Estava a caminho do trabalho, preso no trânsito das proximidades da avenida Paulista, em São Paulo, quando ouvi pelo rádio que o Pentágono havia sido atingido por um avião. Àquela altura, imagens das Torres Gêmeas perfuradas por aeronaves já ocupavam a programação das TVs.
Fiquei impressionado com o relato do então correspondente da rádio Bandeirantes em Washington, Eduardo Castro. Ele informava o que via pela janela de um apartamento ou escritório como se estivesse um front de guerra.
Falava de fumaça, correria de bombeiros, caos.
Foi então que caiu a ficha. Pensei que era o início de uma guerra, talvez da 3ª Guerra Mundial, midiática, ao vivo pela TV. Era uma resposta à política internacional dos EUA. Ficava a imaginar como os terroristas conseguiram ser tão ousados, o pavor de quem estava dentro dos aviões.
Queria mesmo era chegar logo no trabalho. Teria de concluir a coluna de televisão da Folha de S.Paulo dentro de três horas e os ataques mudavam quase tudo o que eu já havia planejado na véspera. Era preciso se informar melhor sobre a cobertura das redes brasileiras e obter dados de audiência.
A cobertura dos ataques terroristas tiveram impacto imediato na TV brasileira.
A média diária de televisores ligados na Grande São Paulo naquele 11 de setembro de 2001 foi de 51%, uns cinco pontos percentuais a mais do que a de um dia comum. Um índice alto, mas que logo seria superado pela cobertura do episódio em Silvio Santos foi mantido refém por um bandido que invadira sua casa.
A TV também sofreu impacto negativo. Como eu noticiei na coluna Outro Canal, a publicidade caiu cerca de 20% na TV aberta em setembro de 2001. Muitas empresas cancelaram campanhas, porque não eram mais adequadas à realidade mundial ou porque temiam queda no consumo.
A Rede Globo foi, de longe, a emissora que mais teve temor quanto aos aos desdobramentos do 11 de Setembro. A emissora, na época, se preparava para lançar "O Clone", uma novela que tratava justamente da cultura muçulmana, parcialmente ambientada em Marrocos.
A emissora chegou a tirar do ar chamadas da novela que mostravam o núcleo liderado pelo Tio Ali (Stênio Garcia). Na época, recebi informes de que setores da emissora até cogitaram cancelar a estreia da produção, temendo reação negativa da audiência por causa da vilanização dos muçulmanos. Na festa de lançamento da novela, sob o vão livre do Masp, em São Paulo, havia um forte esquema de segurança.
Bobagem. Era uma novela de Glória Perez. O que importava era o Romeu e Julieta um tanto exótico. A novela, como se sabe, estreou no início de outubro de 2001. E foi um dos maiores sucessos da década passada.
10 anos depois
Estive em julho em Nova York. Passados 10 anos, as marcas dos ataques terroristas ainda estão expostas. Por toda a cidade, você vê adesivos alusivos ao Memorial do 11 de Setembro. No local em que ficavam as Torres Gêmeas, erguem-se agora novos arranha-céus, porém as crateras dos antigos edifícios permanecem abertas.
Turistas circundam os tapumes do World Trade Center - alguns aproveitam para fazer compras em uma loja que vende produtos com descontos, muito famosa, ou para adquirir bolsas falsificadas vendidas por camelôs.
Nos passeios rumo à Estátua a Liberdade, que partem a poucos quarteirões dali, são inevitáveis os comentários sobre as Torres Gêmeas. Assim que a balsa se afasta, e o imponente skyline do sul de Manhattan se revela nítido, é impossível não buscar o local onde antes estavam as Torres Gêmeas. Apesar da nova torre que surge no lugar, já quase toda envidraçada, permanece um grande vazio.
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