Registrada pela Globo, a queda de um helicóptero da Record no Jockey
Club de São Paulo, em fevereiro de 2010, foi causada pela falta de
inspeções rotineiras. A informação está em relatório do Cenipa (Centro
de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). O piloto Rafael
Delgado Sobrinho morreu no acidente.
Segundo o laudo, a queda foi consequência de uma instalação incorreta
de peças no rotor da cauda da aeronave. Um mecânico citado no texto do
Cenipa afirma que o erro é tão "grosseiro" que seria impossível não
notá-lo em inspeções usuais.
As checagens, porém, não eram realizadas com a frequência necessária.
Os registros apontam que a Helibras, empresa responsável pela
manutenção da aeronave, dava um "jeitinho" para marcar diversas
vistorias rotineiras de uma só vez.
No momento da última manutenção de 100 horas, por exemplo, foram
feitas também a de 7 dias e as de 25, 30 e 50 horas. "Foi constatado que
o operador do helicóptero tinha por conduta parar a máquina apenas para
fazer as inspeções de 100 horas e, nessa oportunidade, eram cumpridas
as demais", informa o laudo.
Não havia registro de realização das inspeções pré-voo, intervoo e
pós-voo no diário de bordo da aeronave, aponta o laudo. Por fim, a
lavagem do compressor do helicóptero após todos os dias de uso, indicada
no manual de manutenção do motor, também não havia sido anotada. "Elas
não eram cumpridas; ou, pelo menos, não eram registradas conforme
previsto", informa o documento, finalizado em abril do ano passado, mas
inédito até agora (
clique aqui e baixe o PDF).
A investigação apontou que a manutenção (ou falta de) teria sido um
dos fatores que contribuíram para a queda da aeronave, assim como a
cultura dos pilotos de pensarem que a falta de inspeções diárias não
traria maiores problemas. No dia anterior ao acidente, o piloto Rafael
Delgado havia dito que teve dificuldades para pousar o helicóptero, mas a
reclamação não foi anotada e não houve verificação preventiva para
definir as causas do problema.
Na época do acidente, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)
informou que tanto os documentos quanto as vistorias do helicóptero,
chamado pela emissora de Águia Dourada, estavam em dia, o que difere do
apontado pelo relatório investigativo. A assessoria de comunicação da
Aeronáutica informou que a investigação não buscava culpados pelo
ocorrido, mas dados para tornar a aviação mais segura.
Procurada pelo
Notícias da TV, a assessoria de
imprensa da Helibras informou que a diretoria de segurança operacional
da empresa, que auxilia em casos de investigações já concluídas, está de
férias e seria difícil contatar os responsáveis para comentar o caso.
Já a Record não respondeu à reportagem.
No momento da queda, o Águia Dourada tinha dois tripulantes: Rafael
Delgado Sobrinho, que morreu na hora, e o cinegrafista Alexandre da
Silva Moura, o Borracha, que passou 44 dias internado no hospital antes
de receber alta e retomar a rotina _ele segue no mercado de filmagens
aéreas, mas agora trabalha com drones.
O acidente ganhou grande projeção porque foi filmado pelo Globocop. O
piloto do helicóptero da Globo pousou sua aeronave e tentou socorrer o
colega.