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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Crítica: "Afinal, o que Querem as Mulheres?" parece cinema


"Afinal, o que Querem as Mulheres?", série que estreou no final da noite da última quinta-feira na TV Globo, parece cinema. Não fosse a narrativa e a temática, poderia-se compará-la até a um seriado de TV americana, tal a qualidade de produção.
A série traz a assinatura (no texto final e na direção) de Luiz Fernando Carvalho, de longe o diretor mais ousado da teledramaturgia brasileira. Ele esteve por trás das câmeras na minissérie "Os Maias" (2001), considerada por muitos críticos uma obra-prima, e da hermética "A Pedra do Reino" (2007), que tiveram problemas com o ibope.
Dirigiu também "Hoje é Dia de Maria" (2005/2006), em que experimentou uma cenografia artesanal. Em 2008, colocou a banda punk Sex Pistols na trilha sonora de "Capitu", adaptação da obra de Machado de Assis. Carvalho também é do cinema. É dele "Lavoura Arcaica" (2001), um dos melhores filmes brasileiros dos anos 2000.
"Afinal, o que Querem as Mulheres?" é uma incursão de Luiz Fernando Carvalho na comédia, ou de algo próximo disso, em uma narrativa veloz e contemporânea, que procura se aproximar da linguagem das redes sociais.
Nela, André Newmann (Michel Melamed), um pesquisador de psicologia, se propõe em sua tese de doutorado a buscar respostas para a pergunta do título, inspirada em um questionamento de Sigmund Freud (1856-1939).
Absorvido pelos estudos, o infantil e patético André deixa de lado a própria mulher, Lívia (Paola Oliveira), que o abandona. Sua tese, no entanto, se tornará um enorme sucesso e será transformada em série de TV, em que André será interpretado por um Rodrigo Santoro idealizado pela imprensa de celebridades.
Carvalho ambienta essa história de seis episódios em Copacabana, bairro carioca que reveste de poesia visual. Chama a atenção logo de cara a fotografia, em que predominam cores fortes, como o azul, o verde e o vermelho - um truque simples de iluminação (os holofotes recebem uma película de plástico colorido).
O figurino e a fotografia são assumidamente inspirados numa estética kitsch, exagerados, vintage, e nos remetem a décadas passadas. A trilha sonora traz um pop que flerta com o brega, como que a reforçar que a paixão nos torna ridículos. A balada "A Whiter Shade of Pale", clássico da banda britânica Procol Harum, é a música tema da série, mas poderia estar também em uma produção erótica.
Há momentos de maior ou menor alucinação. Osmar Prado se transforma em Freud, mistura de orientador de doutorado e psicanalista do protagonista. Freud é um boneco que ganha vida em stop motion, técnica de animação que se alterna com cenas em que a câmera se movimenta como se fosse uma tomada de cinema.
"Afinal, o que Querem as Mulheres?" parece cinema, mas é "só" televisão brasileira de alta qualidade.

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