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domingo, 27 de novembro de 2011

Ex-manda-chuva da Rede Globo, Boni lança livro de memórias

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José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (foto), o Boni, por mais de 30 anos foi o todo-poderoso da Rede Globo. É considerado um dos fundadores da TV brasileira moderna, ao lado de Walter Clark.
Boni também integrou as áreas de produção, entretenimento e jornalismo e teve papel fundamental no projeto de integração nacional. Se hoje a Globo detém 45% da audiência e 72% do faturamento publicitário das TVs, deve boa parte disso a ele.
Atual diretor da TV Vanguarda, retransmissora da Globo na região do Vale do Paraíba, precisou de quatro meses para colocar em mais de 400 páginas suas memórias profissionais, "O Livro do Boni" (ed. Casa da Palavra).
Boni, 75, recebeu a Folha em seu escritório no Rio.

Como compara a televisão do seu tempo com a de hoje?
Boni - Acho que se perdeu muito do espírito artístico da coisa. A TV Globo teve três fases: a primeira, a minha, em que o artístico comandava a empresa. Depois, a da Marluce [Dias, 1997-2002], em que o administrativo comandava. Hoje temos a fase do Octavio Florisbal, que ao menos é mais saudável, na qual o comercial comanda. No meu entender, a finalidade última da TV é artística. Não pode estar a serviço do mercado.

As novelas estão em crise, perdendo audiência.
Antes havia mais densidade: diálogos maiores, interpretação melhor, direção mais sofisticada, menos gritos. Era menos superficial.

O futuro estaria nas sitcoms?
A novela não se exauriu. O problema é que hoje há uma repetição exaustiva da fórmula. E se produz demais. Fica tudo com cara de minissérie. A sitcom é muito difícil de acertar, a gente não domina. Não há nada mais difícil do que escrever comédia de situação.


A grade da Globo continua parecida com a que você criou há 40 anos.
Essa grade de hoje já foi pro espaço. O modelo de TV que a gente segue atualmente está exaurido. Vai existir por mais um tempo, mas, com internet e TV a cabo, é fundamental mudar. No futuro, ninguém vai ficar sentado esperando que a TV passe um programa. Serão modificações radicais.

Onde visualiza o futuro da comunicação?
Evidente que venho correndo pra internet. Especialmente aplicativos para dispositivos móveis onde se tem a possibilidade de acesso imediato e específico daquilo que você quer. Vejo que o futuro esta aí nos tabletes, smartphones e smart-TV. A TV não vai morrer, como continuou a existir o rádio. Mas precisa se reinventar. 

E a publicidade?
O negócio do anúncio de 30 segundos morreu. Note que as garotas propaganda voltaram: outro dia vi Ana Maria Braga fazendo uma propaganda-reportagem que durou quatro minutos.

E as Olimpíadas na Rede Record?
Do ponto vista de audiência, não será importante. Mas do prestígio, sim. A emissora líder não pode perder isso.

O que acha de programas como o "Chaves"?
Eu não teria na Globo, mas não acho que os "Trapalhões" sejam diferentes.

E Silvio Santos?
É o "Chaves", de novo você está me perguntando a mesma coisa.

E o "Big Brother Brasil"?
Eu teria escondido, embora o Boninho faça o melhor "Big Brother Brasil" do mundo inteiro. Mas eu não quero ouvir aquele texto, em dois minutos tenho vontade de quebrar a TV.

E o "CQC"?
Eles gritam muito, se "paniquerizaram".

E do que você gosta?
Notícias, jornalismo. E "Mad Man", "House".


Como foi a relação da TV Globo com o governo militar?
Dr. Roberto ficou entre a cruz e a espada. Ideologicamente, sempre apoiou a economia de mercado. Gostou que os militares vieram para evitar o comunismo. Mas, depois do AI-5, viu que aquilo ia demorar e ficou aflito. Passou de poderoso para ameaçado.

Por que você saiu da Globo?
Saí no auge do lucro, do controle orçamentário e da qualidade, porque saí não sei (risos).


Qual é o lado B do Boni?
Triturei minha vida pessoal trabalhando. Das três famílias que tive, pelo menos duas botei no liquidificador.

Morris Kachani
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