com índices crescentes de audiência e faturamento, a Record sentiu a necessidade de colocar os pés no chão e adequar-se aos novos tempos.
A diminuição do ritmo de crescimento e a queda dos investimentos publicitários levaram a emissora, que completa 60 anos em setembro, a uma profunda reavaliação de custos e do modo de operação, cujos efeitos já puderam ser percebidos na semana passada, quando mais de 300 funcionários foram desligados do RecNov, o centro de produção de dramaturgia da emissora, no Rio de Janeiro.
Responsável pela Rede Record desde janeiro de 2005, o presidente Alexandre Raposo admite que o cenário atual da economia tornou inviável a manutenção dos investimentos e que a redução do quadro de funcionários, a maior adoção do modelo de coprodução e uma revisão total dos custos são necessários para manter a emissora em sua trilha.
Na quinta-feira, 6, três dias depois de Raposo ter concedido esta entrevista ao Meio & Mensagem, a Record teve mais uma baixa. O apresentador Gugu, dono de um dos mais altos salários da casa, fez um acordo para deixar a emissora. No comunicado, a Record diz que “devido às mudanças de condições de mercado e a abertura de novas oportunidades, Gugu acredita ser o momento de investir em produção independente inclusive através de sua produtora GGP”. Confira, abaixo, trechos da entrevista de Alexandre Raposo.
A íntegra está publicada na edição 1563, de 10 de junho, exclusivamente para assinantes, disponível nas versões impressa e para tablets do Meio & Mensagem.
Meio & Mensagem ›› De que maneira a Record fará a otimização dos seus custos?
Alexandre Raposo ›› Os custos precisam acompanhar essa realidade. O País vem de promessas de crescimento, com um PIB muito baixo. O consumo das famílias também caiu e a inflação está mais alta. Nós percebemos essa realidade; é bem visível. Os anúncios diminuíram, e não somente na televisão, mas em todas as mídias, como jornais, revistas, etc. Todo esse conjunto nos obrigou a ter um novo posicionamento e otimizar nossa linha de produção. Vamos buscar parceiros para coproduzir com custos mais interessantes e reestruturar os produtos que não têm rentabilidade necessária. Claro, temos um cuidado muito grande com a nossa grade, porém, inevitavelmente, vamos ter de mexer no pessoal.
Meio & Mensagem ›› — Qual será a política desses cortes?
Alexandre Raposo ›› Quando se fala em custos, automaticamente tem de falar em pessoas. Sempre digo que a penalização de um grupo menor de pessoas serve para preservar muitas outras famílias. Quando pensamos em fazer uma redução de 5% do nosso custo significa que iremos preservar 95% da nossa estrutura e dos nossos colaboradores. Esse corte, claro, não significa somente funcionários, mas boa parte da redução afeta o nosso pessoal (a estrutura da Rede Record, que chegava perto dos 6.500 funcionários, deverá ser reduzida para 6 mil colaboradores). Em um primeiro momento a Record tentou manter seu modelo original de operação, mas hoje é necessário otimizar a produção e, assim, ter um custo bem mais adequado à realidade.
Meio & Mensagem ›› Os projetos de coprodução fazem parte desse modelo de administração mais enxuta?
Alexandre Raposo ›› Coprodução é uma tendência e a Record já faz há muito tempo. Temos de aproveitar essas leis de incentivo e dar oportunidade às produtoras, pois estas merecem e fazem produtos excepcionais, de muita qualidade. A Record sempre acreditou nesse modelo. Queremos que essa prática seja mais difundida no Brasil, assim como é em outros países.
Meio & Mensagem ›› Na década de 2000 a Record qualificou sua programação, fazendo grandes investimentos em infraestrutura, em tecnologia e em contratações de elenco. Isso, obviamente, demandou muitos recursos financeiros. Acredita que parte desse investimento foi mal direcionada?
Alexandre Raposo ›› A Record não chegava em todo o Brasil há dez anos. Esses investimentos foram necessários e nos trazem benefícios até hoje: temos a segunda maior cobertura do Brasil. Assim como não há qualidade, agilidade no jornalismo e capacidade de fazer eventos como Olimpíada e Jogos Pan-Americanos sem uma boa estrutura tecnológica. Não planejamos a Record para um ou dois anos, mas para 20, 30 anos. Com isso, conseguimos credibilidade, audiência e faturamento. Embora existam riscos em qualquer atividade, diria que acertamos em praticamente todos os projetos. O que fizemos nos trouxe uma qualidade que, a meu ver, só duas emissoras no Brasil possuem: nós e a Rede Globo.
Meio & Mensagem ›› Quando a Record investiu em sua programação, na década de 2000, houve uma clara percepção de reprodução do estilo dos programas da Globo. Vocês tiveram a emissora concorrente como parâmetro?
Alexandre Raposo ›› Nós buscamos um padrão internacional de áudio e vídeo e encontramos um padrão que só a Globo fazia no Brasil. Daí surgiu a percepção de que copiamos. Fizemos várias pesquisas e o espectador indicou preferência por uma grade muito semelhante à do nosso principal concorrente (Globo). E em muitos outros pontos eles também se inspiraram em exemplos nossos. Acho, portanto, que a Record trouxe modernidade à televisão e isso é muito bom para o negócio. Fico satisfeito em ver que, hoje, uma empresa do porte da Globo já fica atenta para as nossas movimentações.
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