Inaugurada há nove anos com a missão de "democratizar a comunicação",
como discursaram o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o
bispo Edir Macedo, a Record News vai deixar de ser "news" e voltar ao
que era antes de se tornar o primeiro canal de notícias da TV aberta:
uma emissora de programação loteada focada no público feminino. O canal
do grupo Record contratou uma agência de publicidade para produzir
programas patrocinados e vender horários para eventuais interessados.
A agência, a Rai, já tem um programa na grade da Record News, o "Elas
Comandam", um feminino gravado no cenário de uma cozinha de showroom,
onde, em tese, pode-se vender de tudo. Novos programas de culinária,
saúde e empreendedorismo estão em gestação.
Se o plano der certo, a Record News voltará a ser parecida com a TV
Mulher, como era antes de 2007, com a diferença do nome e de um
telejornal ancorado por Heródoto Barbeiro. Os executivos da emissora até
cogitaram mudar o nome para RN, porque não ficaria bem uma TV feminina
com identidade de canal de notícias. Mas o bispo Edir Macedo vetou a
alteração.
Juridicamente, a Record News está cada vez mais se desvinculando da
TV Record e voltando a ser TV Mulher, empresa que detém a concessão
cabeça-de-rede, em Araraquara, no interior de São Paulo. Contratações de
funcionários já estão sendo feitas pela TV Mulher.
A nova orientação da Record News assustou os empresários que possuem
emissoras regionais afiliadas ao canal e profissionais que ainda
trabalham nos telejornais. Todos temem pelo futuro da TV - muitos lembram
que a TV Mulher foi uma emissora que não deu certo.
A mudança atesta que a Record News também fracassou. Lançado em 27 de
setembro de 2007, com a presença do então presidente da República e de
Edir Macedo, o canal recebeu investimentos apenas nos primeiros anos.
Ambiciosa, a ideia do líder da Igreja Universal era o "fim" do
"monopólio" da informação exercido pela Rede Globo e "dar às pessoas o
direito de se informarem por um outro canal de notícia e formarem
opinião por si mesmas".
Nos primeiros meses, além de telejornais e boletins durante todo o
dia, a programação tinha talk shows e revistas culturais. Em 2011, numa
tentativa de revitalizar a Record News, a Record contratou o jornalista
Heródoto Barbeiro (ex-CBN e TV Cultura) e um time de comentaristas para
um telejornal mais analítico. O projeto, no entanto, não vingou: a
Record News não tinha equipes de reportagem, e todos os jornais que
levava (e ainda leva) ao ar eram feitos com material da Record e de
afiliadas.
Há três anos, a Record News recebeu outro golpe: perdeu o estúdio
amplo em que produzia todos os seus telejornais, em uma newsroom, e
mudou para uma instalação mais modesta. O futuro, ao que tudo indica,
será ainda pior.