“Teve um tempo de me convencer, de ver que podia dar conta”, diz com exclusividade à coluna.
O trabalho em “Verdades Secretas” é a volta da atriz após “Império”, novela que precisou abandonar antes do fim por problemas de saúde.
Na trama das 23h, ela é Carolina, mãe de Angel, modelo que integra um “book rosa” (catálogo com garotas que se prostituem).
Para o papel, Drica revela sua inspiração: “Anos de terapia! A boa terapia é o que não sai da moda”.
Leia a seguir a entrevista, na íntegra.
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Qual a característica mais marcante da Carolina?
Ela é controladora, tem um amor extremamente fiel e protetor, mas talvez não tenha sido ensinada a pensar por si. Ela tem um traço conservador que pode gerar violência em vários sentidos.
O que acha dessa reação conservadora às novelas?
A TV deve e pode refletir a sociedade. Tem que ter limite de horário para alguns conteúdos, mas não a alienação da família. O controle remoto não tá na mão da criança, e é esse poder que os pais não conseguem mais instituir em casa. E começam a se ausentar da responsabilidade ao criticar extremamente a TV.
Sou da turma que defende que as coisas possam ser ditas, com responsabilidade, e possam ser vistas sempre. Onde essas pessoas colocam o direito delas de desligar a TV, trocar de canal?
Conhecia o “book rosa”?
Sim, mas é o tipo de coisa que me violenta tanto que prefiro não saber. Essa coisa de vender barato seu ouro é cruel. Sei que tem de tudo, prostituição física, mental. É sempre muito duro ser adolescente. Criar sua identidade, se aceitar, se gostar.
A novela falará muito do consumismo, das aparências…
É a TV, é a sociedade, é o capitalismo. Mas é a família. Pai e mãe têm que botar limite, é um gesto de amor. Quando falo pro meu filho [Matheus, 6] que ele terá três chuteiras, apesar de me pedir uma por semana, é limite. A falta desse limite é um gesto de abandono. Botar pra escola cuidar, pra babá criar.
A dramaturgia deve ter uma função social?
Ela exerce essa função querendo ou não, porque você tá ali jogando luz sobre algumas coisas. A TV é sempre referência de conduta, de valores, de moda. Dentro desses horários reservados para exibição de certos conteúdos tem mais que mostrar o ser humano inteiro, completo.
E a função dos pais e da família é não terceirizar a educação do filho, mas dividir com a televisão, com os professores, a escola, os valores que são demonstrados.
Você chegou a temer algum tipo de boicote à novela?
Não, penso em fazer meu trabalho. Eu tenho um filho de seis anos e falei pra ele que essa novela não iria ver. Deixei ele ver uns pedaços do primeiro capítulo pra saber onde eu trabalho, com a combinação de que determinadas coisas ele não veria. Aqui em casa tem cumplicidade e mãe que manda e filho e que obedece.
Como está sendo trabalhar com Marieta Severo?
É muito bom. A gente tem umas loucuras parecida. Carregamos sempre na bolsa uma sandalinha rasteira para não ficar de salto o dia inteiro, um lanche, uma fruta, então a gente entra com bolsas enormes no estúdio. A gente tá sempre comendo, com fome. Mas temos poucas cenas juntas. Nunca tinha trabalhado com ela.
Deu tempo para desenvolver a Carolina, se preparar?
Eu fiz uma leitura na diagonal até o capítulo 10 um pouco pra ver se eu ia dar conta daquela situação de emergência. Fiz uma conta por alto e vi que dava pra fazer sem preparações específicas porque era um personagem muito parecido comigo. Mas não teve preparação, foi mais um estudo de leitura, de buscar sutilezas, detalhes.
Em que aspecto a Carolina se parece com você?
Esse amor poderoso de mãe, essa fé no afeto que todas as mães têm. Sou muito parecida com ela porque não é uma mãe distante, fria, com uma neurose específica. Ela é bem diferente da Cora (“Império”), que tinha quase uma psicose.
Essa personagem é solar, é leve, é brejeira. Me sinto parecida com ela em muitos aspectos, mas chegar nisso não é fácil. A gente tem que ficar decifrando a cada cena.